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Malkouth

segunda-feira 1º de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

  

CABALA   — SEPHIROTH — MALKOUTH

Leo Schaya  : O HOMEM E O ABSOLUTO SEGUNDO A CABALA  

A Tri-Unidade suprema e misteriosa, chamada Mi («Quem?»: o Suprainteligível), é o «Objeto» real das investigações (espirituais); e depois que o homem fez investigações, depois que se esforçou em meditar e de subir até o extremo limite do conhecimento, ele acabou por (descer e) parar em Mah («O que? »: o ininteligível). «Que é que» compreendeste? «Que é que» buscaste? Pois tudo é tão misterioso quanto anteriormente. » (Zohar   I, 1b). Antes, durante e depois de toda investigação espiritual, o homem se encontra em face do único e mesmo Mistério: o «Uno sem segundo». Mas este Mistério existe unicamente pela única razão que há «alteridade»; é ela, a criatura, que oculta a Unidade divina e coloca a questão: «quem» e «o que» sou? Sem «alteridade» não há nem «quem» nem «o que» nem investigação nem mistério: não há senão o único Real, em Sua Ipseidade não dual e absoluta.

É portanto a existência de um «segundo» no seio do «Uno sem segundo», que torna o único Real misterioso; em definitivo, todas as investigações espirituais chegam à questão: em virtude de «o que» (Mah) a existência cósmica se concretiza? A Cabala responde: este «o que», Mah, é a imanência divina, a última Sephirah, Malkouth, o «Reino» de Deus, que produz, engloba e penetra toda a criação. Malkouth, que se situa na extremidade inderior da «Coluna do Meio», é não somente o «Recipiente» de todas as Emanações sefiróticas do «lado direito», luminoso ou inteligível, e do «lado esquerdo», obscuro ou ininteligível, mas também aquele das Sephiroth centrais, cuja superior é Kether, o Princípio suprainteligível. Dito de outro modo, Malkouth é a «Descida», a Shekinah ou Omnipresença do Supremo, que Se manifesta, de um lado, por Emanações inteligíveis e unidas no Espírito universal, e por outro lado, por Emanações ininteligíveis cuja obscuridade se concretiza em substância criativa. Assim, Malkouth tem um aspecto essencial, um aspecto espiritual e um aspecto substancial; em sua Essência, Ela é suprainteligível e idêntica ao «Quem? » (Mi); Ela é o «Fim que se junta ao Início» e, por isto, a «Causa das Causas» que incognoscível; em Sua Espiritualidade, Ela é inteligível: Ela é a «Luz do mundo», chamada «Isso» (Eleh); e em Sua Substancialidade, Ela é ininteligível: Ela é o «Firmamento que não tem nenhuma luz dele mesmo», o «O que? » (Mah) de toda substância.

Ora, embora Malkouth seja tanto a Presença de Mi quanto de Eleh, Ela é chamada Mah, porque Ela é, unicamente Ela, um Princípio puramente receptivo e ininteligível, um «espelho» vazio que reflete simplesmente tudo o que está «no alto», no Mundo divino, e «em baixo», na criação. Ela não manifesta nada que não seja estritamente conforme às «intenções do Rei» divino; eis porque «todos os Poderes do Rei lhe são confiados», e Ela é a «Mediadora perfeita junto ao Rei». Como acabamos de dizê-lo, Ela é não somente a «Testemunha» fiel de toda Emanação transcendental, mas também de toda manifestação cósmica, e é Ela que atrai toda Graça e todo Rigor no mundo; pois «Mah será tua igual: Ela apresentará no alto a mesma atitude que tomarás em baixo».

Enquanto Princípio passivo e receptivo, ao qual chega o influxo de todas as Emanações sefiróticas, Malkouth é chamado a «Mulher» ou a «Esposa» do «Rei» divino: a «Rainha». Enquanto Causa geradora, que manifesta por reprodução cósmica tudo que Ela «herdou» do «Pai», da «Mãe suprema» e do «Filho», Ela é chamada a «Mãe inferior»; e sob Seu Aspecto de Substância incriada, «pura e inapreensível», Ela porta os epítetos de «Filha» e de «Virgem de Israel». Enfim, na medida que Ela manifesta, no seio do Cosmo, a Unidade das Emanações divinas — ou alguns de seus Aspectos — dos quais Ela representa então a Descida ou Revelação direta, Ela é chamada Shekinah, a «Imanência» ou Presença real de Deus; e quando a imanência toma a forma do Corpo místico de Israel, Ela leva o nome de «Comunidade de Israel».

Malkouth, a «Mãe inferior», é do ponto de vista cosmológico, o que é Binah, a «Mãe superior», do ponto de vista ontológico; como esta última, Ela é por um lado «espelho» e por outro «prisma» da Emanação divina. Por um lado, Ela remete ao «Rei», Tiphereth, toda a irradiação que Ela recebe dEle por intermédio de Seu Ato, Yesod; e Ela se encontra assim em união eterna com Ele, seu «Esposo», que por sua vez é infinitamente unido à «Coroa Suprema», Kether elyon. Por outro lado, Ela projeta o influxo do «Rei» fora da unidade causal ou sefirótica, e cria pelo Cosmo; e em Sua manifestação cósmica, Ela «desce» Ela mesma, enquanto imanência, no criado para o religar a sua Origem transcendente.

No entanto, pela consideração destes Atributos e Modos de atividades principais de Malkouth, ainda não respondemos à questão de saber o que Ela é enquanto Substância. Ora, Ela não é uma substância distinta, mas o Princípio indiferenciado e incriado de toda substância, Princípio que não sai de maneira alguma da Unidade infinita e indivisível das Causas criadoras: Ela as envelopa, ao mesmo tempo estando oculto nElas, como «Ar muito puro e inapreensível». O que é este «Ar» que não é respirável, como aquele do qual somos cercados? É o Avir, o «Éter» universal, a Quintessência dos Quatro Elementos sutis ou celestes e dos quatro elementos corporais ou terrestres. E o Éter ele mesmo, o que é? Não é outro senão a Receptividade infinita da «Inteligência» divina, Binah. «O Pai (Hokhmah), é o Espírito oculto no «Ancião dos dias» (Kether) em que está guardado este «Ar muito puro» (idêntico a Binah). » O Éter universal envelopa a Emanação inteligível de Hokhmah, desde sua saída primeira fora do «Ancião dos dias»: «ele se une à Chama (espiritual) que sai da Lâmpada brilhante (e suprema)» para a seguir ao longo de sua descida para a possibilidade cósmica, e em seu percurso através do Cosmo mesmo.

«No alto», o Éter é a Receptividade infinita de Binah, em virtude da qual Deus Se revela Ele mesmo; «em baixo», é a Receptividade cósmica de Malkouth que se concretiza em substância criadora. Dito de outro modo, o que é Receptividade pura em Binah, e Contração criadora em Scholem   Din, se torna Vacuidade cósmica em Hod e acaba por ser Substância inapreensível e causal em Malkouth. Este processo de «substancialização» principial tem seu ponto de partida positivo em Hokhmah, cuja Plenitude luminosa se manifesta por Hesed Din, para receber de Tiphereth sua Forma universal e se manifestar por Netsah-Hod-Yesod como «Vida dos mundos», Vida que Yesod comunica a Malkouth, a Substância.

É assim que todas as Sephiroth «descem» de Kether, em uma co-emanação e cooperação perfeita, para se concentrar finalmente em Malkouth e se manifestar, por Ela, em modo cósmico.

No entanto, vimos, se nos mantemos atados à Verdade pura e suprainteligível, não pode mais ser questão de algo que seja emanado ou distinto do Supremo, o único Real, o «Uno sem segundo».