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Guénon Shekinah

quarta-feira 27 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

René Guénon — O REI DO MUNDO

VIDE: SHEKINAH E METATRON
SHEKINAH E SEPHIROTH
Debaixo de outro ponto de vista, a Shekinah é a síntese dos sephiroth. Ora, na árvore sefirótica, a «coluna da direita» é o lado da Misericórdia, e a «coluna da esquerda» é o lado da Severidade [1]. Temos também de reencontrar esses dois aspectos na Shekinah e podemos notar logo, para ligar isto ao que precede, que, pelo menos, em certa medida, a Severidade se identifica com a Justiça e a Misericórdia com a Paz [2]. «Se o homem peca e se afasta da Shekinah, cai sob o domínio dos poderes (Sârim) que dependem da Severidade», e então, a Shekinah é chamada a «Mão da Severidade», o que lembra o símbolo muito conhecido da «Mão da Justiça». Mas se, pelo contrário, «o homem se aproxima da Shekinah, liberta-se» e a Shekinah é a «Mão direita de Deus», o que quer dizer que a «Mão da Justiça» se torna, então, a «mão que abençoa» [3].

São estes os mistérios da «Casa da Justiça» (Beith-Din), que é mais outra designação do centro espiritual supremo [4]. Deve notar-se que os dois lados que acabamos de considerar são aqueles em que se dividem os Eleitos e os Condenados às penas eternas, nas representações do «Dia do juízo final». Poderia estabelecer-se igualmente uma aproximação com os dois caminhos que os pitagóricos figuravam pela letra Y e que representava, sob uma forma esotérica, o mito de Hércules entre a Virtude e o Vício; com as duas portas, celeste e infernal, que nos Latinos estavam associadas ao símbolo de Janus; com as duas fases cíclicas ascendentes e descendentes [5] que, entre os Hindus, se ligam do mesmo modo ao simbolismo de Ganêsha [6].




[1Um simbolismo absolutamente comparável é expresso pela figura medieval da «árvore dos vivos e dos mortos», que tem, além disso, uma relação bem clara com a ideia da «posteridade espiritual». É preciso notar que a «árvore sefirótica» é também considerada como identificando-se com a «Árvore de Vida».

[2Segundo o Talmude, Deus tem dois assentos, o da Justiça e o da Misericórdia. Esses dois assentos correspondem igualmente ao «Trono» e à «Cadeira» da tradição islâmica. Esta divide, por sua vez, os nomes divinos çifâtiyah, isto é, «aqueles que exprimem os atributos propriamente ditos de Allah, em «nomes de majestade» (jalâliyah) e «nomes de beleza» (jamâliyah) o que corresponde ainda a uma diferença da mesma ordem.

[3Segundo Santo Agostinho e outros Padres da Igreja, a mão direita representa, do mesmo modo, a Misericórdia ou a Bondade, enquanto a mão esquerda, sobretudo de Deus, é o símbolo da Justiça. A «mão da Justiça» é um dos vulgares atributos da realeza; a «mão abençoadora» é um sinal da autoridade sacerdotal e é tomada, por vezes, como símbolo de Cristo. Esta figura da «Mãe abençoadora» encontra-se em certas moedas gaulesas, do mesmo modo que por vezes a «swastika» de braços curvos.

[4Este centro, ou um qualquer daqueles que são constituídos à sua imagem, pode ser descrito simbolicamente, ao mesmo tempo, como um templo (aspecto sacerdotal, correspondente à Paz) e como um palácio ou um tribunal (aspecto real, correspondente à Justiça).

[5Trata-se das duas metades do ciclo zodiacal, que se encontra frequentemente representado no portal das Igrejas da Idade Média, como uma disposição que lhe dá evidentemente o mesmo significado.

[6Todos os símbolos que citamos aqui exigiriam ser explicados demoradamente. Talvez façamos isso, um dia, em outro estudo.