Mas, mesmo antes de Platão, uma condenação ou ao menos uma suspeita em relação à arte já tinha sido expressa na palavra de um poeta e ao fim do primeiro estásimo da Antígona de Sófocles. Após haver caracterizado o homem, enquanto possui a τέχνη (isto é, no amplo significado que os gregos davam a essa palavra, a capacidade de pro-duzir, de levar uma coisa do não ser ao ser), como aquilo que há de mais inquietante, o coro prossegue dizendo que esse poder pode conduzir tanto à felicidade quanto à ruína e conclui com um voto que faz lembrar o banimento platônico :
Que da minha lareira não se torne íntimo
Nem partilhe os meus pensamentos
Aquele que leva a cabo tais coisas.1
(AgambenH)
- SÓFOCLES. Antígona, v. 372-375. Para a interpretação do primeiro coro da Antígona, cf. HEIDEGGER, Martin. Einführung in die Metaphysik (1953), p. 112-23. [Ed. bras. : Introdução à metafísica. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1987. p. 170-186.] [↩]