Por “crueldade” do real entendo em primeiro lugar, é claro, a natureza intrinsecamente dolorosa e trágica da realidade. Não me estenderei sobre este primeiro sentido, mais ou menos conhecido de todos, e sobre o qual aliás tive ocasião de falar alhures mais do que abundantemente; basta-me lembrar aqui o caráter insignificante e efêmero de toda coisa do mundo. Mas entendo também por crueldade do real o caráter único, e consequentemente irremediável e inapelável, desta realidade — caráter que (…)
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Clément Rosset
Matérias
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Rosset (PC:16-18) – crueldade
15 de março, por Cardoso de Castro -
Rosset (2012) – idiotice
15 de março, por Cardoso de Castrodestaque
Não é apenas da Virgem que o poeta fala, é de tudo o que é virgem na medida em que é singular, escapando aos olhos do corpo e à interpretação da mente, na medida em que se resume a ser isso e nada mais do que isso. Uma única palavra exprime este duplo caráter, solitário e incognoscível, de tudo o que existe no mundo: a palavra idiotice. Idiôtès, idiota, significa simples, particular, único; por uma extensão semântica cujo significado filosófico é abrangente, pessoa desprovida de (…) -
Rosset (1970:25-28) – crença
15 de março, por Cardoso de Castro[...] nada é tão invencível quanto aquilo que não existe. Os mais profundos analistas da crença concordam em reconhecer a impossibilidade de defini-la. A sina habitual de uma crença é não somente proporcionar razões para crer, como ser paupérrima em definições de sua própria crença: sabe sempre dizer porque crê, mas nunca aquilo em que precisamente crê. Além do mais, o grande inimigo da crença não é a “verdade” (que os incrédulos opõem frivolamente a ela), mas a precisão.
Samuel Butler (…) -
Rosset (RD:13-18) – a ilusão cega
12 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroNada mais frágil do que a faculdade humana de admitir a realidade, de aceitar sem reservas a imperiosa prerrogativa do real. Esta faculdade falha tão frequentemente que parece razoável imaginar que ela não implica o reconhecimento de um direito imprescritível — o do real a ser percebido —, mas representa antes uma espécie de tolerância, condicional e provisória. Tolerância que cada um pode suspender à sua vontade, assim que as [13] circunstâncias o exijam: um pouco como as aduanas que podem (…)
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Rosset (LP:38-39) – ideologia
12 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroFica entendido que, de todo modo, o que caracteriza a ideologia é a sua inexistência: a ideologia fala de não-seres (como a justiça, a riqueza, os valores, o direito, Deus, a finalidade); para retomar uma palavra de Romeu em Shakespeare, ela “fala de nadas”. E a partir do reconhecimento desse nada que divergem duas direções filosóficas que não se reencontrarão jamais, caracterizadas por uma diferença no modo de olhar. Ou bem se considera que o homem não sabe que ele fala de nadas — donde a (…)