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SchayaC / O Homem e o Absoluto segundo a Cabala / L’Homme et l’Absolu selon la Kabbale

  

Para compreender as premissas intelectuais da Cabala   ou do esoterismo judeu — que são aqueles do esoterismo ou da metafísica em geral — deve-se imbuir da ideia que suas doutrinas têm por ponto de partida a contemplação espiritual, a inspiração pura ou a "intuição intelectual", e não a atividade autocrática da razão. Quando o pensamento simplesmente lógico tende a superar, por meio da abstração, o plano dos fenômenos para apreender seu Princípio transcendente, ele é conduzido a reconhecer seus limites — traçados pelas condições do conhecimento distintivo — e sua impotência a atravessá-los; não que elo as reconheça sempre de fato, sem que não haveria sistemas filosóficos, mas seus embaraços mesmos provam que não é suficiente construir teorias para apreender o Real em si. Ou, só as doutrinas tradicionais e portanto "inspirados" vão além dos círculos viciosos do mental e mostram a via de saída em direção ao Intelecto puro, universal e "incriado".

Como nos ensina a Cabala — e também, da maneira a mais direta possível, o Neoplatonismo   e o Vedantismo — o Espírito reside, em transcendendo a alma, no profundo desta. A alma e todas as manifestações formais ou distintas, sejam internas ou externas, procedem dele, mas ele é sem forma e sem distinção; nele, o sujeito e o objeto do conhecimento fazem um: o Espírito se conhece inteiramente, ele é o Conhecimento total e tudo o que é conhecível, em si e nas coisas. O pensamento só é um plano de reflexão individual e formal do que é conhecível, do Conhecimento ou do Espírito; ela se move sempre entre um sujeito mental, ou aquele que pensa, e um objeto mental, ou aquele que se reflete no pensamento. Mas aquilo que se reflete no pensamento não é assimilado por ela que em sua forma mental, não na sua forma concreta — seja corporal, seja sutil — nem a mais forte razão na sua realidade supra-formal, espiritual e universal; assim, o pensamento é um espelho psíquico e racional de todas as coisas inteligíveis, espelho que não se torna jamais o que reflete. O pensamento logo não permite àquele que pensa assimilar, por ele apenas, a realidade do objeto mental: permanece o conhecimento simbólico das coisas, conhecimento que aproxima delas o pensador, mas que não o identifica realmente com elas. O pensamento deixa subsistir o dualismo entre o sujeito e o objeto, a tal ponto que o homem que só se conhece por ele, não verdadeiramente se assimilou; ele não se conhece realmente e só representa para ele mesmo sua própria forma mental, o pensamento ou a imagem que se faz dele mesmo. É o dualismo inerente ao pensamento, que á a causa da dúvida e do erro; o Espírito, ao contrário, é a unidade real do sujeito e do objeto cognitivos, e esta unidade é a certeza, a verdade do conhecimento.

A Verdade não poderia portanto ser encontrada só pelo pensamento, quer dizer por uma faculdade que em razão de sua natureza dualista não pode superar inteiramente o abismo de sua dúvida; em revanche, o homem não pode encontrar a Verdade sem qualquer concurso do pensamento, pois é um ser pensante, e se o pensamento não tivesse nenhuma relação com a Verdade, o homem não teria mais ligação consciente com ela. Uma coisa é certa: a noção mental da Verdade existe; o pensamento a opõe ao erro e a identifica ao conceito do Real. Isto indica, ad extra, uma relação entre o pensamento e a Verdade, "relação" que, ad intra, não é outra além do Espírito. É o Espírito que conduz à Verdade. O pensamento constitui o traço de união entre o homem e o Espírito, mas aí se interpões ao mesmo tempo como um obstáculo, por causa de seu dualismo "orgânico", cujas expressões são a dúvida e o erro; também o pensamento não poderia superar o erro e se integrar na Verdade, sem se conformar ao Espírito e sem se apagar finalmente nele.


Índice I breve 9600 II breve 7392 III A criação, imagem de Deus IV O Reino dos Céus V O Mundo corporal e o Abismo cósmico VI O Mistério do Homem VII O Retorno ao Uno VIII Do Grande Nome de Deus