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Daumal (GB:7) – linguagem

terça-feira 13 de abril de 2021, por Cardoso de Castro

  

Tradução

Nego que um pensamento claro possa ser indizível. No entanto, a aparência me contradiz: pois, assim como há uma certa intensidade de dor na qual o corpo não está mais interessado, porque se ele participasse, mesmo com um soluço, pareceria ele, imediatamente reduzido a cinzas, assim como há um cume onde a dor voa com suas próprias asas, então há uma certa intensidade de pensamento onde as palavras não fazem mais parte. As palavras são adequadas a uma certa precisão de pensamento, como as lágrimas a um certo grau de dor. O mais vago é inominável, o mais preciso é inefável. Mas isso é, realmente, apenas uma aparência. Se a linguagem expressa com precisão apenas uma intensidade média de pensamento, é porque a média da humanidade pensa com este grau de intensidade; é com esta intensidade que ela consente, é com este grau de precisão que ela concorda. Se não podemos nos fazer ouvir com clareza, não é nosso instrumento que deve ser acusado. [DAUMAL  , René. La grande beuverie. Paris: Gallimard, 1966, p. 7]


Original

Je nie qu’une pensée claire puisse être indicible. Pourtant l’apparence me contredit : car, de même qu’il y a une certaine intensité de douleur où le corps n’est plus intéressé, parce que s’il y participait, fût-ce d’un sanglot, il serait, semble-t-il, aussitôt réduit en cendres, de même qu’il y a un sommet où la douleur vole de ses propres ailes, ainsi il y a une certaine intensité de la pensée où les mots n’ont plus part. Les mots conviennent à une certaine précision de la pensée, comme les larmes à un certain degré de la douleur. Le plus vague est innommable, le plus précis est ineffable. Mais ce n’est là, vraiment, qu’une apparence. Si le langage n’exprime avec précision qu’une intensité moyenne de la pensée, c’est parce que la moyenne de l’humanité pense avec ce degré d’intensité ; c’est à cette intensité qu’elle consent, c’est de ce degré de précision qu’elle convient. Si nous n’arrivons pas à nous faire entendre clairement, ce n’est pas notre outil qu’il faut accuser.