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Zohar Alma

segunda-feira 1º de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

  

ZOHAR   — ALMA
Excertos de Roberto Pla  , Evangelho de Tomé - Logion 25

O significado básico de qualquer das três expressões da vida psíquica, segundo a concepção israelita, significa “algo que está em movimento”, seja o sopro de vida (nefes), o vento (ruah), ou a respiração (nesamah). Nefes atua como um impulso de vida animal, tal como corresponde aos suportes hílicos, terrenos e psico-somáticos do sopro de vida, mas a força de consciência dual, reflexiva, que o homem recebe como vento cósmico (ruah) está sujeita a experimentar alternações superiores que a vinculam a nesamah, ou bem a sofrer uma deterioração que a conectem com as coisas psíquicas inferiores próprias de nefes, até o ponto de se fazer metaforicamente carne (sarx), como naquela perícope do Gênesis (6,3): “Não permanecrá para sempre minha ruah no homem, porque não é mais que carne”. Outras vezes o ruah recibido pelo homem leva já o desígnio de seu efeito destrutor: “infundiu neles ruah de vertigem” (Is 19,14); “verteu YHWH sobre vós ruah de sono” (Is 29,10).

Em uma passagem muito importante estuda o autor do Zohar um texto de Isaías:
“Com minha alma (nefes), te anseio na noite (= obscuridade) e com meu espírito (ruah) em meio de mim, te busco pela manhã (dia = luz) (Is 26,9). Nefes e ruah — diz — não são graus separados (da alma), senão um grau único com dois aspectos. Há ainda um terceiro aspecto que há de dominar a esses dois e que é superior: se chama nesamah. Quando nesamah entra nos outros dois, eles se unem (Unificação) e então nesamah predomina nesse homem. Um homem assim é chamado santo, perfeito, totalmente entregue a Deus”.

O autor do Zohar termina sua explicação sobre os três graus de expressão psíquica do homem com uma imagem muito bela e esclarecedora:
“Nefes — diz — é a incitação mais baixa a qual o corpo se ajusta; é como a luz obscura na parte inferior da chama da vela, a que se apega à mecha e só existe por ela. Quando está plenamente acesa, esta luz se torna um trono para a luz branca (ruah de cima dela. Quando ambas estão plenamente acesas, a luz branca se converte por sua vez em um trono para a luz (nesamah) que não pode ser totalmente discernida, pois é um algo desconhecido (a luz do contorno, pois é um algo desconhecido (a luz do contorno, difundida no espaço), que destaca sobre essa luz branca. Então se forma uma luz completa”.

Este relato é bastante significativo, mas sua explicação pode ser tentada de outro modo para esgotar o esclarecimento deste assunto da versatilidade da alma. O homem psíquico herda a capacidade de perceber um vento (ruah) adequado às leis do racional ou livre, com opção de inclinar-se ao hílico-material, ou a harmonia com o pulso universal. Quando o homem vive uma vida hílica, quer dizer, com a atenção entregue ao mundo instintivo, fechadamente individualizado, egoísta, carregado de impurezas, os conteúdos psíquicos se concentram em nefes; o homem inteiro parece então não ser outra coisa que nefes, o sopro denso de vida animal que transita, quer dizer, que entra e sai por seu próprio impulso vital através dessa espécie de bambu oco de duplo tecido que é a tênue corporeidade de pó do solo de Éden plasmado por YHWH-Deus e o fundo corporal de pele, carne e ossos. Se, pelo contrário, o vento psíquico (ruah), tende a integrar-se no Ser absoluto, o qual significa o abandono prévio das incitações do eu instintivo em favor da purificação das formas de vida, então, como se disse, os conteúdos psíquicos acabam por ser enxertados à oliveira para fé e incorrupção e participam da gordura da oliva. Isto se consegue por meio de um “respiração” harmônica com o universo, quer dizer, por um ritmo de existir compassado (o qual é nesamah), que é ajudado sempre pelo alento ou respiração de Deus (nesamah, também), o qual é derramado sem trégua sobre a “respiração” própria. Por outro lado, todos aqueles conteúdos psíquicos demasiado densos para ascender a nesamah, se dissolvem em nefes e na hora da morte, ficam convertidos em resíduos inúteis e se queimam e diluem “como palha que o vento dispersa” (Sl 1,4).