Página inicial > Schopenhauer, Arthur > Schopenhauer (ES) – responsabilidade

Schopenhauer (ES) – responsabilidade

terça-feira 14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

tradução do inglês

Pois há outro fato de consciência que até agora deixei completamente de lado para não interferir no processo de minha investigação. Esse é o sentimento totalmente claro e certo da responsabilidade pelo que fazemos, da prestação de contas por nossas ações, que repousa na certeza inabalável de que nós mesmos somos os atores de nossos atos [os fazedores de nossos fatos]. Em virtude desta consciência, nunca entrará na cabeça mesmo daquele que está totalmente convencido da necessidade (apresentada acima) com a qual nossos atos têm lugar, fazer esta necessidade justificar uma transgressão e deslocar a culpa dele mesmo para os motivos, argumentando que, quando estes entraram em ato, foi inevitável [aquele fazer]. Pois ele vê muito claramente que esta necessidade tem uma condição subjetiva, e que objetivamente, isto é, nas circunstâncias existentes, portanto sob a influência dos motivos que determinaram a ele, uma ação bem diferente, com efeito, uma ação exatamente oposta àquela desempenhada era possível e poderia ter acontecido, se ele fosse outro - isso por si só o impedia de fazer outra coisa. Para ele, porque ele é esse homem e não outro, porque ele tem tal e tal caráter, nenhum ato diferente foi com certeza possível; mas em si mesmo, isto é, objetivamente, era possível. Portanto, a responsabilidade pela qual ele está consciente recai sobre o ato apenas provisionalmente e ostensivamente, mas basicamente recai sobre seu caráter - por isto ele se sente responsável. E é por seu caráter que os outros também o fazem responsável; o veredicto deles abandona imediatamente o ato, a fim de estabelecer as características do agente: "ele é um homem mau, um vilão" ou "ele é um patife" ou "ele é uma alma pequena, falsa e desprezível" - assim corre seu veredicto e censuras deles recaem sobre seu caráter. O ato, juntamente com o motivo, é considerado nessa conexão apenas como uma testemunha do caráter do agente, mas é todavia considerado um sintoma seguro deste último, através do qual é irrevogavelmente e estabelecido para sempre.

Aristóteles   diz, portanto, de maneira bem correta: “Portanto, é somente quando um homem já fez algo que nós lhe concedemos elogios. No entanto, os atuais atos são uma evidência do caráter do ator: mesmo se um homem não tenha realmente feito uma determinada coisa boa, devemos elogiá-lo, se tivermos certeza de que ele é o tipo de homem que faria isso.” Portanto, o ódio, a aversão e o desprezo não se apoiam no ato transitório, mas nas características persistentes do agente, isto é, no caráter do qual eles surgiram. Isto explica por que em todas as línguas os epítetos da maldade moral, os nomes abusivos que a descrevem, são predicados dos homens e não de seus atos. Eles estão apegados ao caráter, e o caráter deve suportar a culpa pela qual foi condenado apenas pela força de seus atos.

Onde jaz culpa, aí deve jazer também responsabilidade e, uma vez que este é o único dado que nos permite inferir liberdade moral, liberdade também deve ter o mesmo localização, a saber, no caráter do homem; quanto mais nos convencemos suficientemente de que não pode ser encontrado imediatamente em ações individuais, que têm lugar em estrita necessidade quando o caráter é assumido. Mas o caráter [...] é inato e imutável.

Konstantin Kolenda

For there is another fact of consciousness which until now I have left completely aside in order not to interfere with the process of my investigation. This is the wholly clear and certain feeling of the responsibility for what we do, of the accountability for our actions, which rests on the unshakable certainty that we ourselves are the doers of our deeds. By virtue of this consciousness it will never enter the head of even the one who is fully convinced of the necessity (set forth above) with which our actions take place to make this necessity excuse a transgression and to shift the blame from himself to the motives, arguing that when they entered in the act was inevitable. For he sees very clearly that this necessity has a subjective condition, and that objectively, that is, under the existing circumstances, hence under the influence of the motives which determined him, a quite different action, indeed, an action exactly opposite to the one he performed, was quite possible and could have happened, if only he had been another—this alone kept him from doing something else. To him, because he is this man and no other, because he has such and such a character, no different action was of course possible; but in itself, i.e., objectively, it was possible. So the responsibility of which he is conscious falls upon the act only provisionally and ostensibly, but basically it falls upon his character—for this he feels responsible. And it is for his character that the others also make him responsible; their verdict immediately abandons the act in order to establish the characteristics of the agent: “he is a bad man, a villain,” or “he is a rascal,” or “he is a small, false, despicable soul"—thus runs their verdict, and their reproaches fall back on his character. The act, together with motive, is considered in this connection only as a witness to the agent’s character, but is nevertheless regarded as a sure symptom of the latter, through which it is irrevocably and forever established.

Aristotle says therefore quite correctly: “Hence it is only when a man has already done something that we bestow encomiums upon him. Yet the actual deeds are evidence of the doer’s character: even if a man has not actually done a given good thing, we shall bestow praise on him, if we are sure that he is the sort of man who would do it.” So hate, abhorrence, and contempt do not descend on the transitory act, but on the persisting characteristics of the agent, that is, on the character from which they issued. This explains why in all languages the epithets of moral badness, the abusive names which describe it, are predicates of men rather than of their actions. They are attached to the character, and the character must bear the guilt of which it has been convicted merely on the strength of its acts.

Where guilt lies, there responsibility must lie also, and since the latter is the only datum which entitles us to infer moral freedom, freedom must also have the same location, namely, in the character of man; the more so since we convinced ourselves sufficiently that it cannot be found immediately in individual actions, which take place with strict necessity when the character is assumed. But character [ … ] is inborn and unchangeable.


Ver online : Arthur Schopenhauer