Ribeiro de Moura
Essas fórmulas podem parecer enigmáticas: se a subjetividade última não se pensa logo que existe, como algum dia ela o faria? Como aquilo que não pensa poderia pôr-se a pensar, e a subjetividade não é reduzida à condição de uma coisa ou de uma força que produz seus efeitos no exterior sem ser capaz de sabê-lo? — Nós não queremos dizer que o Eu primordial se ignora. Se se ignorasse, com efeito ele seria uma coisa, e nada poderia fazer com que em seguida ele se tornasse (…)
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Merleau-Ponty, Maurice
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Merleau-Ponty (1945/2006:463-467) – subjetividade
21 de março -
Merleau-Ponty (1966/1996:94-96) – emoções não são interiores
21 de fevereirodestaque
Temos de rejeitar o preconceito de que o amor, o ódio ou a raiva são "realidades interiores" acessíveis apenas a uma testemunha, a pessoa que os experimenta. A raiva, a vergonha, o ódio e o amor não são fatos psíquicos escondidos nas profundezas da consciência de outra pessoa; são tipos de comportamento ou estilos de conduta visíveis do exterior. Estão naquele rosto ou naqueles gestos, não estão escondidos atrás deles. A psicologia só começou a desenvolver-se quando abandonou a (…) -
Sallis (2019:164-167) – discussão de Merleau-Ponty sobre a liberdade
15 de fevereirodestaque
Um dos principais objetivos da discussão de Merleau-Ponty sobre a liberdade é colocar esta questão da praxis e da relação da filosofia com a praxis. Vamos esboçar o seu argumento sobre a liberdade:
(1) Em primeiro lugar, pode argumentar-se que o sujeito não é uma coisa; logo, não é determinado por uma causalidade objetiva: "Para alguém ser determinado por algo do exterior, teria de ser ele próprio uma coisa" (Phénoménologie da la Perception, p. 496). Mas se não pode haver (…) -
Merleau-Ponty (1945/2006:496-499) – não há causalidade entre sujeito e corpo, mundo, sociedade
15 de fevereiroRibeiro de Moura
Mais uma vez, é evidente que não é concebível nenhuma relação de causalidade entre o sujeito e seu corpo, seu mundo ou sua sociedade. Sob pena de perder o fundamento de todas as minhas certezas, não posso pôr em dúvida aquilo que minha presença a mim mesmo me ensina. Ora, no momento em que me dirijo a mim mesmo para me descrever, entrevejo um fluxo anônimo, um projeto global em que ainda não existem “estados de consciência” nem, com mais razão ainda, qualificações de (…) -
Barbaras (1991:176-179) – o visível
19 de dezembro de 2023destaque
[…] Que significação conceder a este primado da visão? É certo que "o nosso mundo é principalmente e essencialmente visual; não se faria um mundo com perfumes ou sons"; no entanto, esta preeminência não se limita a esta constatação factual. Refere-se sobretudo ao fato de ser apenas através da visão que temos acesso ao mundo enquanto mundo. Como diz Merleau-Ponty em L’œil et l’esprit: "Le ’quale visuel’ me donne et me donne seul la présence de ce qui n’est pas moi, de ce qui est (…) -
Barbaras (1991:273-276) – o invisível
19 de dezembro de 2023destaque
O propósito de Merleau-Ponty é pôr em evidência uma articulação original e, em última análise, uma quase-identidade do visível e do invisível. O invisível não é o outro de um visível concebido como inerentemente positivo, mas aquilo que, para preservar a sua distância, o seu poder significante, se torna visível; o visível, por sua vez, não é a negação do invisível, mas o elemento da sua manifestação e, neste sentido, um modo primitivo de idealidade. O visível é, de fato, a (…) -
Merleau-Ponty (1945/2006:40-44) – juízo
23 de setembro de 2023Ribeiro de Moura
O intelectualismo propunha-se a descobrir a estrutura da percepção por reflexão, em lugar de explicá-la pelo jogo combinado entre forças associativas e a atenção, mas seu olhar sobre a percepção ainda não é direto. Nós o veremos melhor examinando o papel que a noção de juízo desempenha em sua análise. O juízo é frequentemente introduzido como aquilo que falta à sensação para tornar possível uma percepção. A sensação não é mais suposta como elemento real da consciência. (…) -
Merleau-Ponty (1960:191-194) – subjetividade
17 de junho de 2023Gomes Pereira
Que há em comum nessas filosofias esparsas por três séculos que agrupamos sob a insígnia da subjetividade? Há o Eu que Montaigne amava acima de tudo, e que Pascal odiava, aquele de que [167] mantemos registro diário, de que anotamos as audácias, as fugas, as intermitências, as voltas, que experimentamos ou testamos como um desconhecido. Há o Eu que pensa de Descartes e de Pascal ainda, aquele que alcançamos por um só instante, mas que é então tudo em sua aparência, é tudo o (…) -
Merleau-Ponty (1960:111-115) – a sedimentação
17 de junho de 2023Gomes Pereira
Se a palavra é comparável a um gesto, o que ela está encarregada de expressar terá com ela a mesma relação que o alvo tem com o gesto que o visa, e nossas observações sobre o funcionamento do aparelho significante já envolverão uma certa teoria da significação que a palavra expressa. Meu enfoque corporal dos objetos que me rodeiam é implícito, e não supõe tematização alguma, “representação” alguma de meu corpo nem do meio. A significação anima a palavra como o mundo anima meu (…) -
Merleau-Ponty (1945/2006:182-183) – sedimentação
17 de junho de 2023Ribeiro de Moura
[...] O sujeito kantiano põe um mundo, mas, para poder afirmar uma verdade, o sujeito efetivo precisa primeiramente ter um mundo ou ser no mundo, quer dizer, manter em torno de si um [182] sistema de significações cujas correspondências, relações e participações não precisem ser explicitadas para ser utilizadas. Quando me desloco em minha casa, sei imediatamente e sem nenhum discurso que caminhar para o banheiro significa passar perto do quarto, que olhar a janela (…)