De maneira não menos antitrágica Hölderlin pensa e vive a ausência dos deuses, pela qual ele define a condição de seu tempo. Aqueles que se detiveram na ateologia do último Hölderlin, de Blanchot a Heidegger, não cansam de citar tanto a passagem de Brot und Wein na qual o poeta declara, sem reserva, que, na despedida dos deuses, cuja plenitude o homem não é capaz de sustentar, «a errância/ ajuda, como um torpor, e tornam fortes a necessidade e a noite», assim como, sobretudo, a correção dos últimos dois versos da poesia Vocação do poeta (Dichterberuf), na qual Hölderlin afirma, também peremptoriamente, que o poeta «não precisa de nenhuma arma, de nenhuma astúcia, até a falta de deus ajuda». E, no entanto, eles parecem não se dar conta de que, com uma espécie de niilismo teológico do qual nem mesmo Nietzsche mostrou-se à altura, a morte ou a ausência de Deus não são, aqui, de nenhuma maneira, uma condição trágica, nem se trata, como no último Heidegger, de esperar outra figura do divino. Com uma intuição profunda e paradoxal, na qual realmente, ao poeta, «como ao antigo Tântalo», é concedido ver mais do que pode suportar, ele situa a despedida dos deuses na forma poética e existencial de um idílio ou de uma comédia. (AgambenLH)