FICHTE (Johann Gottlieb), filósofo alemão (Rammenau, Saxe, 1762 — Berlim 1814). Educado por um pastor de aldeia depois no colégio de Schulpforta, manifestou, por uma fuga célebre, um amor violento à liberdade. Leu Lessing, defensor da liberdade do pensamento, entusiasmou-se por Kant, que deu uma prova prática da liberdade, capaz de pôr um fim a todas as vãs tentativas de demonstração teórica. Sua primeira obra especulativa é uma Crítica de toda revelação (1792); sua primeira obra engajada, uma Defesa da Revolução Francesa. A questão do ateísmo, que devia sacudir toda a Alemanha literária, é uma querela contra Fichte. Foi o primeiro professor de filosofia na Academia de Berlim. Sua filosofia apresenta dois aspectos: 1.° um, rigoroso e abstrato, que se exprime nos diferentes enunciados da Teoria da ciência (1794, 1801, 1804). Essa teoria é apenas “de um lado a outro uma reflexão sobre a liberdade”. A ciência de que trata é finalmente, a ciência filosófica, a única apta a poder dar consistência a todas as aspirações da imaginação humana; 2.° o outro aspecto, onde Fichte se revela como filósofo da vida econômica e social (O Estado comercial fechado, 1800; Discursos à nação alemã, 1807-1808). O seu verdadeiro pensamento de republicano liberal e de filósofo humanista foi deformado e mal conhecido. É o fundador da filosofia moderna: do método “fenomenológico”, das descrições da existência e da reflexão sobre a história. Hegel escreveu que três grandes acontecimentos tinham marcado o seu século. A teoria da ciência, de Fichte, é o primeiro (os dois outros são Wilhelm Meister, de Goethe, e a Revolução Francesa). O espírito da filosofia de Fichte inspirou profundamente a fenomenologia moderna e a filosofia da existência. (V. Teoria da ciência). [Larousse]
Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) preocupado com os estudos de Kant e depois de haver discordado de muitos dos seus pontos de vista doutrinários, interessou-se pelo fundamento da relação gnosiológica entre o sujeito e o objeto. Entre o dogmatismo e o idealismo, julga Fichte que o ato de libertação deve ser pela escolha do idealismo. O ponto de partida é a atividade consciente, o Eu como auto-consciência. Mas o Eu, para Fichte, não é algo estático, mas algo dinâmico. O pensamento se afirma como ato de pensar. Esse Eu se descobre por meio de uma intuição intelectual. O Eu se oferece a si mesmo num Eto de liberdade absoluta. Mas a consciência é bipolar. Ao Eu se opõe o não-Eu. Ao sujeito, o objeto. A cisão da realidade em Eu e não-Eu, exige uma síntese que o anule, mas sem destruí-los. Essa síntese se dá pela limitação do Eu pelo não-Eu. Para Fichte, em suma, o Eu se forma pelo pensar. Mas o Eu não é propriamente um Eu individual, mas um Eu que é um ponto onde a atividade criadora do Absoluto emerge na consciência individual. [MFS]
Fichte parte do absoluto e realiza a intuição intelectual do absoluto, e então, mercê dessa intuição intelectual do absoluto, intui o absoluto sob a espécie do eu, sob a espécie do eu absoluto, não do eu empírico, mas do eu em geral, da subjetividade geral. Mas o eu absoluto, .que é aquilo que o absoluto é (o absoluto é o eu), não consiste em pensar, pois o pensar vem depois. Consiste em fazer, consiste numa atividade. A essência do absoluto, do eu absoluto, é para Fichte a ação, a atividade. E o eu absoluto, mediante sua ação, sua atividade, necessita para essa ação, para essa atividade, um objeto sobre o qual recaia essa atividade; e então, no ato primeiro de afirmar-se a si mesmo como atividade, necessariamente tem que afirmar também o “não-eu”, o objeto, aquilo que não é o eu, como fim dessa atividade E deste dualismo, desta contraposição entre a afirmação que o eu absoluto faz de si mesmo como atividade e a afirmação conexa e paralela que faz também do “não-eu”, do objeto como objeto da atividade, nasce o primeiro trâmite de explicitação do absoluto. O absoluto se explicita em sujeitos ativos e em objetos da ação.
Já temos aqui derivado, dedutiva e construtivamente, do absoluto, o primeiro momento dessa manifestação no tempo e no espaço. De um lado, teremos os “eus” empíricos. Mas, do outro lado, teremos o mundo das coisas. Porém, como o eu do homem empírico é fundamentalmente ação, o conhecimento tem que vir como preparação para a ação. Em Fichte se reconhece a primazia da consciência moral de Kant. O conhecimento é uma atividade subordinada que tem por objeto permitir a ação, propor ao homem ação. O eu é plenamente aquilo que é quando atua moralmente. Para atuar moralmente o eu necessita: primeiro, que haja um “não-eu”; segundo, conhecê-lo. E aqui se vê como em trâmites minuciosos, sucessivos, vai tirando Fichte, dedutiva e construtivamente, do absoluto toda sua explicitação. sua manifestação, sua fenomenalização no mundo das coisas, no espaço, no tempo e na história. [Morente]