Os aspectos do complementarismo tradicional existentes entre o Hinduísmo e o Islã, permitem a síntese nas duas formas características correspondentes do Verbo sacramental e invocativo que já se assinalou o parentesco: o OM das tradições da Índia e o AMEM das tradições de fundo semita, especialmente examinada no caso islâmico.
- Aproximações feitas há algum tempo, especialmente por orientalistas do século XIX.
- Nota de tradução do Brahma-karma ou Ritos sagrados do Brahmanes, A. Bourquin (1884): “Pode-se traduzir Om por glória ou por amem, mas observamos que “glória” traduz melhor, embora ainda inexatamente, o termo namah’ que significa “homenagem” ou “saudação”; ora é possível manter uma tradução para os dois termos em questão quando estão associados em uma mesma doxologia: Om! namah’; Oldenberg também que Om equivale a nosso Amem.
O vocábulo hindu pertence também ao budismo, e é, segundo os Upanixades, “a sílaba que exprime o assentimento, pois para expressar o assentimento diz-se: om!. Substancial e estruturalmente om é ainda definido como sendo “o som mesmo, é a imortalidade, a felicidade mesma”; “aquele que assim sabendo, murmura o vocábulo, penetra neste vocábulo que é o som, que é a imortalidade, que é felicidade”. Sua importância como símbolo do Verbo universal é conhecida; Om é assim o mantra por excelência da espiritualidade hindu.
Emprego técnico e ritual extremamente rico e complexo; Om termo inicial do cântico litúrgico fundamental chamado udgitha, contendo em si só toda a udgitha; inaugura diferentes recitações do Rig-Veda; pronunciado no fim da recitação de um verso ou hino (rik) de um saman (canto litúrgico) e de um yajus (invocação). Figura em Upanixades nas doxologias inaugurais, associado a Hari, o “Senhor” um dos nomes de Vishnu; como palavra suprema é identificado ao Deus Supremo.
Por seu lado, o Amem nas tradições de origem semítica tem também um emprego de palavra afirmativa, ou melhor confirmativa. Figura no Pentateuco com um caráter de rigor maior e nos ritos oficiais. Com os Salmos aparece nas puras doxologias finais. Na época do Judaísmo helenístico antes da eclosão cristã, o Amem teve um emprego litúrgico nas sinagogas de onde passou para as liturgia cristãs.
Amem como termo que originalmente é um adjetivo significando “firme”, “certo” e adquire uma acepção adverbial: “firmemente”, “certamente”; constitui um voto solene ou uma tomada de engajamento: “assim será!”, “assim seja!”, expresso em grego por genoito e em latim por fiat ou ita sit; mas que não é traduzido quando seu papel é encantatório.
O papel confirmativo de amem se encontra no NT; assim em Mateus 6,13 onde conclui o Pai Nosso ao qual permanecerá associado na prática das orações cotidianas; igualmente no Apocalipse onde, a parte do emprego nas doxologias do Prólogo, se encontra nas liturgias transcendentes onde é pronunciado pelos anjos, os 24 anciãos e os 4 animais portadores do Trono.
No entanto os Evangelhos nos apresentam ainda o amem em um emprego e sob um aspecto totalmente novo em relação à tradição anterior. Trata-se de um sentido puramente afirmativo, e não mais confirmativo, e de um amem posto no início de períodos e de frases ditas na primeira pessoa e não mais no final ou em conclusão de uma afirmação. Tal é a figura das dezenas de vezes nas palavras do Cristo, principalmente em Mateus e João: Amen dico vobis, algumas vezes substituído por Vere dico vobis = “em verdade vos digo”. Trata-se de um estilo próprio do Cristo que se afirma assim como fonte de verdade e se toma a si mesmo como testemunha. O papel do amem neste caso seria portanto um reflexo de sua identidade com o Verbo. E é significativo que nesta posição inicial e com o papel de afirmação principial, Amem se encontre em suma em suma situação comprável àquela do OM no início de certos textos doutrinais hindus. Nos dois casos tem-se uma enunciação primeira por um símbolo direto e total do Verbo.
Além disso, no cristianismo, Amém também é um nome do Verbo; no Apocalipse de São João (3, 14) Cristo é chamado “O Amém, a Testemunha fiel e verdadeira e Princípio da criação de Deus”. No entanto, isso estava ligado a uma certa tradição bíblica, pois Amém já havia sido atestado anteriormente pelos Profetas como um nome divino: “Quem quiser ser abençoado na terra será abençoado pelo Deus Amém!” Quem jurar na terra jurará por Deus Amém! (Isaías, 65, 16).
No Apocalipse, onde se aplicam a Cristo identificando a transposição dos títulos que são dados sobretudo ao “Senhor Deus” (“Alfa e Ômega”, “Primeiro e Último”, “Princípio e Fim”), uma passagem é particularmente notável na ordem das coisas consideradas aqui; no prólogo deste texto, após um “Etiam! (Sim!) Amém! que aparentemente confirma uma perspectiva que acaba de ser declarada sobre a vinda final de Cristo, temos um texto que também pode ser considerado como um comentário sobre este misterioso Amém aplicável na ordem teofânica da Missão, bem como na ordem dos princípios puros: “Eu sou o Alfa e o Ômega (o princípio e o fim), diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Mestre de Tudo! (Rev. Prol. 7-8). Além disso, essas palavras são encontradas quase como são, precisamente em relação ao Om, em um texto maiúsculo do Mândûkya Upanishad, 1, 1: “Hari Om! (o Senhor é Om). Esta sílaba Om é o todo! Aqui está a explicação: o que foi, o que será, tudo isso é o fonema Om! — O comentário de Gaudapâda a esta passagem diz: “A sílaba Om é o princípio, o meio e o fim de tudo… Deve-se saber que a sílaba Om é o Mestre de todas as coisas”.
Após as constatações anteriores, podemos dizer que os dois termos sagrados Om e Amen se unem tanto pelo significado adverbial (de afirmação ou confirmação) e do uso ritual correspondente, quanto pelo significado de símbolo do Verbo universal e de nome da Verdade Suprema.