Página inicial > Sophia Perennis > Raymond Abellio > Abellio (SA:344-346) – Emanação e Formação

Abellio (SA:344-346) – Emanação e Formação

domingo 12 de setembro de 2021, por Cardoso de Castro

  

A intensificação da deidade no Filho pelo crescimento indefinido da série dos «duplos», quer dizer por uma adição e uma multiplicação crescentes de formas «vazias», é simbolizado melhor pela transmissão do fogo, que se separa dele mesmo, se comunica, se ajunta e se multiplica sem «dividir» sua fonte e permanece intrinsecamente e integralmente o fogo. Este processo é dito de emanação: ele caracteriza o modo de visão em sincronia que é aquele da consciência transcendental e que a visão natural projeta ingenuamente nisto que chama o «céu» e o «inferno». Por oposição, os três outros elementos, ar, água, terra, que correspondem aos três estados da matéria chamados gasoso, líquido e sólido, não podem se estender sem se rarefazer ou se cortar; mas esta rarefação (ou inversamente esta concentração) oculta em realidade o processo da filiação ela mesma, ela tende à aparição de uma «nova» matéria para nós. Este segundo processo será dito de formação; ele caracteriza o modo de visão em diacronia que é aquele da vida «na terra». «Emanação» e «formação» estão evidentemente associados. O fogo é ativo em relação a toda forma, pois destrói toda forma. Mas inversamente não pode se transmitir sem um suporte formal, e toda forma que é o suporte passivo do fogo aparece também como uma condensação ativa que o alimenta, uma matriz genética. Pode-se dizer também que o fogo, que age por constituição ou por destituição instantâneas de formas, está em relação com a intensidade, enquanto os outros elementos, que operam por construção ou destruição progressivas de formas, estão em relação com a amplitude. Da mesma maneira existe três estados visíveis nesta amplitude como em toda amplitude, enquanto o fogo está somente, como se deve, no campo da intensidade, que é o absoluto da amplitude. Quando viermos a nossos estudos de antropologia propriamente ditos, encontraremos na transfiguração do corpo do homem a partir de seus três estases de amplitude: corpo físico, corpo psíquico e corpo mental, um caso particular deste esquema geral. Se, com efeito, por extensão analógica, pode-se também distinguir no corpo humano três níveis superiores que serão ditos ético, demiúrgico e crístico, estes não deixam de constituir juntos uma única ek-stase do conjunto dos corpos de baixo e eles se intensificam juntos da mesma maneira que o fogo intensifica junto os três estados de amplitude da matéria. Alguns ensinamentos distinguem a princípio no seio do fogo, e como veremos para o corpo «glorioso», três níveis chamados éter de vida, éter de som e éter de calor. Estes três «níveis» são postos respectivamente em relação, como aqueles do corpo glorioso o são com aqueles do corpo ordinário, com os três estados sólido, líquido e gasoso da matéria. É por referência a este papel eminente e particular do fogo que os cosmologista ingênuos, quer dizer aqueles que se agarram à hipótese de uma criação e de um apocalipse temporais, descrevem a criação do mundo como a aparição do fogo mais vivo: mais uma vez, transformam um limite sensível e puramente subjetivo em origem absoluta e objetiva. O abade Lemaître fala, por exemplo, de um «átomo primitivo». Em sua forma exotérica, o ensinamento hebraico fala igualmente do átomo «primordial» como de um Ponto brilhante do reflexo insustentável, que simboliza na sílaba interrogativa Mi que significa Quem? Com efeito, tanto pelo homem como por Deus, a criação não pode ser vista senão sob a forma de uma questão: Quem (Mi) criou Isso (Eleh)? É Eleh (Isso) que é o receptáculo de Mi, o fogo «primordial», a fim de que o fogo seja manifestado. E a palavra indeterminada Isso é com efeito a única resposta possível à interrogação das interrogações que se põe sem fim a deidade: Quem sou eu? Mas esta resposta não pode ser senão a inversão da questão assim como o vazio é a única resposta possível à questão que se coloca plenamente. Donde a manifestação global de Eleh-Im, que se diz Elohim, o demiurgo, que inverte «Mi» em «Im». O receptáculo Eleh é dito o «manto de Elohim», é a matéria sensível que serve de tela protetora contra o fogo Mi. No entanto o Mi não é de modo algum o Uno sem clivagem. Há uma processão interior no Mi e ela é o modelo de todas as processões. A Cabala   aí insiste longamente: é a processão sefirótica.


Ver online : Raymond Abellio