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religião natural

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Ananda Coomaraswamy  : Coomaraswamy Filosofia - DA PERTINÊNCIA DA FILOSOFIA

A sabedoria humana depende inteiramente de si própria (racionalismo); se essa sabedoria propõe uma religião, é o que se denomina religião natural e tem como divindade o referencial que diz que a operação é vista em toda parte, mas mesmo assim é absolutamente refrataria a uma análise, a saber vida ou energia. E essa religião natural é um panteísmo ou monismo que postula uma alma (anima ou animação) do universo, conhecida em toda parte por seus efeitos, que podem ser percebidos no movimento das coisas; entre essas coisas qualquer distinção entre animado e inanimado estará fora de lugar, visto que só podemos definir racionalmente animação como "o que é expresso em movimento ou causa um movimento". Ou, se não é um panteísmo, é um politeísmo ou pluralismo em que se postula que uma série de animações (forças) está subjacente e "explica" uma variedade correspondente de movimentos (v. Animismo). Mas nada pode ser afirmado nem negado no que se refere a propor que tais animações sejam meramente aspectos determinados e contingentes de uma realidade indeterminada. Expressos de modo mais técnico, basicamente o panteísmo e o politeísmo são concepções leigas e, reconhecidos numa dada doutrina religiosa ou metafísica, constituem nelas interpolações da razão e não são essenciais para a doutrina religiosa ou metafísica em si (v. Panteísmo).

Por outro lado, a sabedoria humana não confia exclusivamente em si própria e pode ser aplicada a uma exposição parcial (isto é, analógica) da sabedoria religiosa ou metafísica, consideradas estas anteriores a ela própria. É que, embora as duas sabedorias (filosofia II e filosofia I) sejam de espécies diferentes, pode haver uma coincidência de forma e, neste sentido, pode haver o que se denomina reconciliação da ciência com a religião. Por isso uma depende da outra, se bem que de modos diferentes; para ser corrigidas formalmente as ciências dependem da verdade revelada, e a verdade revelada depende das ciências para ser demonstrada formalmente por analogia, "não como se tivesse necessidade dela, e sim apenas para poder transmiti-las com maior facilidade".

Nos dois casos, a meta final da sabedoria é um bem ou felicidade que aparece para o próprio filósofo ou para os seus vizinhos ou para a humanidade em geral, mas necessariamente sempre em termos de bem-estar. Esse tipo de bem pode ou não ser um bem moral [1].9 Por exemplo, supondo uma boa vontade, ou seja, um senso natural de justiça, a religião natural é expressa eticamente na sanção de leis de conduta como essa, pois a maioria delas leva ao bem comum; e quem sacrifica até a vida em prol disso pode ser admirado. Na estética (a arte sendo circa factibilia), se a religião natural receber boa vontade vai justificar a produção desses bens porque estão aptos a contribuir para o bem-estar humano, seja na forma de necessidades físicas, seja como fonte de prazer dos sentidos. Tudo isso pertence ao humanismo e está muito longe de ser desprezível, mas no caso de não haver boa vontade, a religião natural também pode ser aplicada para justificar a proposição que diz que "a força tem razão" ou "quem ficar para trás que se arranje" e para produzir artigos, tanto por métodos prejudiciais ao bem comum como por métodos que, em si, se adaptem diretamente a fins prejudiciais, como é o caso do trabalho de crianças e da fabricação de gases venenosos, por exemplo. A verdade revelada, pelo contrário, exige boa vontade a priori e acrescenta que é preciso a ajuda da filosofia racional, como ciência ou como arte, para que a boa vontade possa se tornar eficiente [2].


Observações

[1Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino (I.q.l, a.6, ad. 2).

[2Prudência é definida como recta ratio agibilium; arte é definida como recta ratio factibilium.