Do mesmo modo que Kant, por meio dessa petição de princípio, aceitou sem mais, no Prefácio, o conceito de lei moral como dado, indubitável e existente, ele o fez com um conceito proximamente aparentado, o de dever, ao qual foi dada entrada na ética como se este pertencesse a ela, sem prova posterior que o sustentasse. Mas sou obrigado aqui, de novo, a fazer um protesto. Este conceito une-se a seus afins, portanto aos de lei, mandamento, dever e outros que tais e, tomado neste sentido (…)
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Schopenhauer / Arthur Schopenhauer
Matérias
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Schopenhauer (FM:25-28) – dever
14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro -
Schopenhauer (EDP): o lado assustador da vontade
14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castrotradução
Os filósofos da antiguidade reuniram na mesma ideia muitas coisas absolutamente heterogêneas; cada Diálogo Platão nos fornece provas em massa. A confusão mais grave deste tipo é aquela entre ética e política. O Estado e o reino de Deus, ou a lei moral, são coisas tão diferentes que o primeiro é uma paródia do segundo, uma amarga zombaria da ausência deste último, uma muleta em lugar de uma perna, uma autômato no lugar de um homem.
Os pseudo-filósofos de nosso tempo nos ensinam (…) -
Schopenhauer (MVR1:48-49) – mundo, representação do princípio de razão
25 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroQuem compreendeu distintamente, a partir do mencionado ensaio introdutório, a identidade perfeita do conteúdo do princípio de razão, em meio à diversidade de suas figuras, também ficará convencido do quão importante é precisamente o conhecimento da mais simples de suas formas – que identificamos no TEMPO – para a intelecção de sua essência mais íntima. Assim como no tempo cada momento só existe na medida em que aniquila o momento precedente, seu pai, para por sua vez ser de novo rapidamente (…)
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Schopenhauer (MVR2:20-22) – diálogo entre sujeito e matéria
14 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroO Sujeito — Eu sou, e fora de mim nada existe. Pois o mundo é minha representação.
A Matéria — Que arrogância néscia! Eu, eu sou, e fora de mim nada existe. Pois o mundo é minha forma transitória. Tu és um simples resultado de uma parte dessa forma e és totalmente contingente.
O Sujeito — Que disparate! Nem tu nem tua forma existiríam sem MIM: vós sois condicionados por mim. Quem me abstrai, e ainda assim acredita poder pensar-vos, enreda-se numa grande ilusão: pois vossa existência fora (…) -
Schopenhauer (MVR2:5-7) - idealismo
25 de fevereiro de 2020, por Cardoso de CastroNo espaço infinito, inumeráveis esferas brilhantes. Em torno de cada uma delas giram aproximadamente uma dúzia de outras esferas menores iluminadas pelas primeiras e que, quentes em seu interior, estão cobertas de uma crosta rígida e fria sobre a qual uma cobertura lodosa deu origem a seres vivos que pensam; — eis aí a verdade empírica, o real, o mundo. Todavia, para um ser que pensa, é uma situação penosa encontrar-se sobre a superfície daquelas inumeráveis esferas que vagam livremente no (…)
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Schopenhauer (MVR1:58-61) – A vida é sonho
18 de abril de 2021, por Cardoso de CastroJair Barboza
A questão acerca da realidade do mundo exterior, tal qual a consideramos até agora, sempre se originou de um engano da razão consigo mesma, alçado à confusão geral, de modo que a questão só podia ser respondida mediante o esclarecimento de seu conteúdo. Após o exame da essência inteira do princípio de razão, da relação entre sujeito e objeto e da índole propriamente dita da intuição sensível, a questão tinha de ser suprimida, justamente porque não lhe restou mais significação, (…) -
Schopenhauer (MVR1:156-158) – corpo e vontade
14 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroDe fato, a busca da significação do mundo que está diante de mim simplesmente como minha representação, ou a transição dele, como mera representação do sujeito que conhece, para o que ainda possa ser além disso, nunca seria encontrada se o investigador, ele mesmo, nada mais fosse senão puro sujeito que conhece (cabeça de anjo alada destituída de corpo). Contudo, ele mesmo se enraíza neste mundo, encontra-se nele como INDIVÍDUO, isto é, seu conhecimento, sustentáculo condicionante do mundo (…)
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Schopenhauer (SFM:50-53) – desconstrução da fundamentação da moral kantiana
14 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroA censura que se coloca, em primeiro lugar e diretamente, à fundamentação da moral dada por Kant é que esta origem da lei moral é impossível em nós porque pressupõe que o homem chegue, por si só, à ideia de procurar e de informar a respeito de uma lei para sua vontade, de ter de submeter-se a ela e conformar-se com ela. Isto, porém, não poderia ter vindo sozinho à sua cabeça, mas, quando muito, só depois que uma outra instigante motivação moral, positiva e real, anunciando-se por si mesma e (…)
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Schopenhauer (MVR1:361-365) – o presente
22 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroAntes de tudo temos de reconhecer distintamente que a forma do fenômeno da Vontade, portanto a forma da vida ou da realidade, é, propriamente dizendo, apenas o presente, não o futuro, nem o passado. Estes últimos existem só em conceito, somente em conexão com o conhecimento, na medida em que este segue o princípio de razão. Homem algum viveu no passado e homem algum viverá no futuro. Apenas o presente é a forma de toda vida, mas também sua posse mais segura e que jamais lhe pode ser (…)
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Schopenhauer (MVR1:043-045) – o mundo é representação
14 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro[I 3] “O mundo é minha representação [Vorstellung].” Esta é uma verdade que vale em relação a cada ser [Wesen] que vive e conhece, embora apenas o homem possa trazê-la à consciência [Bewußtseyn] refletida e abstrata. E de fato o faz. Então nele aparece a clarividência filosófica. Torna-se-lhe claro e certo que não conhece sol algum e terra alguma, mas sempre apenas um olho que vê um sol, uma mão que toca uma terra. Que o mundo a cercá-lo existe apenas como representação, isto é, tão-somente (…)
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Schopenhauer (MVR2:763-766) – Vontade de Vida
14 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroNa conclusão de minha exposição, gostaria ainda de dar lugar a algumas considerações sobre a minha própria filosofia. — Como já disse, ela não tem a pretensão de explanar a existência do mundo a partir dos seus últimos fundamentos: antes, detém-se nos fatos da experiência externa e interna, tais como são acessíveis a cada um, e demonstra a sua verdadeira e profunda coerência, sem no entanto ir para além desses fatos na direção de coisas extramundanas e suas relações com o mundo. Minha (…)
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Schopenhauer (2005:414-415) – vida - tragédia e comédia
3 de janeiro de 2020, por Cardoso de CastroA vida do indivíduo, quando vista no seu todo e em geral, quando apenas seus traços mais significativos são enfatizados, é realmente uma tragédia; porém, percorrida em detalhes, possui o caráter de comédia, pois as labutas e vicissitudes do dia, os incômodos incessantes dos momentos, os desejos e temores da semana, os acidentes de cada hora, sempre produzidos por diatribes do acaso brincalhão, são puras cenas de comédia. Mas os desejos nunca satisfeitos, os esforços malogrados, as esperanças (…)
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Schopenhauer (MVR1:81-82) – ilusão e erro
14 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroComo da luz imediata do sol à luz emprestada e refletida da lua, passaremos agora da representação intuitiva, imediata, auto-suficiente e que se garante a si mesma, à reflexão, isto é, aos conceitos abstratos e discursivos da razão, que têm seu conteúdo apenas a partir e em referência ao conhecimento intuitivo. Durante o tempo em que nos mantemos intuindo de modo puro, tudo é claro, firme, certo. Inexistem perguntas, dúvidas, erros. Não se quer ir além, não se pode ir além; sentimos calma no (…)
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Schopenhauer (MVR1:216-217) – ações calculadas
14 de setembro de 2021, por Cardoso de CastroPor fim, lá onde a Vontade atingiu o grau mais elevado de sua objetivação e não é mais suficiente o conhecimento do entendimento, do qual o animal é capaz e cujos dados são fornecidos pelos sentidos, dos quais surgem simples intuições ligadas ao presente, um ser complicado, multifacetado, plástico, altamente necessitado e indefeso como é o homem teve de ser iluminado por um duplo conhecimento para poder subsistir. Com isso, coube-lhe, por assim dizer, uma potência mais elevada do (…)
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Schopenhauer: Magnétisme animal et Magie.
6 de abril de 2008, por Cardoso de CastroMagnétisme animal et Magie.
Un chapitre de l’œuvre intitulée : « De la Volonté dans la Nature »
Ou comment les sciences exactes sont venues confirmer la philosophie de l’auteur depuis le moment de son apparition.
Lorsque, en 1818, parut mon grand ouvrage, il n’y avait pas longtemps que le magnétisme animal avait conquis pour la première fois son droit à l’existence. Mais pour ce qui est de l’explication à en donner, — pour le côté passif, en ce qui concerne le rôle du patient, — un (…) -
Schopenhauer (MVR1:108) – conduta conforme o sentimento, não segundo conceitos
26 de fevereiro de 2022, por Cardoso de CastroPor fim, também a virtude e a santidade não se originam da reflexão, mas da profundeza íntima da vontade e de sua relação com o conhecimento. A explicitação disso pertence a outro lugar completamente diferente deste escrito. Aqui, porém, permito-me observar que os dogmas que se relacionam com o ético podem até ser os mesmos na faculdade de razão de nações inteiras, porém a conduta de cada indivíduo pode ser outra, e vice-versa. A conduta transcorre, como se diz, conforme o SENTIMENTO, isto (…)
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Schopenhauer (MVR1:356-357) – flosofia não é contar histórias
15 de abril de 2021, por Cardoso de CastroJair Barboza
Enfim, tanto agora quanto nos livros precedentes não contamos histórias, fazendo-as valer por filosofia, pois somos da opinião de que está infinitamente distante do conhecimento filosófico do mundo quem imagina poder conceber a essência dele HISTORICAMENTE, por mais que faça uso de disfarces. Este é o caso, entretanto, assim que, numa visão do ser em si do mundo, encontre-se algum tipo de VIR-A-SER, ou tendo-vindo-a-ser , ou vir-vir-a-ser , algo parecido a um antes e um depois (…) -
Schopenhauer (2005:413-414) – o relógio da vida humana
14 de janeiro de 2020, por Cardoso de CastroTudo o que essa consideração pretendia deixar claro, a saber, a impossibilidade de alcançamento da satisfação duradoura, bem como a negatividade de qualquer estado feliz, encontra sua explanação no que foi mostrado na conclusão do livro segundo, ou seja, que a Vontade, cuja objetivação é tanto a vida humana quanto qualquer outro fenômeno, é um esforço sem alvo e interminável. Essa marca da ausência de fim está impressa em cada parte de todos os fenômenos da Vontade, desde a sua forma mais (…)
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Schopenhauer (MVR:268-269) – olho cósmico
20 de fevereiro de 2020, por Cardoso de CastroA natureza, ao apresentar-se de um só golpe ao nosso olhar, quase sempre consegue nos arrancar, embora apenas por instantes, à subjetividade, à escravidão do querer, colocando-nos no estado de puro conhecimento. Com isso, quem é atormentado por paixões, ou necessidades e preocupações, torna-se, mediante um único e livre olhar na natureza, subitamente aliviado, sereno, reconfortado. I 233 // A tempestade das paixões, o ímpeto dos desejos ) e todos os tormentos do querer são, de imediato, de (…)
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Schopenhauer (ACSM): desprezo ao humano
26 de junho de 2020, por Cardoso de Castro“It’s safer trusting fear than faith” [é mais seguro temer os homens do que confiar neles]. Sempre ter em mente que não me encontro em minha pátria, nem entre seres iguais a mim mas, por conta de um destino especialmente duro, aliviado apenas pelo conhecimento, tenho de viver entre pessoas que me são mais estranhas do que os chineses são aos europeus ou, entre os pássaros, os bípedes, os “hombres que no lo son” [homens que não o são]. O conhecimento da sentença de Plauto, “homo homini lupus” (…)