A Totalidade, o Uno, ou o Todo, é a Divindade da qual flui “todas as formas e fases da Existência”; ao mesmo tempo elas “esforçam-se por retornar de onde vieram e Aí permanecer”. A Divindade, o Reino Divino, no neoplatonismo é abordado através de uma ideia, um conceito filosófico, ou possivelmente um símbolo matemático, mas não é personificado.
Nas Enéadas o universo é compreendido como uma totalidade absoluta, um ser ideal e perfeito. Consiste de uma escala de entes cósmicos alguns dos quais são perceptíveis aos sentidos, tais como planetas e estrelas; mas os mais altos e mais “divinos” entes estão além do alcance da percepção humana ordinária. O homem ele mesmo é posto bem baixo no sistema cósmico, embora em sua alma guarde uma partícula do grande ente cósmico conhecido com “Alma-do-Todo”, com a qual tem a possibilidade de ultimamente se reunir ele mesmo.
A Alma-do-Todo é um dos três entes ou “hipóstases” que juntos constituem o Reino Divino. É gerado pela, ou é a emanação da, hipóstase que se encontra logo acima na hierarquia cósmica e que é a segunda hipóstase do Reino Divino. Esta segunda hipóstase é chamada Mente Divina ou Princípio Intelectual (em grego noûs).
A primeira hipóstase da Tríade Divina Suprema é chamada de Uno, o Absoluto, o Infinito, o Incondicionado; algumas vezes também o Pai.
Ao mesmo tempo temos de tentar apreender que o Absoluto ou o Uno é também o Múltiplo, posto que é em sisi mesmo a Totalidade de tudo que existe e contém tudo dentro de si mesmo. Da mesma maneira a Mente Divina contém todas as inteligências. De acordo com MacKenna, tradutor de Plotino,
o Universo Intelectual ou Inteligível contém, ou mesmo em certos sentidos é, todas as mentes ou inteligências particulares; e aí, em suas espécies, estão imagens, representações, fantasmas, “sombras” desta Mente Divina ou universal. Todas as fases da existência — até mesmo a matéria, a Última, a menor imagem do Ser-Real — estão todas “idealmente” presentes desde a Eternidade neste reino de Pensamentos divinos, esta Totalidade de Sabedoria Suprema ou “mentação”.
De maneira similar, a Alma-do-Todo é a origem e continente de todas as almas, que pelo fato de sua identidade com a Alma Universal do Todo são elas mesmas potencialmente divinas. A Alma-do-Todo é conhecida como a Causa Eterna do Todo que Existe, o Princípio Vital do todo que é inferior à Tríade Divina.
Além das três hipóstase do Reino Divino vem o “Universo Apreendido pelos Sentidos ou Material”. O mais alto estágio deste nível é os Deuses; também conhecidos como Ideias, Pensamentos Divinos, Arquétipos, Formas-Intelectuais de tudo que existe nas esferas inferiores, o Universo Espiritual, os Seres Reais, Poderes.
Descendo ainda mais do Reino Divino chegamos aos estágio de entes conhecidos pelos seguintes nomes: Supernais, Celestiais, Espíritos Divinos, ou Demônios.
Descendo ainda mais vem o Homem, que é constituído em três fases, ou imagens da Alma Divina:
- A Alma-Intelectiva, ou Intuitiva, Intelectual, a Alma Inteligente ou Intelectual; ou o Princípio Intelectual da Alma.
- A Alma Raciocinante
- A Alma não raciocinante
Na terminologia da Philokalia estas três fases do homem correspondem a:
Abaixo do Homem vem a Matéria, a “mais baixa e menor emanação do poder criativo”.
E além da Matéria há o nível do “Não-Ser Absoluto”.
Uma simplificação, e uma aproximação deste esquema pode ser expresso no diagrama abaixo, que é uma forma reduzida da verdadeira imagem do universo:
Absoluto
Mente Divina
Alma-do-Todo
Universo Inteligível
Celestiais
Homem
Matéria
Absoluto Não-Ser
Os níveis mais altos do universo têm progressivamente mais ser e menos matéria e, ao contrário, as partes mais baixas do universo têm menos ser e mais matéria. A matéria é descrita como indefinida: “a matéria é essencialmente indefinidade” [Enéadas], também “na esfera mais baixa há menos Ser” [Enéadas]. As esferas mais altas chegam progressivamente próximas da Razão-Princípio que define e delimita a matéria, pondo-a sob ordem. Através de todo universo a presença da matéria (ou Indefinidade) é algo em termos de graus ou “fases” de acordo com o nível de ser em relação à Razão-Princípio. Plotino define a diferença entre fases de Indefinidade como “a diferença entre Arquétipo e Imagem”. Assim cada fase cósmica é ao mesmo tempo uma imagem da fase superior a ela e o arquétipo da inferior a ela.
Esta correspondência do mais baixo ao mais alto é provavelmente a mais antiga e universalmente sustentada ideia filosófica, expressa na fórmula hermética “Assim acima como abaixo” e nas palavras da Oração Pai Nosso, “Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu”.