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branco-preto
terça-feira 30 de abril de 2024
No sentido mais imediato, a justaposição do branco e do preto representa naturalmente a luz e as trevas, o dia e a noite, e, por consequência, todos os pares de opostos ou de complementares (vale a pena lembrar que a oposição num certo nível torna-se complementaridade em outro nível, de modo que o mesmo simbolismo é aplicável a ambos). Tem-se aqui, portanto, a esse respeito, um exato equivalente do simbolismo extremo-oriental do Yin-Yang. Pode-se mesmo notar que a interpenetração e a inseparabilidade dos dois aspectos, o yin e o yang, representadas nesse último caso pelo fato de as duas metades da figura serem delimitadas por uma linha sinuosa, são também evidenciadas pela disposição axadrezada das duas espécies de quadrado. Já uma outra disposição, como por exemplo a de faixas retilíneas brancas e pretas alternadas não tornaria tão clara a mesma ideia e poderia mesmo levar a pensar-se numa justaposição pura e simples. Essa última disposição foi no entanto empregada em certos casos; aparece em especial no estandarte (Beaucéant) dos Templários, cuja significação era a mesma.
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Além do significado que examinamos até aqui, existe ainda um outro de uma ordem mais profunda, que resulta de imediato do duplo sentido da cor preta, que explicamos em outras ocasiões. Acabamos de considerar apenas o seu sentido inferior e cosmológico, mas é preciso também considerar o seu sentido superior e metafísico. Um exemplo de particular clareza pode ser encontrado na tradição hindu, onde aquele que é iniciado deve sentar-se sobre um couro com pêlos pretos e brancos, que simbolizam respectivamente o não-manifestado e o manifestado. O fato de que se trata de um rito essencialmente iniciático justifica de modo suficiente o paralelo com o "pavimento mosaico" e a atribuição expressa do mesmo significado a este último, ainda que no estado atual das coisas esse significado tenha sido completamente esquecido. Encontramos portanto aí um simbolismo equivalente ao de Arjuna, o "branco", e de Krishna, o "preto", que são, no próprio ser, o mortal e o imortal, o "ego" e o "Eu"; e visto serem eles também os "dois pássaros inseparavelmente unidos" de que trata os Upanishads , isso evoca ainda um outro símbolo, ou seja, o da águia branca e preta de duas cabeças, que figura em certos altos graus maçônicos, novo exemplo que, após tantos outros, mostra uma vez mais que a linguagem simbólica tem na verdade um caráter universal. [Guénon]
Ver online : René Guénon