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Binah / Biná / Bina

  

Gershom Scholem

Na Sefira seguinte, Biná, "Inteligência", o ponto se desenvolve em "palácio" ou "edifício" — uma alusão à ideia de que desta Sefira, se exteriorizada, provém o "edifício" do Cosmos. O que estava oculto e o que era por assim dizer dobrado no ponto é agora desdobrado. Pode-se entender que o nome desta Sefira, Biná, signifique não só "inteligência", mas também "aquilo que divide entre as coisas", isto é, diferenciação. O que antes era indiferenciação na sabedoria divina existe no ventre de Biná, a "mãe superna", como a "totalidade pura de toda individuação". Nela, todas as formas já estão pré-formadas, mas ainda preservadas na unidade do intelecto divino que as contempla em si.

Harold Bloom

A correspondente imagem da mãe, ao lado esquerdo da Árvore da Vida, é Binah, frequentemente vertida para "inteligência", mas que significa algo como uma compreensão passiva (a Cabala   é totalmente sexista). Às vezes, a Binah é retratada como um espelho (semelhante à tradição gnóstica), onde Deus gosta de Se contemplar. Podemos então chamar Kether a autoconsciência divina; Hokmah, o princípio ativo do saber e Binah, o conhecido, ou reflexo sobre o conhecimento ou, ainda, o véu através do qual brilha a "sabedoria" divina. Numa outra imagem cabalística, derivada certamente do neoplatonismo  , Binah, enquanto espelho, atua como um prisma, transformando a Luz Divina em cores apreensíveis.

Geneviève Javary

Para E. de Viterbo “Bina”, a terceira “Sefira”, ou a “Sekina” superior, é bem equivalente ao Espírito Santo. É ela que é a mãe dos Sete “Sefirot” inferiores, que representam os sete dons do Espírito; falando de “Guimel”, terceira letra do alfabeto, escreveu: « Além disso, esta letra ocupa o terceiro lugar e se relaciona à terceira numeração que os judeus chamam geralmente “Bina” e nós Espírito Santo. » É verdade que o problema se complica pelo fato de existir duas “Sekina”, uma superior, outra inferior, ou ainda que existam duas maneiras de apreender a mesma realidade:

Ela (“Bina”) representa a pessoa do Espírito-Santo: eu (“Malkut”) sou o dom do Espírito Santo, por esta razão sou o Espírito Santo, eu que sou transmitido e comunicado aos mortais por ela (“Bina”), como todos os sete outros (“Sefirot”)... (Scech., fol. 337).

“Bina” é então a fonte « da vontade, do amor, da bondade divina »; é a partir dela que se manifestam os outros “Sefirot”, especialmente “Malkut”, a “Sekina” inferior: « para fabricar o mundo... » (Ibid.) e que elas são enviadas « rumo ao ateliê e às divinas fornalhas » (Ibid.).

As manifestações do Espírito são, aliás, diversas; a propósito das palavras do “Sefer Iezira” (O Livro da Formação) « espírito do espírito, água do espírito, fogo da água », E. de Viterbo dá a interpretação seguinte:

Os teólogos que se debruçaram sobre esses segredos deram a explicação seguinte: o espírito que procede do princípio é chamado Sabedoria, o espírito que procede do espírito é chamado “Bina”, a água procede do espírito é chamada “Hesed Din” à direita, alimentando todas as coisas, fogo da água, “Gebura” à esquerda, secura ígnea... (Ibid., fol. 321 v).

E, fiel ao seu método, E. de Viterbo estabeleceu uma relação entre a Cabala e os textos da Nova Aliança: « Sobre tudo isso os santos Evangelhos   testemunham. » Depois cita São João:

...água do espírito, “de seu seio jorrarão rios de água viva” (João 7, 38). Disse isso do espírito que deveriam receber: o fogo da água, quando “Bina” soprou sobre os Apóstolos (At. 2, 1-4); apareceu como fogo, afim de que de “Bina”, como se disse, os dois (isto é, o fogo e a água) tivessem seu ponto de partida. Onde aparece muito claramente que “Bina”, tanto para vós quanto para os antigos, é chamada espírito (Ibid., fol. 322). [Excertos traduzidos por Antonio Carneiro   de ensaio da autora em Cabalistas Cristãos]