Demiurgo (demiurgos)

O demiurgo (demiurgos) é um artífice que, por perícia numa arte (technê), se distingue do leigo (idiôtês) (íon 531c; Prot. 327c; Górg. 503d-e; Pol. 298c; Leis 916b). Embora a referência seja quase sempre a um simples artífice, pode-se atribuir requinte ao demiurgo (Rep.   529e). No entanto, cumpre diferenciar o mero requinte da verdadeira perícia, como mostra a crítica à retórica e à sofistica. Aqui também se trata especialmente de compreensão que a RETÓRICA tem de si, segundo a qual o orador é demiurgo da persuasão (Górg. 453a, 454a). Um exemplo ambíguo também é fornecido pela criação poética. Por certo, demiurgos de todas as artes podem ser considerados poetas (poietes), se nos baseamos numa compreensão ampla de produção (poiêsis) (Banq. 205b). Mas isso não altera em nada o fato de que demiurgos de belos atos superam demiurgos de belas poesias (Leis 829d). Do ponto de vista ontológico, os poetas são até mesmo postos na classe de artesãos como marceneiros, pois eles novamente imitam seus produtos, que já são imitações das ideias (Rep. 595c ss.). Contra o pano de fundo da crítica à retórica, à sofistica e à poesia, também se pode denominar demiúrgica a atividade do filósofo, que almeja a produção verdadeira de conhecimento, virtude e educação (Rep. 500d; Fil. 59e; Leis 898b). Por fim, há também expressões com um metaforismo evidente. Basta pensar, por exemplo, nos escritores e pintores, que como demiurgos produzem discursos e imagens em nossa alma (Fil. 39b). [SHÄFER]