Página inicial > Sophia Perennis > Cidade divina

Cidade divina

terça-feira 30 de abril de 2024

  

Já falamos em várias ocasiões do simbolismo da "Cidade divina" (Brahma-pura na tradição hindu). É essa a forma pela qual se designa o centro do ser, representado pelo coração, que, aliás, lhe corresponde de fato no organismo corporal; esse centro é a residência de Purusha, identificado ao Princípio divino (Brahma) na qualidade de "ordenador interno" (antar-yami) que rege todo o conjunto das faculdades desse ser por meio da atividade "não-atuante", que é uma consequência imediata de sua simples presença. O nome Purusha é interpretado, por essa razão, como puri-shaya, ou seja, aquele que reside ou repousa (shaya) no ser como em uma cidade (pura). Essa interpretação decorre evidentemente do Nirukta, mas A. K. Coomaraswamy observou que, embora não seja assim na maior parte dos casos, neste poderia também representar ao mesmo tempo uma verdadeira derivação etimológica. Esse ponto, em virtude das conexões que permite estabelecer, merece que nos detenhamos um pouco mais longamente sobre ele.


A doutrina hindu dá ao coração, enquanto centro do ser, o nome de "Cidade divina" (Brahma-pura) e, o que é notável, aplica à "Cidade divina" expressões idênticas a algumas empregadas no Apocalipse para descrever a "Jerusalém Celeste". O Princípio divino, na medida em que reside no centro do ser, é muitas vezes designado simbolicamente como o "Éter no coração", elemento primordial do qual procedem todos os demais que são naturalmente tomados para representar o Princípio. O Éter (Akâsha) é a mesma coisa que o Avir hebraico, de cujo mistério brota a luz (Aor) que realiza a extensão pela sua irradiação no exterior, "fazendo do vazio (thohu) alguma coisa e do que não era o que é", enquanto que, por uma concentração correlativa a essa expressão luminosa, resta o iod no interior do coração, isto é, "o ponto oculto que se tornou manifesto", um em três e três em um. [Guénon]

Ver online : Ananda Coomaraswamy