René Guénon: Guenon Si-Mesmo e Eu - DISTINÇÃO FUNDAMENTAL ENTRE "SI-MESMO" E "EU’

Ananda Coomaraswamy  : ACKTransmigrante - SOBRE EL ÚNICO Y SOLO TRANSMIGRANTE

Jacques Bonnet: I.N.R.I.

Examinando o diálogo de Jesus e Pilatos no Evangelho de João (18), Bonnet esclarece que o dito "Eu, por isto vim" (18,37) é enigmático. A Vulgata   prefere repetir duas vezes, na passagem anterior e nesta, assim: "rex sum ego. Ego in hoc natus sum". Enfatiza assim o "ego", constante da expressão "ego eimi" (eu, eu sou) que se encontra 13 vezes em João e sem pre para caracterizar um atributo importante de Jesus, e as vezes como afirmação pura.

Ego, em hebreu ani e anokhi, é um termo solene que aparece no Gênesis (17,4): "Eu, eis, que farei aliança convosco"; em Êxodo (20,1), quando Deus dá os mandamentos.

No diálogo com Pilatos Jesus afirma "é porque sou rei que vim" e "vim para dar testemunho"; qual seria a relação com o AT? O termo hebreu la-zot, é explicado pelo Zohar  : zot (isso) que é feminino em princípio e que aliando a primeira e a última letras do alfabeto hebraico (alef e tav) simboliza a união do dia e da noite, do masculino e do feminino, do reino do alto e de Jerusalém a Cidade Santa, onde ani e zoth se aproximam.

Esta preparação solene introduz a afirmação: "Eu nasci (do alto) e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo ser (nascido) da verdade escuta minha voz" (18,37).

Roberto Pla  : Jesus Eu Sou - JESUS CRISTO — EU SOU

Evangelho de Tomé - Logion 42-43
Eu sou (ehyeh aser ehyeh = Eus sou o que sou), é a denominação com que a Moisés se o revela (Ex 3,14) o "Deus de seus pais" (o Deus de sempre). Isto equivale ao Conhecimento, posto que denominante e denominado são uma só e mesma coisa. Ao revindicar para si este nome, Eu Sou, Cristo se confirma como "o que é", o Ser absoluto, quer dizer o único Ser, com exclusão de qualquer outro. Não há opção para sugerir aqui nenhum dualismo depois desta declaração. Cristo é o Ser e como tal, é o Ser essencial em todo ser vivente, posto que Ele é a Vida real e eterna, de cujos raios "parece" viver tudo mais, embora com vida limitada e dependente de Cristo. Moisés teve no monte Horebe a intuição do Ser, isto é, de Cristo.

breve 67503
Nos quatro evangelhos se repete em várias ocasiões, e sempre com grande intenção didática, a locução Eu-Sou, posta na boca de Jesus, o qual diz Eu-Sou com pleno direito porquanto ele é Cristo manifesto e oculto, Cristo universal. Mas a locução Eu-Sou, é uma forma abreviada do Nome divino que, segundo o AT, foi revelado a Moisés: “Eu sou o que sou” (Ex 3,14).

Quando Jesus diz Eu-Sou, não só reivindica para si o Nome divino do Deus de Israel, o que em realidade seria coisa de pouca monta, senão a realidade de que enquanto Cristo interior, é o Eu-Sou, o Ser, de todos os homens que foram, são e serão, segundo a fórmula: “Eu sou o Alfa e o Ômega. Aquele que é, que era e que será” (Ap 1,8).

Em definitivo, Eu-Sou é uma afirmação da unidade absoluta, da não pluralidade, paralela à unidade que se nomeia na perícope de Mateus  : “Tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber, etc...” (Mt 25,35). Esta unidade ou reunião nova de todos, a buscava Jesus com ânsia e por isso disse que para consegui-la queria enviar sobre os homens um imenso batismo de fogo, um batismo de conhecimento “em espírito”.

A locução testamentária “Eu sou o que sou”, ou melhor, como a leram os Setenta: “Eu sou o que é (ou aquele que é)”, é uma afirmação excludente, que nega o dual, pois afirma que “só o Ser é”. Ao mesmo tempo, é uma realidade transcendente, posto que o Ser de Nome divino, o Cristo manifesto e oculto ao mesmo tempo, é “o único que é”, em tudo e em todos.

Mas o Ser real, o Eu-Sou verdadeiro, cujo descobrimento constitui a única obra importante e decisiva que foi reservada ao homem que aspira a ser “em Cristo”, é uma busca difícil e enganosa, pois é frequente tomar por eterno o transitório e perder-se nele.

Contra este gênero de engano previne Jesus o Vivente.