Francis Bacon foi o primeiro a falar do prolongamento da vida como novo dever dos médicos. Segundo ele, a medicina tinha tríplice missão: “Primeiro, a preservação da saúde; segundo, a cura das doenças, e terceiro, o prolongamento da vida”, e exaltava “a terceira missão que, embora nova e ainda mal realizada, era a mais nobre de todas”. A profissão médica, entretanto, não queria de modo algum enfrentar essa tarefa e torná-la sua, a não ser um século e meio mais tarde, incitada cada vez mais por uma clientela decidida a retribuir tal gênero de serviço. O novo tipo de cliente é um homem rico, que se recusa a morrer: quer ir até o extremo de suas forças e morrer em plena atividade. Não aceita a morte a não ser que ela o encontre em boa saúde, avançado em idade mas sempre ativo.
(ILLICH, Ivan. A Expropriação da Saúde. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, Cap. 8)