Não é por acaso que o vidro é um material tão duro e liso, no qual nada se fixa. É também um material frio e sóbrio. Às coisas de vidro não têm nenhuma aura. O vidro é em geral o inimigo do mistério. É também o inimigo da propriedade. […] Se entrarmos num quarto burguês dos anos 1880, apesar de todo o “aconchego” que possa irradiar, talvez a impressão mais forte que ele produz seja a de que “não tens nada a fazer aqui”. Não temos nada a fazer ali porque não há nesse espaço um único ponto em que seu habitante não tenha deixado seus vestígios: os bibelôs sobre as prateleiras, as mantinhas sobre as poltronas, as cortinas transparentes atrás das janelas, o guarda-fogo diante da lareira. […] [Com a modernidade] tudo isso foi eliminado. […] O novo ambiente de vidro transformará completamente os homens.
(BENJAMIN, W. Experiência e Pobreza, p. 126-127.)