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Eckartshausen Natureza Analogia

domingo 31 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Eckartshausen   — ANALOGIA
A NATUREZA E A ANALOGIA
Sabe-se do interesse que os Iluminados do século XVIII consagraram à física e à química; Novalis  , Baader  , e muitos outros, tentam interpretar os fenômenos naturais segundo as leis de uma “física superior” que não seria apreensível somente pelos métodos do empirismo. Para Eckartshausen, a natureza manifesta para ela somente a existência da cadeia analógica; basta observá-la para disto se persuadir (como em Baader, E. usa o termo hieróglifo, como referência às vestes da divindade, a serem decifradas): as belezas naturais se revelam em todo seu esplendor, nos fornecendo as ideias analógicas capazes de nos iluminar. É que todas as forças trabalham em harmonia. No estilo Saint-Martin  , ele explica que cada ser está submetido a um princípio, ou principium generationis, indestrutível e imutável, preexistente aos corpos e sobrevivendo a sua destruição. Assim, nada se perde, e a cadeia dos seres não é rompida. Tudo é tipo, marca, eco da voz a mais pura da harmonia; as leis físicas só fazem repetir aquelas do intelectual e do espiritual, nos permitindo assim passar das verdades naturais às verdades da eternidade; tudo o que se passa na natureza é portanto de uma admirável e grandiosa simplicidade.

O semelhante busca o semelhante. A força de assimilação reside em cada corpo, se opõe às partes heterogêneas até que ela os tenha assimilado ou rejeitado; ela modifica portanto este corpo ou cria um todo novo. Todos os fenômenos, todas as modificações resultam das relações de energias materiais que “se correspondem” entre elas. Todas as coisas estão ligadas umas às outras por ligações invisíveis. Do verme ao homem, do homem ao anjo, do anjo ao Querubim, tudo tende a um patamar superior e o prepara. A menor coisa tem sua importância, posto que tudo está em relação com o Todo; os grãos de areia e a poeira são contados, pois o Todo, sem eles, não existiria. Também, as menores mudanças podem provocar grandes catástrofes, o que explica muitas operações mágicas. Mas os efeitos não são sempre sensíveis ou orgânicos. A lei que preside à existência das partes é idêntica àquela que preside à aparição do Todo. Assim se explicam a fascinação exercida sobre Eckartshausen pelos números, e os importantes capítulos aritmosóficos contidos em suas obras. Os números são, com efeito, como as imagens de uma Unidade primordial, de uma harmonia fundamental; eles se encontram fora desta unidade, mas reunidos a ela por sua essência mesma. A aritmosofia é inteiramente uma aplicação desta lei da analogia, como se verá no capítulo consagrado a esta ciência em Eckartshausen. Mas poderia se fazer a mesma nota a respeito de todos os temas teosóficos que ele trata. Trata-se quase sempre de passar do plano físico ao plano intelectual, o que o homem seria geralmente capaz “se fosse atento”. Porque o ateu, que reconhece que tudo é uma cadeia, desejaria separá-la do Ser que criou cada coisa? Existe por outro lado correspondências exatas entre as verdades da religião e aquelas da natureza; Bacon de Verulam tem razão de dizer que só um mau filósofo poderia desprezar a religião; mas que aquele que saiba penetrar no interior da natureza retornaria à religião e a admiraria. Por exemplo, a religião ensina a justiça do Pai, a Sabedoria do Filho e o Amor do Espírito; da mesma forma, a natureza mostra o rigor do fogo, a beleza da luz e os benefícios de um calor emanando do fogo e da luz. Este princípio é tão verdadeiro, adiciona E., que não se pode conhecer «o interior» da natureza sem conhecer as verdades da Fé.

E. volta frequentemente sobre esta ideia de um paralelismo rigoroso entre o plano natural e o plano espiritual. O homem deve se conhecer a si mesmo e conhecer a imensa natureza; em seguida, nestes dois conhecimentos, se manifestará aquele de Deus como em um espelho, «pois existe uma harmonia geral entre o homem, a natureza e Deus». Reunir estes três elementos, é penetrar no mais profundo do santuário. Ele escreve a Kirchberger que se o sensível é a marca do espiritual, e o espiritual a marca do divino, deve-se entender estas diversas relações como sigillum, sigillans, sigillatum. Adiciona que os signos primordiais da razão eterna estão presentes na natureza, onde podem ser contemplados sensivelmente; tal é o grande mistério da pneumatologia, desconhecida dos filósofos incapazes de encontrar na sigillatum o que existe sob a forma de energia no sigillum; eles tomam o espelho pela luz, e buscam explicar pelas propriedades do espelho àquelas da luz. E. declara encontrar no fragmento de Sanchoniaton alguns destes signos primordiais. Mais tarde, E. escreve ainda a Kirchberger que, se há muitas moradas na Casa do Pai, isto deve corresponder a cada uma delas uma via particular; todas estas vias se encontram em um só Reino. O ano seguinte, ele tenta ainda lhe mostrar como a analogia nos prova a identidade das leis internas e das leis externas. E. já havia expresso em seus Esclarecimentos sobre a Magia que as coisas têm vários aspectos dos quais apenas alguns são sensíveis a nosso nível. Nosso planeta tem ele mesmo relações com o Todo; seria falso isolar a terra dos resto do Universo; é preciso, ao contrário, admitir uma ação recíproca. As coisas não se distinguem entre elas senão por sua maneira de ser.