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espada

terça-feira 30 de abril de 2024

  

A espada de madeira do khatib (pregação) simboliza antes de tudo o poder da palavra, o que aliás deveria ser muito evidente, ainda mais que essa é uma das significações mais comumente atribuída à espada, e que também não é estranha à tradição cristã, tal como mostram de forma clara os textos apocalípticos: "Na mão direita tinha sete estrelas, e de sua boca saía uma espada afiada, com dois gumes; sua face era como o sol, quando brilha com todo seu esplendor." (Apocalipse, 1, 16: nota-se aí a reunião do simbolismo polar — as sete estrelas da Ursa Maior, ou o sapta-riksha da tradição hindu — com o simbolismo solar, que iremos reencontrar na significação tradicional da própria espada). E "da sua boca sai uma espada afiada para com ela ferir as nações". A espada que sai da boca só pode ter evidentemente este sentido, tanto mais que o ser descrito nas duas passagens outro não é senão o próprio Verbo ou uma de suas manifestações. [Guénon]


Segundo A. K. Coomaraswamy, no Japão em especial, segundo a tradição xintoísta, "a espada provém de um relámpago-arquetipo, do qual é a descendente ou a hipóstase". [Guénon]
A espada não é assimilada simbolicamente apenas ao raio, mas também, tal como a flecha, ao raio solar. É a isso que se refere, de modo visível em passagens do Apocalipse, o fato de que a boca da qual sai a espada pertence a um rosto "brilhante como o sol". É também fácil estabelecer, sob esse aspecto, uma comparação entre Apolo, que mata a serpente Píton com suas flechas, e Indra, que mata o dragão Vritra com o vajra. E esse paralelo não poderá deixar qualquer dúvida sobre a equivalência desses dois aspectos do simbolismo das armas, que nada mais são, em suma, que dois modos diferentes de expressão de uma única e mesma coisa. [Guénon]
Em uma outra de suas significações, a espada é símbolo do Verbo ou da Palavra, com seu duplo poder criador e destruidor (ver, por exemplo, o Apocalipse, 1,16 e 19, 15). É evidente, além disso, que esse duplo poder é análogo à força dupla da qual acabamos de falar, ou que, mais exatamente ainda, são simples aplicações diversas de uma única e mesma coisa. A respeito da espada podemos registrar ainda que, segundo certos historiadores antigos, os citas representavam a Divindade por uma espada cravada no topo de um montículo; sendo este a imagem reduzida da montanha, encontramos assim reunidos dois símbolos do "Eixo do Mundo". (v. Excalibur) [Guénon]
O simbolismo "axial" nos reconduz à ideia de harmonização, concebida como a meta da "guerra santa" em suas acepções, quer interior, quer exterior, pois o eixo é o lugar em que todas as oposições se conciliam e desvanecem, ou, em outros termos, o lugar do equilíbrio perfeito, que a tradição extremo-oriental designa como o "Invariável Meio". É o que também representa a espada colocada verticalmente como eixo de uma balança, conjunto este que forma os atributos simbólicos da justiça. Assim, sob esse ângulo, que corresponde na realidade ao ponto de vista mais profundo, a espada não só representa o meio, como se poderia acreditar, restringindo-se ao sentido aparentemente mais imediato, mas também o próprio fim a alcançar. Ela sintetiza, de algum modo, os dois aspectos em sua significação total. [Guénon]

Ver online : René Guénon