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terça-feira 30 de abril de 2024

  

Às representações do Sol com raios alternadamente retilíneos e ondulados, é possível ver que as duas espécies de raios se encontram também, de modo muito semelhante, em certas figurações simbólicas do coração. [Guénon]


O Sol foi frequentemente identificado, em tempos e lugares muito diferentes, e até na Idade Média ocidental, com raios de duas espécies, alternadamente retilíneos e ondulados. Um exemplo notável dessa figuração encontra-se numa tabula assíria do British Museum, datada do século I antes de Cristo, em que o Sol aparece como uma espécie de estrela com oito raios: cada um dos quatro raios verticais e horizontais é constituído por duas linhas retas que formam entre si um ângulo muito agudo, e cada um dos quatro raios intermediários é formado por um conjunto de três linhas onduladas paralelas. Em outras figurações equivalentes, os raios ondulados são constituídos como os raios retos, por linhas que se unem em suas extremidades, e que reproduzem então o aspecto bem conhecido da "espada flamejante". Em qualquer dos casos, é evidente que os elementos essenciais a considerar são respectivamente a linha reta e a linha ondulada, às quais se reduzem as duas espécies de raios nas representações mais simplificadas. Mas, qual será exatamente a significação dessas duas linhas?

Primeiramente, e de acordo com um sentido que pode parecer o mais natural em se tratando de uma figuração do Sol, a linha reta representa a luz e a linha ondulada, o calor; isso corresponde ainda ao simbolismo das letras hebraicas resh e shin, enquanto elementos das raízes ar e ash, que exprimem precisamente as duas modalidades complementares do fogo. No entanto, o que parece complicar as coisas é, por outro lado, a linha ondulada ser também, em geral, um símbolo da água. Nessa mesma tabula assíria que mencionamos há pouco, as águas estão figuradas por uma série de linhas onduladas totalmente semelhantes àquelas que se vê nos raios do Sol. A verdade é que, em virtude do que já explicamos, não existe nisso qualquer contradição: a chuva, que naturalmente se liga ao símbolo geral da água, pode na realidade ser considerada como proveniente do Sol. Além disso, como ela é um efeito do calor solar, sua representação pode legitimamente confundir-se com a do próprio calor. Assim, a dupla radiação que consideramos é luz e calor sob um certo ângulo; mas, ao mesmo tempo, sob outro ângulo, é também luz e chuva, pelos quais o Sol exerce sua ação vivificante sobre todas as coisas. [Guénon]


Ver online : René Guénon