Introdução
- Descrever a analisar as duas formas fundamentais da experiência espiritual da transcendência, assim como as estruturas cosmológicas, antropológicas, ontológicas e psico-mentais que elas pressupõem
- Encontram-se estas duas formas tanto nas tradições monoteístas como nas de tipo mitológico-metafísico
- A experiência religiosa da transcendência corresponde às relações do homem com o Absoluto “pessoal” (Deus criador dos monoteístas, Ishwara no Hinduísmo), tais quais se exprimem na via do amor (bhakti-marga) do Hinduísmo ou na mística de São João da Cruz
- A experiência ou realização metafísica da transcendência repousa sobre as relações do homem com o Absoluto transpessoal tais como são teorizadas e vividas na via do conhecimento — jnana-marga — do Hinduísmo ou em Mestre Eckhart, no Cristianismo
- O que denominamos “perspectiva metafísica”, fundada sobre:
- Teólogos monoteístas do Ocidente assim como defensores da via do amor — bhakti — no Hinduísmo contestam a Não-dualidade e o caráter normativo da via do conhecimento
- A intuição intelectual é a apreensão da coincidência dos opostos, do Absoluto e do relativo, do Infinito e do finito, tal qual é postulada na via do conhecimento da Não-dualismo vedanta e nos seus equivalentes asiáticos ou ocidentais
- Toda a pseudo-metafísica ocidental, herdeira do anti-platonismo de Aristóteles, de sua teologia limitada ao Absoluto derivado, herdou igualmente sua negação prática — senão formalmente teorizada — da Intelecção intuitiva posta pelo platonismo
- A noção de Ocidente não deve ser tomada apenas no sentido geográfico
- A aparição da bhakti no Bhagavad Gita, que coincide com a emergência da dimensão pessoal do Absoluto transcendente ao lado da dimensão transpessoal
- O “homem ocidental” e suas características
- Oposição tradição e modernidade
- Resgate do propósito e das noções chaves do livro Ser e Individualidade
- A individuação interiorizante desemboca sobre a Pessoa e o Transpessoal, ligada a um movimento de trans-ascendência, movimento simultâneo de interiorização e de universalização ontológica
- A individuação exteriorizante corresponde a nosso princípio clássico de individuação pela matéria e implica em um movimento de trans-descendência indo da afirmação da realidade do ego à afirmação da realidade exclusiva do ego e das formas individuais
- O dogmatismo criacionista
- As estruturas ontológicas e psicomentais que caracterizam o “homem moderno”
- A estrutura objetivante que também denominamos “o instante lógico”, que se encontra no sistema de Hegel
- A estrutura temporal estética, “instante estético”, correspondendo a afastamento acentuado da “Substância” em relação à “Essência”
- A estrutura temporal do ego divinizado, “instante negativo”, onde a Substância, ao termo de sua subversão revela sua verdadeira “natureza”, quando é radicalmente cortada da Essência
Capítulo I – Perspectiva religiosa e perspectiva metafísica: amor e conhecimento
- O círculo da imanência
- O problema da passagem da imanência à transcendência
- A experiência espiritual da transcendência
- A experiência espiritual
- O misticismo como modalidade de um dos dois aspectos da experiência espiritual
- A experiência religiosa da transcendência, aplicável aos três grandes monoteísmos
- A teologia criacionista sustentando um dualismo irredutível entre o Deus criador e a criatura
- Uma experiência espiritual denominada amor, instrumento de união entre a Pessoa criada e o Deus pessoal
- A experiência metafísica da transcendência, aplicável às tradições espirituais de tipo “mitológico-metafísico”, como as tradições orientais e extremo-orientais
- Uma metafísica não dualista centrada em um eixo de iluminação de um aspecto do Absoluto que é posto como mais profundo que o Aspecto “causal” e “criador”
- Uma experiência espiritual essencialmente dominada pelo conhecimento, que alcança não somente à união mas a uma identificação total com o Absoluto
- A experiência religiosa da transcendência, aplicável aos três grandes monoteísmos
- A distinção entre os dois grandes tipos de tradições
- A mentalidade contemplativa que implica em um sentido inato do simbolismo das formas naturais, que tende a ver os entes como reflexos dos Arquétipos ou do Princípio e que une paradoxalmente um politeísmo aparente — ligado à mitologia — a uma visão de Absoluto concebido segundo a “Não-dualidade”
- A mentalidade de tipo passional e ativista, que predomina nas tradições de forma religiosa
- A ambiguidade da teologia negativa que se atém à ambiguidade fundamental do Absoluto ele mesmo, nos leva a outra ambiguidade:
- O amor enquanto o opomos ao conhecimento
- A perspectiva religiosa ela mesma, enquanto se distingue da perspectiva metafísica
- Uma via espiritual como a via religiosa, essencialmente centrada sobre a dualidade Criador-Criatura, por conseguinte, identificando a priori o indivíduo humano com a Vontade e não com o Intelecto intuitivo pode examinar a verdade segundo duas perspectivas:
- A vontade como iluminada por uma certa participação na gnose
- A vontade radicalmente separada de toda participação no Intelecto, apresentando o caminho espiritual caracteres extremamente diferentes, ao mesmo tempo bhakti contemplativo e de pura gnose intelectiva
Capítulo II – A experiência religiosa da transcendência
- As pressuposições doutrinais
- A união do homem religioso com a Transcendência
- A via do temor
- A via do Amor ou a transformação do indivíduo em Pessoa
- O amor da alma por Deus se identifica a princípio à atração que Deus exerce sobre a alma em via de “deificação”, antes de se identificar ao amor que Deus tem para Consigo
- Esta reciprocidade de amor significa, no que concerne o amor de deus pela alma, o “sacrifício” pelo qual o Infinito se “nega” a si mesmo, por assim dizer, em se tornando a princípio Pessoa, deus pessoal, Conhecimento de si no seu “Verbo”
- Esta reciprocidade permite considerar que é evidente que o amor por deus não coincide rigorosamente a princípio nem com o amor de Deus pela alma nem com o amor de Deus por Si, na medida em que este amor é um desejo orientado em direção de deus cuja plenitude deve ser preenchida
- “Pai, perdoai-os”…
- O amor da alma por Deus se identifica a princípio à atração que Deus exerce sobre a alma em via de “deificação”, antes de se identificar ao amor que Deus tem para Consigo
Capítulo III – A experiência metafísica da transcendência e a superação da pessoa
- O que denominamos experiência metafísica corresponde a uma “realização espiritual”
- Implica adesão total
- Implica a transformação total da conscientidade ela mesma naquilo que ela conhece
- A noção de misticismo especulativo é imprópria:
- Se é verdade que o “misticismo” é apenas uma modalidade, todavia passional e individualista da via de amor, é claro que este termo, que não convém às mais altas formas da bhakti, se aplica ainda menos à via do conhecimento.
- Por outro lado, o dito “misticismo” não é especulativo, na medida que este último termo evoca “raciocinamentos” mentais.
- As bases doutrinais da via do Conhecimento
- A transcendência como interioridade absoluta: transcendência, subjetividade e teologia negativa
- Os fundamentos metafísicos da “individuação de interioridade”
- Se o Vedanta não-dualista pode passar por um idealismo, é preciso reconhecer:
- Que a linguagem plotiniana concernente à realidade e a experiência do Uno, que corresponde rigorosamente ao Si dos vedantinos, é todavia “realista”
- Que o pretendido “idealismo” se encontra superado no Vedanta shankariano pelo fato mesmo que a realidade por excelência, ou o Absoluto examinando em todo seu rigor, é analogicamente designado com ser — sat — assim como conscientidade — chit.
- Uma das implicações mais essenciais da perspectiva metafísica consiste em dois axiomas que se formulam assim:
- Toda conscientidade não é conscientidade de algo
- Há uma conscientidade que não é conscientidade de si
- A via negativa reveste na perspectiva religiosa duas funções essenciais:
- Sobre o plano “dialético” da teologia natural de um Tomás de Aquino, aparece como o simples complemento da teologia catafática.
- Sobre o plano “existencial” da “teologia mística” de um São João da Cruz aparece como uma redução voluntária deste mundo à realidade substancial da qual o espiritual foi invencivelmente levado a crer, donde a negatividade pessoal da angústia e das trevas da noite sanjuanista.
- A imanência do Absoluto metafísico e a origem da negação. Significação e justificação metafísicas da “individuação pela matéria”
- O aspecto positivo da individuação de exterioridade: a “matéria inteligível”
- Distinção da antropologia metafísica da antropologia cosmológica da perspectiva religiosa
- O aspecto negativo da individuação de exterioridade
- O aspecto positivo da individuação de exterioridade: a “matéria inteligível”
- O Conhecimento de Si mesmo (do ego ao Absoluto transpessoal)
- A dialética espiritual
- O não-dualismo vedanta apresenta uma aspecto perfeitamente rigoroso do que denominamos via do conhecimento
- Postula uma interiorização absolutamente radical do ser e do conhecer, que equivale a princípio a uma coincidência rigorosa destes dois aspectos
- É no Vedanta não-dualista mais que no platonismo que se encontra uma verdadeira técnica espiritual de realização do Si pelo conhecimento — gnose
- O não-dualismo vedanta apresenta uma aspecto perfeitamente rigoroso do que denominamos via do conhecimento
- A dialética espiritual
- A transcendência como interioridade absoluta: transcendência, subjetividade e teologia negativa