No segundo livro da Física, Aristóteles distingue, porém, aquilo que, sendo por natureza (φύσει), tem em si mesmo a própria ἀρχή, isto é, o princípio e a origem do próprio ingresso na presença, daquilo que, sendo por outras causas (δι᾿ἄλλας αἰτίας), não tem em si mesmo o próprio princípio, mas o encontra na atividade pro-dutiva do homem 1]. Desse segundo gênero de coisas, os gregos diziam que ele era, isto é, entrava na presença, ἀπὸ τέχνης, a partir da técnica, e τέχνη era o nome que designava unitariamente tanto a atividade do artesão que forma um vaso ou um utensílio, quanto a do artista que plasma uma estátua ou escreve uma poesia. Ambas as formas de atividade tinham em comum o caráter essencial de ser um gênero da ποίησις, da pro-dução na presença, e era esse caráter poiético que os reconduzia e, ao mesmo tempo, os distinguia da φύσις, da natureza, entendida como o que tem em si mesmo o princípio do próprio ingresso na presença. Por outro lado, segundo Aristóteles, a pro-dução operada a partir da ποίησις tem sempre o caráter de instalação em uma forma (μορφὴ καὶ εἶδος), no sentido de que passar do não ser ao ser significa ganhar uma figura, assumir uma forma, porque é precisamente na forma e a partir de uma forma que o que é produzido entra na presença. (AgambenH)
- ARISTÓTELES. Física, 192b. Para uma iluminante interpretação do segundo livro dessa obra de Aristóteles, cf. HEIDEGGER, Martin.Vom Wesen und Begriff der φύσις. Aristoteles’ Physik, B, I. (1939), atualmente em Wegmarken (1967), p. 309-371. [Ed. bras. : A essência e o conceito de φύσις em Aristóteles – Física B, 1 (1939). In : Marcas do caminho GA9. Tradução de Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis : Vozes, 2008.[↩]