Página inicial > Sophia Perennis > Hermetismo > Goldfarb Paracelso

Goldfarb Paracelso

domingo 31 de dezembro de 2023, por Cardoso de Castro

  

Ana Maria Alfonso Goldfarb — Paracelso  
Excertos de Ana Maria Alfonso Goldfarb, "Da Alquimia   à Química"

Ninguém, antes dele, usou com tal precisão o termo "astrologia terrestre" para a alquimia. Esta relação entre a alquimia, como parte da natureza inferior, correspondendo a astrologia ou ciência superior, é o motor gerador de sua obra:

"Tinctur (tintura) e Gestira (astro) são para ele os fundamentos de sua própria ciência, da ciência médica, as duas colunas mestras que sustentam o edifício da ’philosophia sagax"’.

Como se relacionariam esses planos superior e inferior na teoria de Paracelso? Poderíamos dizer, de maneira simplificada, que o ser humano, segundo este pensador, seria o produto da destilação do cosmo. Neste produto final, portanto, agem as forças gerais de cada constelação, mas nele não existem partes específicas que recebam as forças ou influências, também específicas, dos astros.

Como, de acordo com Paracelso, o que existe são correspondências, tem que haver um vetor que aplique diretamente essas forças astrais no plano inferior. Esse vetor será o Archeus , que infunde vida e traz as qualidades às coisas do mundo. De onde virá a matéria para que o Archeus possa trabalhar as suas qualidades específicas? O pensador nos diz que tal matéria virá de uma fonte ou matriz inesgotável, à qual dá o nome de Iliaster, que segundo alguns autores, seria o equivalente terrestre à matéria astral (Gestirn). Todavia, segundo Paracelso, o trabalho do Archeus é mais específico, pois Deus não cria as coisas em sua forma final, existindo, por isso, outro vetor: o Vulcanus, que se encarrega de dar às coisas sua forma mais geral. Como já dissemos, esta forma mais geral adquire características específicas através do Archeus, que na verdade é uma espécie de Vulcanus interno às coisas. Segundo Paracelso, tanto um como o outro vetor são como verdadeiros obreiros da natureza, fazendo o trabalho do homem que forja, martela e resfria a matéria.

Assim, no ser humano o Archeus principal trabalha no estômago, separando a parte que alimenta e dá vida daquela que deve ser jogada fora, pois, do contrário, envenenaria o organismo. Logo, uma substância, por mais tóxica que possa ser, não prejudicará o organismo, desde que seu Archeus aproveite somente a parte útil evacuando os venenos desta.

Basicamente, de acordo com as ideias de Paracelso, a doença é constituída por um mau funcionamento específico do Archeus, e não por um desbalanço geral do organismo. Sua Anatomia Archei é, portanto, uma "anatomia da vida" — ou seja, a anatomia do mundo, pois tudo estaria vivo. O médico deveria ser, de acordo com essas máximas, uma espécie de Archeus externo, cuja acão específica estaria relacionada com a separação do assimilável e do não-assimilável no organismo humano. E, por isso, caberá ao médico entender a ação específica de agentes patogênicos no organismo, para saber o que deverá ser nele introduzido a fim de restabelecer o funcionamento normal ao Archeus interior, que apresentou problemas. Na verdade; o médico, pensado por Paracelso, assemelha-se a uma espécie de alquimista que entende e localiza os problemas do "químico" interior e lhe comanda o restabelecimento da ordem. Por isso, a introdução de remédios químicos, com o uso dos compostos metálicos dos alquimistas, encontra em Paracelso um defensor. Para tal, o pensador baseia-se na máxima da medicina folclórica, segundo a qual iguais curam iguais, concluindo que, se algo está envenenando o organismo, a solução é oferecer ao Archeus o próprio veneno, pois ele se encarregará da fabricar o antídoto.

Sua obra, portanto, é mais abrangente que a dos médicos, dos astrólogos e dos alquimistas. Paracelso combina todas essas "artes" de tal forma que, a obra puramente de transmutação metálica, por exemplo, pareça pequena.