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sabedoria natural

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

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Ananda Coomaraswamy  : Coomaraswamy Filosofia - DA PERTINÊNCIA DA FILOSOFIA

Quanto a esta ordem, se o conhecimento ou saber é por abstração e a sabedoria é sobre conhecimento ou saber, segue-se que esta sabedoria, que pertence a coisas conhecidas ou passíveis de ser conhecidas e atingidas por um processo de raciocínio ou dialética a partir de sensível - dados experimentais e que não é nem reivindica ser uma doutrina gnóstica ou revelada, de modo algum transcende o pensamento ou, digamos, a ciência mais verdadeira. Na realidade, é uma sabedoria excelente e, como pressupõe boa vontade, tem um grande valor para as pessoas [1]. Mas temos de lembrar que, devido à sua Sensível - base experimental, ou seja, estatística, e mesmo supondo uma operação infalível da razão como pode ser atribuído à matemática, essa sabedoria nunca consegue estabelecer certezas absolutas e consegue fazer previsões apenas com grande probabilidade de êxito; as "leis" da ciência, por mais úteis que sejam, nada mais fazem do que resumir situações passadas. Além do mais, a filosofia no segundo dos sentidos dados acima, ou seja, no sentido de sabedoria humana de coisas conhecidas ou passíveis de ser conhecidas, tem de ser sistemática, tendo em vista que por hipótese exige-se dela uma perfeição que consiste em explicar tudo, num ajuste perfeito de todas as partes do quebra-cabeça, de modo a formar um todo lógico; além disso, o sistema tem de ser fechado, ou seja, limitado ao campo de espaço e tempo, de causa - causa e efeito, porque por hipótese se refere a coisas determinadas que podem ser conhecidas, que são apresentadas à cognição - faculdade cognitiva disfarçadas de efeitos para os quais procuramos causas. Por exemplo, tendo o espaço uma extensão indefinida, e não infinita [2], a sabedoria de coisas determinadas não pode ter nenhuma aplicação no que se refere a saber se a "realidade" pode ou não pertencer a modos não-espaciais, ou seja, imateriais, ou, analogamente, a um modo não-temporal, pois, se existe um "agora", não temos nenhuma aisthesis - experiência sensível de alguma coisa como essa nem conseguimos concebê-la em termos de lógica. Se tentássemos ultrapassar os limites naturais da operação dessa coisa usando a sabedoria humana, no máximo poderíamos dizer que o referencial indefinido - grandeza indefinida (infinito matemático) apresenta uma certa analogia com o referencial infinito essencial que é postulado na religião e na metafísica; mas basicamente não seria possível afirmar nem negar nada em relação à existência desse infinito, ou seja, não poderíamos dizer se esse infinito "é" ou "não é".


Observações

[1O bom-senso é uma coisa admirável, como o instinto; mas nenhum dos dois é a mesma coisa que raciocínio nem a mesma coisa que a sabedoria, que não se refere a assuntos humanos, mas é "especulativa", ou seja, conhecida no espelho do nous - intelecto puro.

[2Como demonstrou Santo Tomás de Aquino de modo muito elegante na Summa Theologica (Tomás de Aquino) I.q.7, a.3 (cf. q.14, a. 12, ad.3); o relativamente infinito dele é o nosso indefinido (ananta), incalculável (asamkhya), mas não sem lugar (adesa) nem completamente intemporal (akala).