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Chambon (LF:15-16) – as tonalidades afetivas
segunda-feira 8 de janeiro de 2024
As tonalidades afetivas são, acima de tudo, uma afinação ao meio. A expressão alemã "Stimmung", que significa conveniência e ressonância musical, exprime esta dimensão de acordo com o mundo conforme uma mesma tonalidade. É a harmonia essencialmente musical da vida interior, análoga à "música" primária da existência. A harmonia tem vários significados distintos mas inseparáveis. Exprime a ligação entre o mundo exterior e o mundo interior do homem, a relação entre a disposição psíquica e a atitude corporal, e a harmonia entre todas as actividades da alma unidas na mesma "tonalidade" fundamental. Estes aspectos da tonalidade conduzem à sua característica essencial: a unidade do homem e do mundo através da coesão do homem consigo mesmo. Esta dupla unidade caracteriza-se pela ausência de movimento intencional. O.F. Bollnow comenta o seguinte: "O mundo ainda não se tornou um objeto na tonalidade afectiva, como se torna posteriormente nas modalidades posteriores da consciência, especialmente no conhecimento, mas as tonalidades afectivas ainda vivem na unidade indivisa do eu e do mundo, uma unidade que mantém ambos numa tonalidade afectiva comum". O autor insiste mais na ligação entre o homem e o mundo do que na coesão do homem consigo mesmo. As tonalidades parecem ser interpretadas essencialmente em termos da sua relação com os modos de transcendência e de ser-no-mundo. A unidade do homem e do mundo é representada como auto-explicativa e como caracterizando a afetividade do acordo. O autor, muito próximo de Heidegger neste ponto, considera a tonalidade afectiva como um modo de ser-no-mundo. No entanto, isto serve para sublinhar o aspecto artificial da concepção "pejorativa" da afetividade, que lhe atribui um carácter restritamente subjetivo, como se partisse de um estado do ego, para se distender no mundo por projeção.
Como a tonalidade não é intencional, ela não é uma relação determinada e externa entre dois elementos isolados, o eu e o objeto. É por isso que ela não revela estados particulares do mundo, mas ambientes, atmosferas. É exatamente por isso que ela não é uma projeção de um "interior" isolado do homem. É uma "incorporação do homem na paisagem", e não surge de dentro ou de fora, como enfatiza Heidegger. Ela surge da unidade do interior e do exterior, de sua sobreposição, por meio da qual o mundo surge como um campo unitário, anterior às coisas particulares e ao sujeito que envolve. O caráter de campo da abertura do mundo parece essencial para ambos os autores, e parece dispensá-los de questionar as possíveis condições da unidade do interior e do exterior. Essa unidade é vista como um dado primitivo, abaixo do qual não podemos regredir. Somos lembrados da fórmula de Heidegger, segundo a qual o mundo é o mais interior por ser o mais exterior. Não existe um "sujeito" que contenha o mundo. Pois o "interior" do homem é idêntico à sua transcendência, ao seu ser além.
A interioridade é um caráter da exterioridade, como o que permite que ela seja reveladora, que seja um campo penetrado pelo homem. É da própria exterioridade, não como um termo particular oposto ao sujeito, mas como um elemento, que surge a revelação do ser-no-mundo.
Apesar das diferenças essenciais entre as descrições de O.F. Bollnow e as análises de Heidegger, não há oposição nesse ponto. As tonalidades afetivas são consideradas do ponto de vista da relação com o mundo, ligada a elas e que elas fundam. A unidade fundamental do sujeito e do objeto como a camada original do conhecimento é idêntica à unidade do campo comum que os engloba. Posteriormente, surgirá a questão de saber se essa perspectiva é totalmente justificada e não enfraquece o escopo das descrições da afetividade. Especialmente quando essas descrições tendem a se afastar da estrutura da filosofia existencial, que se caracteriza precisamente pela primazia indiscutível da transcendência e pela assimilação pura e simples do ser do homem ao exterior de sua existência.
[CHAMBON, C. Logique de la finitude: essai sur l’expérience de la réalité. Strasbourg: Presses universitaires de Strasbourg, 1990. p. 15-16]