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tradição

terça-feira 30 de abril de 2024

  

Na confusão mental que caracteriza a nossa época, chegamos ao ponto de aplicar indistintamente esta mesma palavra "Tradição" a todas as espécies de coisas muitas vezes insignificantes, como simples costumes sem qualquer alcance e por vezes de origem muito recente; aliás, assinalo um abuso desse tipo também no que diz respeito à palavra "religião". Devemos desconfiar destes desvios da linguagem, que traduzem uma espécie de degenerescência das ideias correspondentes; e não é porque alguém se intitule "tradicionalista" que podemos ficar seguros de que ele saiba, mesmo imperfeitamente, o que é a Tradição no verdadeiro sentido da palavra. Por minha parte, eu me recuso absolutamente a dar este nome a tudo o que é de ordem puramente humana; e não é inoportuno declará-lo expressamente numa época em que se encontra, por exemplo, a todo o momento, uma expressão como "filosofia tradicional". Uma filosofia, mesmo se é verdadeiramente tudo o que pode ser, não tem qualquer direito a esse título, porque se mantém inteiramente na ordem racional, ainda que não negue o que a ultrapassa, e porque é apenas uma construção erguida por indivíduos humanos, sem revelação ou inspiração de qualquer espécie. Ou ainda, para resumir tudo isso numa única palavra, porque ela é algo de essencialmente "profano". Além disso, apesar de todas as ilusões com que alguns parecem deliciar-se, não há de ser certamente uma ciência inteiramente "livresca" que poderá bastar para retificar a mentalidade de uma raça e de uma época. Para isso é preciso outra coisa diferente de uma especulação filosófica, que, mesmo no caso mais favorável, está condenada pela sua própria natureza a permanecer exterior e muito mais verbal que real. [Guénon]


O que digo, em primeiro lugar, é que desde há muito tempo o depósito da Tradição primordial foi transferido para o Oriente, e que é aí que se encontram atualmente as formas doutrinais nele originadas mais diretamente; e em segundo lugar que, no estado atual das coisas, o verdadeiro espírito tradicional, com tudo o que implica, só tem representantes autênticos no Oriente. [Guénon]
É preciso distinguir entre os detentores da tradição, cuja função é conservá-la e transmiti-la, e os que recebem apenas em certo grau uma comunicação e, poderíamos dizer, uma participação.

Os primeiros, depositários e distribuidores da doutrina, ligam-se à fonte, que é exatamente o próprio centro; dali, a doutrina se comunica e se reparte hierarquicamente aos diversos graus iniciáticos, segundo as correntes representadas pelos diversos rios do Pardes, ou, se quisermos retomar a representação que estudamos recentemente, pelos canais que, indo do interior para o exterior, reúnem entre si as muralhas sucessivas, correspondentes a esses diferentes graus. (v. guardiões) [Guénon]


Ver online : René Guénon