Página inicial > Sophia Perennis > Cabala > Vulliaud Cabala Judaica

Vulliaud Cabala Judaica

segunda-feira 1º de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

  

Paul Vulliaud   — A CABALA   JUDAICA
Paul Vulliaud. La Kabbale juive, histoire et doctrine, essai critique
História e Doutrina (Ensaio Crítico)
Resumo em construção
Preliminares — Algumas razões para estudar a Cabala
A erudição francesa consagrou poucos trabalhos à tradição esotérica dos hebreus, e de modo geral esta foi pouco tratada dentro do pensamento ocidental. Razão pela qual Vulliaud dedica o início de seu livro a apresentar esta situação, especialmente as eventuais referências à Cabala ou à tradição judaica em diferentes obras, que erram grosseiramente até na informação que prestam.

Pico della Mirandola   observava com legítima impertinência que “Cabala” não é nem nome de fundador de seita nem de hircocervo (animal fabuloso meio bode meio cervo). Assim como Reuchlin fazia graça dos sofistas de sua época que afirmavam que a Cabal é o nome de um homem diabólico e herético.

Uma série de detratores da Cabala são apresentados junto com seus argumentos mais inconsequentes; assim como o pensamento de alguns notáveis simpatizantes da Cabala, e até de alguns filósofos curiosos a respeito da Cabala, como por exemplo Leibniz  :

  • Falando da alma universal, Leibniz escreve: “a alma do mundo de Platão foi tomada neste sentido por alguns; mas há mais do que aparência no que os estoicos davam a esta alma comum que absorve todas as outras. Aqueles que são deste sentimento poderiam ser chamados Monopsiquitas, posto que segundo eles só há verdadeiramente uma única alma que subsiste. M. Bernier nota que é uma opinião quase universal recebida pelos sábios na Persa e nos Estados do Grande Mongol; parece mesmo que ela encontrou entrada nos cabalistas e nos místicos ...”(Leibniz, Conformidade da Fé e da Razão).
  • E na Teodiceia, Leibniz escreve: “Nos cabalistas hebreus, Malkuth ou o Reino, a última Sephiroth, significava que Deus governa tudo irresistivelmente, mas docemente e sem violência, de sorte que o homem crê seguir sua vontade, enquanto executa aquela de Deus. Eles dizem que o pecado de Adão foi truncatio Malkuth a caeteris plantis, quer dizer que Adão cortou a última das Sephirahs, fazendo desta um império no império de Deus, e se atribuindo uma liberdade independente de Deus; mas que sua queda lhe ensinou que não poderia subsistir por ele mesmo, e que os homens tinham necessidade de ser resgatados pelo Messias”.

Vulliaud expôs nesta introdução a maioria da razões que militam em favor de uma análise da Cabal. Uma única seria suficiente, segundo ele: existe um esoterismo judaico, não é preciso dele fazer uma especialidade, mas levar a fundo a possibilidade de ver por nós mesmos, apesar da enormidade da tarefa e a insuficiência de nossas forças, onde se encontra a verdade e qual é esta verdade.

O Meio Místico — Essênios, Dositeanos, Fariseus
Uma variedade de argumentos e referências desarticulando os essênios e outras seitas judaicas de qualquer vínculo com a Cabala, reforçando a visão de Vulliaud de que a Cabala é natural do esoterismo judaico e que este acompanha desde a origem da tradição judaica a constituição da Lei e dos Profetas. Suas principais referências para contestar ou para se servir em sua argumentação são variadas, evidentemente todas antecedem a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto  . Seu autor mais citado é:

Refutação também de qualquer origem do cristianismo da seita dos essênios, citando autores e seus escritos que defendem esta tese.

Análise do estudo da etimologia do termo essênio em busca de clareza sobre a origem deste movimento e sua natureza, e eventual associação com a Cabala. Das diversas hipóteses levantadas Vulliaud conclui que: os essênios formam uma associação de “santos” (hassidim), de “humildes” (tzenouim), de “curandeiros” (assaim), etc., sendo o conhecimento de suas doutrinas filosóficas ainda pequeno àquela época de seu estudo.

Os traços principais dos essênios, de acordo com os diferentes estudos e especialmente levantados por Philon   são elementos notáveis de apreciação que permitem vislumbrar o mundo piedoso na Palestina, aquele das seitas, particularismos, associações, confrarias, comunidades, círculos esotéricos. Na época da reforma de Esdras se vê nascer uma grande corrente religiosa cuja nota essencial é aquela de perischouth (separação), para evitar toda impureza. O meio de se preservar é maios ou menos a ruptura com a sociedade natural, o voto e a ablução juntamente a outras práticas conventuais. Vive-se em nibdal (separação), afiliado à habura (confraria), pronunciando votos do nazir (consagrado) para se tornar hassid (santo). Pode-se supor que as características do movimento essênio são o Nazireat como meio e a Hassiduth (santidade) como meta.

Na leitura que faz do livro de Loeb sobre os pobres na Bíblia  , “Littérature des Puavres dans la Bible”, Vulliaud identifica os essênios com uma espécie de piedosos e pobres. Segundo Loeb, “os pobres falam frequentemente da assembleia, da comunidades, das reuniões mesmas da sociedade ou das associações dos pobres ou fieis, mas as expressões do qual se servem nestas circunstâncias são bastante vagas para nós, e é difícil dizer se elas designam reuniões acidentais, como por exemplo, aquela dos fieis em uma casa de orações ou verdadeiras sociedades. A palavra sod no entanto parece designar, mas designa certamente uma sociedade organizada e que exclui de suas reuniões todos aqueles que não são afiliados”.

O Dositanismo ou Dostanismo era um seita judaico-samaritana bem anterior a era cristã, cujos membros só eram admitidos por iniciação. Seu caráter fundamental é o mesmo que aquele observado nos essênios. Dosthani ou Dosithani significaria os Separados. A esta seita acredita-se que pertencia o gnóstico Simão o Mago, que alguns autores caracterizam como o começo do Gnosticismo  . Assim alguns termos hebraicos são apropriados pelos gnósticos tais como o “akamoth” dos valentinianos, transcrição grega de ha-hoakmoth, sapientia, virtutes sapientes, forma plural desta sabedoria (hokma) que desempenha um papel tão considerável nos apócrifos palestinianos como nos apócrifos judaico-alexandrinos.

Concluindo, Vulliaud, fugindo das hipóteses e afirmações gratuitas, constata estudando a diversidade das seitas místicas nos antigos judeus, tendências à contemplação e à santificação. Sua afirmação é categórica: há um estreito parentesco do ponto de vista intelectual entre o rabinismo esotérico e o rabinismo exotérico. A diferença reside no grau de ensinamento mas o espírito é idêntico.

Ortodoxia do Exoterismo Judeu
Retomada e rechaço das críticas dos anti-cabalistas. Eles, enquanto adversários de uma tradição esotérica pretendem que nas nos livros do Antigo Testamento revela a existência de uma doutrina secreta. No entanto o que dizer, por exemplo, do Livro de Daniel (I, 17-20) onde se lê que o rei encontrou junto aos quatro jovens uma ciência bem superior àquela de todos os Hartummin e Assafim mekassefim de seu reino. Que representam os Hartummin? Os Assafim? O Assaf é o sophos babilônico, sendo de origem aramaica e tendo o sentido de falar em voz baixa, misteriosamente. Esta raiz significou mais tarde murmurar certas fórmulas que se acreditavam ter uma influência misteriosa e um poder extraordinário. O substantivo assaf designou em seguida o homem que possuía uma ciência secreta, misteriosa que se transmitia da maneira que Pitagoras tomou a seus mestres. No fundo e na origem os assafim eram os sábios nas ciências abstrusas, filosóficas e teológicas, sobretudo eles eram os teósofos.

Parece difícil pretender que não se poda deduzir do Antigo testamento o fato de uma doutrina secreta. Pois se o livro de Ezequiel, tão citado pelos cabalistas, não contivesse uma teoria arcana, não é sua contradição com a lei de Moisés que teria levado os rabinos a pô-lo entre os livros que “não sujam”, quer dizer fora do Cânone. A Cabala sendo uma ciência esotérica é normal que sua exposição não se desenvolva nos livros exotéricos. Seguem-se citações da Jewish Encyclopedia (também muito citada por René Guénon) que confirmam a transmissão de uma doutrina secreta no Talmude  .

Generalidades sobre o misticismo judeu

Procedimentos da Cabala

O “Sepher Ietsirah”

Ibn Gabirol   é um fundador da Cabala?

A Antiguidade do Zohar  

O Infinito — Os Intermediários Metafísicos

A Tradição esotérica perdida e reencontrada

A Origem das coisas

Cabala e Panteísmo

Os Intermediários personificados