Página inicial > Sophia Perennis > Pierre Gordon > Gordon (IMA29-30) – Monte Meru

Gordon (IMA29-30) – Monte Meru

terça-feira 26 de setembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

O Meru é, ao mesmo tempo, o centro de todas as coisas. É também o polo norte, quer dizer o polo fixo da terra.

tradição

Na Índia, o onfalos e a síntese do cosmo é o sacrossanto Meru. Este vocábulo significa, segundo Burnouf, que tem um lago. Este lago é, com efeito, essencial. É formado pela água da divina Ganga, e leva o nome de Manasa-Sarovara (= excelente lago do espírito). É Brama que o criou de seu pensamento. A Montanha onde se situa marca o mais alto ponto da terra, aquele onde se alcança o céu. O Meru é, ao mesmo tempo, o centro de todas as coisas. É também o polo norte, quer dizer o polo fixo da terra. A água da vida se reúne na bacia superior da montanha; ela desce dos Sete Sábios ou Sete Rishis da Grande Ursa (que eram, primitivamente, sete ursos divinos); esta água sobrenatural, que reteve sempre seu caráter feminino neolítico, é a Ganga (o Ganges), fonte e rio transcendente, que corre do extremo norte para a Montanha dos deuses. Ela faz sete vezes a volta do Meru, e vai em seguida se despejar nos quatro lagos, postos sobre as quatro elevações que cercam a elevação das origens e lhe servem de contraforte para as quatro regiões do espaço. Sobre cada uma destes montes-sustentadores, se eleva, em um jardim encantado, perto de seu lago divino, uma árvore maravilhosa, que leva o nome genérico de Kalpavrikcha (Kalpadrouma ou Kalpatarou = árvore dos desejos, ou árvore dos períodos). Estas quatro árvores da juventude e da beatitude, graças a seu mana transcendente, conferem a vida sem fim e permitem trama perpétua do pensamento ao ser, de sorte que todos os quereres são instantaneamente realizados. Sobre o Meru ele mesmo cresce a árvore cósmica primordial, cujas quatro árvores de vida vizinhas são emanações: este vegetal das origens é a macieira, na espécie da macieira-rosa: jambu — a árvore cujo fruto (bû) serve para comer (jam), ou seja, é bom para comer. — Alimentados pelas águas que a Ganga aporta do lago supremo, os quatro lagos das quatro direções da cruz espacial dão nascimento à quatro rios terrestres, que se evadem pela goela de quatro animais divinos. — Estes quatro rios por sua vez banham as quatro grandes regiões da extensão, vistas como ilhas-continentes (maha-dvipas = grandes ilhas, grandes continentes); eles têm sua embocadura nos quatro mares; a ;este, ao sul, a oeste, e ao norte do Meru. Cada uma das quatro montanhas, e cada um dos animais sagrados que dão origem aos rios, são feitos de um metal diferente e possuem uma Cor especial (estas cores são as mesmas que aquelas que caracterizavam no início as quatro castas da Índia): a leste, branco ou prata, que corresponde aos brâmanes  ; — ao sul, vermelho ou cobre: Kshatriyas; a oeste: amarelo, cor de ouro: Vaicyas; ao norte, marrom-negro, ou de ferro: Shudras). Por outro lado os quatro lagos, os quatro rios e os quatro oceanos comportam líquidos diversos, em relação, eles também, com as quatro castas; estas, à quais se associam todo os povos da terra, provêm a princípio dos quatro rios originários do Meru. Discernimos assim, por trás desta cosmogonia grandiosa, um rito de criação análogo àquele dos oito Cabires que saem de uma Caverna e se sacralizam pela água de vida.

Original

Dans l’Inde, l’omphalos et la synthèse du cosmos est le sacrosaint Mérou. Ce vocable signifie, d’après E. Burnouf, qui a un lac. Ce lac est, en effet, essentiel. Il est formé par l’eau de la divine Gangâ, et porte le nom de Mânasa-Sarôvara (= excellent lac de l’esprit). C’est Brahmâ qui l’a créé de sa pensée. La Montagne où il se situe marque le plus haut point de la terre, celui où l’on atteint le ciel. Le Mérou est, en même temps, le centre de toutes choses. Il est aussi le pôle nord, c’est-à-dire le pôle fixe de la terre. L’eau de la vie se rassemble dans le bassin supérieur de la montagne; elle descend des Sept Sages ou Sept Rishis de la Grande Ourse (qui étaient, primitivement, sept ours divins); cette eau surnaturelle, qui a toujours retenu son caractère féminin néolithique, est la Gangâ (= le Gange), source et rivière transcendante, qui coule de l’extrême nord vers la Montagne des dieux. Elle fait sept fois le tour du Mérou, et va ensuite se déverser dans quatre lacs, placés sur les quatre hauteurs qui cantonnent la hauteur des origines et lui servent de contrefort vers les quatre régions de l’espace. Sur chacun de ces monts-soutiens, s’élève, dans un jardin enchanté, près de son lac divin, un arbre merveilleux, qui porte le nom générique de Kalpavrikcha (Kalpadrouma ou Kalpaiarou [30] — arbre des désirs, ou arbre des périodes). Ces quatre arbres de jouvence et de béatitude, grâce à leur mana transcendant, confèrent la vie sans fin et permettent la soudure perpétuelle de la pensée à l’être, en sorte que tous les vouloirs sont instantanément réalisés. Sur le Mérou lui-même croît l’arbre cosmique primordial, dont les quatre arbres de vie voisins sont des émanations : ce végétal des origines est le pommier, en l’espèce le pommier-rose : jambu — l’arbre dont le fruit (bû) est à manger (jam), autrement dit est bon à manger. — Alimentés par les eaux que la Gangâ apporte du lac suprême, les quatre lacs des quatre directions de la croix spatiale donnent naissance à quatre fleuves terrestres, qui s’échappent par la gueule de quatre animaux divins. — Ces quatre fleuves à leur tour arrosent les quatre grandes régions de l’étendue, envisagées comme des îles-continents (mahâ-dvîpas — grandes îles, grands continents) ; ils ont leur embouchure dans quatre mers; à l’est, au sud, à l’ouest, et au nord du Mérou. Chacune des quatre montagnes, et chacun des animaux sacrés qui donnent issue aux fleuves, sont faits d’un métal différent et possèdent une couleur spéciale (ces couleurs sont les mêmes que celles qui caractérisaient au début les quatre castes de l’Inde) : à l’est, blanc ou d’argent, ce qui correspondait aux brahmanes; — au sud, rouge ou de cuivre : Kshatriyas; — à l’ouest : jaune, couleur d’or : Vaïcyas; — au nord, brun  -noir, ou de fer : Çudras). D’autre part, les quatre lacs, les quatre fleuves et les quatre océans comportent des liquides divers, en rapport, eux aussi, avec les quatre castes; celles-ci, auxquelles se rattachent tous les peuples de la terre, proviennent d’ailleurs des quatre rivières issues du Mérou. Nous discernons ainsi, derrière cette cosmogonie grandiose, un rite de création analogue à celui des huit cabires dont nous avons parlé ailleurs, cabires qui sortent d’une caverne et se sacralisent par l’eau de la vie.