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Wahl: Filosofias da existência - generalidades

quarta-feira 23 de março de 2022

Na sua obra L’Existentialisme est un humanisme, Sartre diz que o existencialismo é uma doutrina que torna a vida humana possível e, por outro lado, declara que toda a verdade e toda a acção implicam um meio e uma subjetividade humana. Poderá o próprio Sartre considerar esta definição satisfatória? Ficamos impressionados pelo «por outro lado», que é sinal de que a própria definição é formada por membros disjuntos. Quanto ao facto de ser possível a vida humana com esta filosofia, podemos observar que todas as filosofias, excepto as de Schopenhauer   e de E. von Hartman, afirmariam que tornam a vida humana possível. E que toda a verdade e toda a ação implicam um meio e uma subjetividade humana muitos filósofos idealistas o diriam, da mesma forma que Sartre. De resto, muitos diriam que a filosofia da existência torna a vida humana impossível.

Que seja necessário partir da subjetividade das filosofias da existência, está certo, e é o mais valioso elemento desta definição, mas é necessário conhecer a maneira como nós definimos a subjetividade. Num sentido, todas as grandes filosofias, a de Descartes   como a de Sócrates  , são partes da subjetividade.

Num pequeno livro muito bem feito sobre os filósofos contemporâneos, o P. Bochenski diz que seria necessário, antes de propor uma definição, enunciar um certo número de conceitos, que seriam os conceitos da filosofia da existência, e principalmente enumerar as experiências donde ela parte, como as da angústia ou da náusea.

Esta observação é justa. Pode-se dizer, para retomar um elemento da definição de Sartre, que esta filosofia parte da subjectividade colhida em certas experiências como a da angústia (Embora G. Marcel pareça não partir da angústia, se falarmos rigorosamente.). Estas filosofias definem-se por um clima, por certas fases das experiências particulares.

O P. Bochenski chama também a atenção para — e a observação é igualmente justa— o facto de os filósofos da existência contestarem a separação entre o sujeito e o objecto. Há aqui realmente qualquer coisa que é importante, mas o seu fim essencial é ultrapassar esta alternativa.