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Tourniac Amem

sexta-feira 29 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Jean Tourniac   — Os Traçados de Luz
Excertos traduzidos do livro francês “Les tracés de lumière”
Um nome do Cristo ou os mistérios do termo Amém
O esoterismo judaico-cristão e os símbolos que lhe servem de veículo nas iniciações artesanais do Ocidente frequentemente demandam um certo conhecimento da língua hebraica. (vide Jean Hani  , "O Simbolismo do Templo Cristão).

A tradição cristã embora não repousando sobre nenhuma língua sagrada, guarda também símbolos de iniciação.

A corporificação do Verbo, que caracteriza o cristianismo, implica que a presença divina não seja apenas contida na revelação idiomática, mas na carne (sarx), quer dizer no alimento sagrado eucarístico. Todo cristianismo se mantém na constatação de João: «E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (Jo 1:14)

Entre as consequências quanto às modalidades doutrinais e aos comportamentos sociais, está em evidência no plano litúrgico, a natureza específica do memorial atualizando a presença da divindade, pela nutrição consagrada deificadora — "façam isto em minha memória" — que substitui a invocação do Nome divino praticada em outras tradições abraâmicas (vide Liturgia).

No hesicasmo (hesychia) a comunhão ao corpo e ao sangue do Verbo pode ser acompanhada de uma "lembrança do nome de Jesus" (vide Nome Jesus), que independente de língua sagrada, concentra do mesmo modo a memorização intelectiva do orante sobre a pronúncia do Nome divino mediador. Em alguns casos, na tradição ortodoxa do Oriente, especialmente cenobítica e eremita, a prece de Jesus (Kyrie Eleison) pode substituir a comunhão eucarística. Note-se ainda que o rosário da igreja latina, assim como certas litanias, tomam seu ritmo invocatório de dois nomes "mediadores", Jesus e Maria. Na antiga liturgia católica acompanhava-se a comunhão do padre de uma fórmula significativa: "Tomarei o cálice da salvação e invocarei teu nome Senhor ...".

Na reforma da liturgia Vaticano II é interessante notar o papel "ativo" dado ao comungante ao ter que proferir "Amém" antes de receber a hóstia. Haveria uma correspondência entre a Eucaristia, a invocação do Nome do Senhor e o emprego do termo hebreu "Amém"? Lembrar que Aleluia e Amem são alguns dos termos preservados na tradição cristã, de origem hebraica.

Amém é comum a todas as confissões e igualmente às três religiões abraâmicas. Poderia se dizer que se trata de um termo chave, reunindo em uma mesma raiz semítica em uma língua sagrada, as três filhas espirituais do monoteísmo.

Segundo o Sr. Denys Roman, em artigo na revista Les Etudes Traditionnelles, pode-se aplicar ao texto latino do Pater (vide Pai Nosso) certos procedimentos da Cabala  : 7 x 3 termos de votos celestes e 7 x 4 termos de demandas terrestres, formando 49 termos ao todo — "se se se soma ainda o termo Amém, este termo hebraico que termina obrigatoriamente todas as preces (euche) cristãs e que também termina a primeira surata do Corão, desempenhando assim o papel transcendente de "unificador" entre as tradições monoteístas, e por outro lado "sacralizando" de alguma forma as orações pronunciadas, em uma língua não sagrada, um pouco como o aerólito em uma estátua, o número total de termos do Pater seria de 50, o qual não se precisa salientar a importância simbólica".

[http://sofia.hyperlogos.info/spip.php?breve671&var_mode=calcul|Sr. Jean Duprat em artigo sobre o “Pater”] explica as diversas significações árabes e hebraicas derivadas da raiz Amém:

  • para o árabe:
    • ser fiel, estar seguro
    • confiar algo a alguém, garantir alguém
    • crer, ter fé
    • fé religiosa, sinceridade, lealdade, segurança
    • o crente, o lugar seguro, a melhor parte
  • para o hebraico:
    • ser elevado, estável, ser verificado
    • crer, pôr fé, estar seguro
    • pupila, povo, multidão
    • verdade, lealdade, estabilidade
    • fé, probidade, fidelidade constante, invariável
    • artista, artesão
    • educar uma criança, nutrir
    • pacto, aliança, salário
    • com efeito, certo
      ORIGINAL EM FRANCÊS A primeira ideia a reter é a que indica a raiz semita da palavra, pois está subjacente em todas as particularizações seguintes do vocábulo. Esta significação original é aquela dos verbos portar, suportar, garantir uma estabilidade e uma segurança; daí derivam as noções de certeza religiosa e de fidelidade. O Amem é então rocha da fé, ou testemunho da fé. Por extensão a palavra vai designar o acordo dado ao povo de Israel às vontades do Eterno, tipifica a garantia de fidelidade aos mandamentos, a resposta às promessas da Aliança. Compreende-se que acompanha para as confortar as orações e as bendições da Torá como também as atestações que menciona. A um grau mais elevado, é sinônimo da Verdade e vê-se aqui sua assimilação ao nome do Eterno.

O Amem é citado em diversas passagens da Escritura. Amém-Aleluia, casamento de duas palavras hebraicas prefigura a liturgia apocalítica, sendo consanguíneos espiritualmente enquanto um e outro simbolizam o Verbo ou o Messias Redentor.

Identificado à Verdade, o Amem se torna por sua “face divina” a vestimenta do Nome do Santo — bendito seja — como em Isaías 65,16: “De sorte que aquele que se bendisser na terra será bendito no Deus da verdade (Elohey-Amen); e aquele que jurar na terra, jurará pelo Deus da verdade; porque já estão esquecidas as angústias passadas, e estão escondidas dos meus olhos.” (Is 65:16)