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metaxu etc

  

metaxu / μεταξύ / entretempo / entrementes / medium / intermediário / mediador / διάστημα / diastema / intervalo / mundo mediano / entre-dois / barzakh

gr. μεταξύ, metaxú ou metaxy (tó): intermediário, meio. Latim: medium, media. Platão dá a essa palavra um sentido metafísico: tudo o que é intermediário entre o Ser e o não-ser, objeto de opinião (dóxa) (Rep, V, 477a-479d); Aristóteles   lhe dá um sentido lógico: não há intermediário entre os contraditórios (Met., T, 7).


Henry Corbin

Ibn Arabi   levou longe a metafísica da Imaginação. Ele está em perfeito acordo com Sohravardi para estabelecer a realidade, de pleno direito, do mundo mediano que é o barzakh, o mundo do entre-dois. Ele o designa pela expressão corânica de «confluente dos dois mares». É para ele o confluente do mundo das Ideias puras em sua substancialidade inteligível e do mundo dos objetos da percepção sensível. É o mundo no qual se torna viva toda coisa que aparece inanimada neste mundo aqui. É o mundo ao qual chegou Moisés antes do encontro com seu iniciador (Khezr, Khadir). [CorbinTC]


Enfatizando a necessidade imperativa de um inter-mundo, de um intermediário entre o sensível e o inteligível, Corbin   baseia sua argumentação tanto nos Platonistas da Pérsia, quanto nos Theosophos do Ocidente. A começar por Jacob Boehme   que faz questão de definir entre o inteligível e o sensível, mais precisamente entre a Deidade transcendente e oculta, a Deitas abscondita, e o mundo do homem, um intermediário que denomina o Santo Elemento, uma «corporeidade espiritual», que é a Morada, a Presença Divina em nosso mundo. Esta Morada, é a Sabedoria, a Sofia. Esta Presença, é a Shekhina dos cabalistas. Ela é o lugar imaginal de uma encarnação totalmente espiritual, precedendo por toda eternidade aquela que a religião exotérica situa na história, esta história que para os teósofos xiitas e ismaelitas não é senão a metáfora de Verdadeira Realidade.

De um lado e de outro, é a ideia de Teofania que é a dominante, como se realizam por essência e necessariamente entre o inteligível e o sensível, e isto que é designado como Sofia, como «Alma do Mundo, é ao mesmo tempo o lugar imaginal e o órgão desta Teofania. É ao mesmo tempo a mediadora necessária, Deus revelatus, entre a Divindade pura, para sempre oculta, fora de alcance, e o mundo do homem. É o que denominamos alhures o «paradoxo do monoteísmo», e que é um tema constante em todas as doutrinas, aparentadas de uma maneira ou outra à Cabala   nas «religiões do Livro». Em mística judaica igualmente, os Hassidim estabelecem uma tripla diferenciação: há o Deus inconhecível, há o lugar de emanação da Glória, o qual é a «Face do Alto» e que nem mesmo os Anjos conhecem; enfim há a Glória manifestada, a «Face de Baixo», a única que podemos contemplar. Esta «Face de Baixo», é o Anjo Metatron como «Anjo da Face», e que por aí mesmo é também a Presença, a Sofia, a Alma do Mundo.

É precisamente a necessidade desta Entidade espiritual mediadora que recusa todo e qualquer dualismo originário de um modo ou de outro, do cartesianismo, ou aparentado a este. A necessidade da mediação que nos lembram Jacob Boehme e os seus, é precisamente a necessidade do mundus imaginalis, experimentada por nossos filósofos Ishraqiyun. [CorbinCETC]

Chittick

Um barzakh é algo que está entre e separa duas outras coisas, mas combina os atributos de ambas. A rigor, toda coisa existente é um barzakh, pois tudo tem seu próprio nicho entre dois outros nichos dentro da hierarquia ontológica conhecida como cosmos. “Não existe nada além de barzakhs, já que um barzakh é o arranjo de uma coisa entre duas outras coisas. . . , e a existência não tem bordas (taraf)” (III 156.27). A própria existência é um barzakh entre o Ser e o nada. Na hierarquia de mundos que compõe o cosmos, o termo barzakh refere-se a um mundo intermediário entre o mundo luminoso ou espiritual e o mundo escuro ou corpóreo. O termo é relativo, como outros termos cosmológicos, mas nos ajuda a situar as coisas existentes no cosmos com um pouco mais de precisão. Em vez de dizer que as coisas são espirituais ou corpóreas, podemos agora dizer que elas também podem ser barzakhi, isto é, nem espirituais nem corpóreas, mas em algum lugar no meio. [ChittickSPK:14]