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Javary: Nomes de Deus

sexta-feira 3 de maio de 2024, por Cardoso de Castro

  

Geneviève Javary: Excertos traduzidos por Antonio Carneiro   dos Cadernos do Hermetismo, "Cabalistas Cristãos"

O problema dos nomes divinos na Cabala   cristã passa, em nossa opinião, por dois polos: um é o Tetragrama, as quatro letras He, Vav, He, Iod, não vocalizáveis, que representam Deus em um grande número de textos da Primeira Aliança, o outro é Sekina. Esta palavra tem uma história: nascida no primeiro século de nossa era nos Targumim, sobre uma raiz hebraica significando habitar, S K N, era empregada cada vez que o texto bíblico parecia deslizar para o antropomorfismo. Evoca Deus, não como o Tetragrama em sua essência, mas, principalmente Deus se manifestando, e é porque tem por equivalentes as palavras Glória e Presença. (A propósito do tema da Sekina).

Um problema se coloca agora e poderá servir de conclusão. Se o Nome é Deus, ou se Deus é seu Nome, conhecer o Nome de Deus, não é se apossar do poder de Deus para fins mágicos? Dito de outra forma, qual é a relação entre a Cabala e a Magia? A Cabala não é senão uma magia? Sem dúvida Pico della Mirandola  , e em seguida Jean Reuchlin, parecem ter tomado uma resolução. Mas, ainda necessitar-se-ia ler esses autores para não cometer o erro sobre o sentido que deram à palavra magia. Comparando àqueles que rogam aos marinheiros que joguem a âncora sobre a costa imóvel e assim, graças à uma corda ou um cabo, poderão se lançar em direção a terra, acrescenta:
Por semelhantes maneiras, por meios de sinais sensíveis, nos parece que atraímos a divindade invisível enquanto, apesar disso, de fato nos atiramos nós-mesmos que somos móveis em direção à divindade imóvel.

E conclui:

Sobre esse fundamento secreto repousam todos os sacramentos e os ritos das cerimônias (Ibid.).

Justificando em seguida a Cabala em seu conjunto e a proliferação dos Nomes de Deus que, multiplicados ao infinito, parecem de fato perder toda significação, escreveu:

As palavras sem significação têm mais poder de magia que as que possuem uma. Não importa qual palavra tem, de fato, em magia, virtude, desde que esteja formada pelo vocábulo de Deus, pois nisso que a natureza exerce primeiramente uma força mágica é o vocábulo de Deus.

Assim falou Pico della Mirandola).

Esta afirmação surpreendente une, de fato, o que temos dito no início deste artigo: Deus é desconhecível e, então, seu nome é inefável; não possuímos senão sinais, que, se trata da Cabala, são impronunciáveis. A razão da multiplicação dos Nomes de Deus e de sua falta aparente de significação é a fraqueza humana. O além do homem está o anjo, o além dos anjos Deus, e para se elevar até esses espíritos a despeito de seu peso, o homem deve enternecer seus sentidos; mas « cada um é afetado por um elemento diferente e todos não o são igualmente pelo mesmo ». É então, diz Reuchlin, para nos ser útil que:

os anjos clementes encontraram figuras, caracteres, formas e palavra. Eles nos propuseram, a nós mortais, essas palavras desconhecidas, estupefacientes, nada significando senão o uso ordinário da língua, mas nos induziram, provocando a admiração de nossa razão, a procurar assiduamente os inteligíveis, depois a os venerar e a os amar.

É então a razão pela qual os homens veem anjos com aspectos sensíveis tão diversos: fogo, água e rio, vento e ar, pássaros, gemas, energia da profecia, ou espírito os habitando, e de outros os verem « na figura das letras e dos caracteres ».

Sekina foi sem dúvida por vezes utilizada para fins mágicos. Mas, isso se deveu à fraqueza do homem ou à sua perversidade. O único efeito do poder desse nome deve ser de lançar à Deus que é o conhecível, não-visível, inefável; nosso corpo enfermo, graças à emoção provocada em nossos sentidos pelos sinais múltiplos que evocamos. Nós não lançamos Deus para nós, nós é que nos lançamos, nós-mesmos, em direção a Ele.