Portanto, enquanto cada homem deve ser visto como um fenômeno particularmente determinado e característico da Vontade, em certa medida até mesmo como uma Ideia própria, nos animais, ao contrário, o caráter individual falta por completo, posto que apenas a espécie possui [193] significação própria. MVR1: Livro II §26
Todos os fenômenos desta são exteriorizações de forças universais da natureza, vale dizer, exteriorizações de graus de objetivação da Vontade, que de maneira alguma se objetivam (como na natureza orgânica) pela intermediação da diferença de individualidades a expressarem parcialmente o todo da Ideia, mas, antes, exprimem a si mesmos unicamente na espécie, expondo a esta por completo e sem desvio em cada fenômeno particular. MVR1: Livro II §26
Por sua vez, a lei natural é a referência de uma Ideia à forma de seu fenômeno. MVR1: Livro II §26
Tem-se, assim, o fenômeno de uma outra Ideia, que por sua vez é também no todo infundada, embora o aparecimento de seu fenômeno dependa daquelas condições, que a etiologia pode informar. MVR1: Livro II §26
Com acerto, portanto, Kant diz que é absurdo esperar por um Newton do ramo de relva, isto é, por aquele que reduza o ramo de relva a fenômenos de forças físicas e químicas, das quais o ramo seria uma concreção casual, por consequência um mero jogo da natureza sem aparecimento de uma Ideia própria, noutros termos, a Vontade não se manifestaria imediatamente num grau mais elevado e específico, mas apenas como o faz no fenômeno da natureza inorgânica, e casualmente naquela forma. MVR1: Livro II §27
Quando os muitos fenômenos da Vontade entram em conflito nos graus mais baixos de sua objetivação, portanto no reino inorgânico, quando cada um quer apoderar-se da matéria existente servindo-se do fio condutor da causalidade, desse conflito resulta o fenômeno de uma Ideia mais elevada, que domina todos os fenômenos mais imperfeitos preexistentes; todavia, de tal maneira que deixa subsistir a natureza dos mesmos de um [208] modo subordinado, já que absorve em si um análogo deles. MVR1: Livro II §27
Em conformidade com a visão exposta, pode-se seguramente demonstrar no organismo vestígios dos [209] modos de efeito químico e físico, mas nunca se pode explanar aquele a partir destes, visto que ele de maneira alguma é um fenômeno casual produzido pelo fazer-efeito unido de tais forças, mas se trata de uma Ideia mais elevada que submeteu as outras através de assimilação por dominação. MVR1: Livro II §27
Nos graus mais baixos de sua objetidade, o ato (ou Ideia) mantém a sua unidade no fenômeno, enquanto nos graus mais elevados precisa de toda uma série de estados e desenvolvimentos no tempo para poder aparecer, estados que, tomados em conjunto, completam a expressão de sua essência. MVR1: Livro II §28
Já a planta não exprime a Ideia da qual é fenômeno de uma única vez, por exteriorização simples, mas na sucessão de desenvolvimentos de seus órgãos no tempo. MVR1: Livro II §28
Ora, visto que é a Vontade única e indivisa – justamente por isso inteiramente condizente consigo mesma – que manifesta a si em toda a Ideia como se se manifestasse num ato, segue-se que o fenômeno da Vontade, embora entre em cena numa diversidade de partes e estados, tem de mostrar novamente aquela unidade na concordância completa de tais partes e estados. MVR1: Livro II §28
Isso ocorre por meio de uma relação necessária e uma dependência de todas as partes entre si, com o que também a unidade da Ideia é restabelecida no fenômeno. MVR1: Livro II §28
Consequentemente, tanto o desdobramento da Ideia, em si simples, na pluralidade de partes e estados do organismo, de um lado, quanto, de outro, o restabelecimento de sua unidade pela ligação necessária de semelhantes partes e funções, na medida em que são causa e efeito, portanto meios e fins umas das outras, não são essenciais e próprios à Vontade, à coisa-em-si mesma que aparece, mas apenas ao seu fenômeno no espaço, no tempo e na causalidade (figuras puras do princípio de razão, forma do fenômeno). MVR1: Livro II §28
A admiração anteriormente mencionada pela constância infalível da legalidade da natureza inorgânica é, no fundo, a mesma que se tem pela finalidade da natureza orgânica, pois em ambos os casos nos surpreendemos com a visão da [223] unidade originária da Ideia, que, no fenômeno, assumiu a forma da pluralidade e da diferença [Cf Sobre a vontade na natureza, conclusão da rubrica “Anatomia comparada”]. MVR1: Livro II §28
Entretanto, devem-se abstrair desse contexto todas as relações temporais, pois elas dizem respeito só ao fenômeno da Ideia, não a ela mesma. MVR1: Livro II §28
É manifesto e não precisa de nenhuma demonstração extra que o sentido íntimo de ambas as doutrinas é exatamente o mesmo, que ambos os filósofos declaram o mundo visível como um fenômeno, nele mesmo nulo, que tem significação e realidade emprestada do que nele se expressa (para um, a coisa-em-si; para outro, a Ideia). MVR1: Livro III §31
A Ideia simplesmente se despiu das formas subordinadas do fenômeno concebidas sob o princípio de razão; ou, antes, ainda não entrou em tais formas. MVR1: Livro III §32
Também notaremos a diferença entre a Ideia mesma e a maneira como o seu fenômeno se dá à observação do indivíduo, reconhecendo aquela como essencial, este como inessencial. MVR1: Livro III §35
Por conseguinte, a história do gênero humano, a profusão dos eventos, a mudança das eras, as formas multifacetadas da vida humana em diferentes países e séculos: tudo isso é tão-somente a forma casual do fenômeno da Ideia, não pertence a ela (unicamente na qual reside a objetidade adequada da Vontade) mas só ao fenômeno que se dá ao conhecimento do indivíduo, sendo tão alheio, inessencial e indiferente à Ideia mesma como as figuras formadas para as nuvens, ou as figuras de redemoinho e formações espumosas para o regato, ou as árvores e flores para o gelo cristalizado. MVR1: Livro III §35
Para quem bem apreendeu isso e sabe distinguir a Vontade da Ideia e esta do seu fenômeno, os eventos do mundo possuem significação só na medida em que são as letras a partir das quais se pode ler a Ideia do homem, e não em e por si mesmos. MVR1: Livro III §35
A aversão do gênio em direcionar sua atenção ao conteúdo do princípio de razão mostra-se primeiro em referência ao fundamento de ser, enquanto aversão à matemática, cuja consideração segue as formas mais gerais do fenômeno, espaço e tempo, as quais são apenas figuras do princípio de razão e, por conseguinte, é por completo o contrário daquela consideração que justamente procura tão-só o conteúdo do fenômeno, a Ideia que nele se expressa livre de todas as relações. MVR1: Livro III §36
Também vimos no segundo livro que a matéria é o substrato comum de todos os fenômenos particulares das Ideias, consequentemente, apresenta-se como o elo entre a Ideia e o fenômeno (coisa particular). MVR1: Livro III §43
Por outro lado, todo fenômeno de um Ideia, na medida em que esta entrou na forma do princípio de razão, ou no principium individuationis, tem de se expor na matéria como qualidade desta. MVR1: Livro III §43
Platão observa muito corretamente que, ao lado da Ideia e do fenômeno (a coisa particular), a compreenderem juntos todas as coisas do mundo, há ainda a matéria como um terceiro termo diferente [287] de ambos (Timeu, 48-9). MVR1: Livro III §43
O indivíduo, como fenômeno da Ideia, é sempre matéria. MVR1: Livro III §43
Cada qualidade desta é também sempre fenômeno de uma Ideia e, como tal, passível de uma consideração estética, isto é, conhecimento da Ideia que nela se expõe. MVR1: Livro III §43
Todavia, não importa onde a essência da humanidade mesma se desdobre, se na história ou na própria experiência, pois já apreendemos a esta, e o historiador àquela, com olhos artísticos, poeticamente, ou seja, conforme a Ideia e a natureza íntima, não conforme o fenômeno e a relação. MVR1: Livro III §51
A história tem a verdade do fenômeno, que pode ser neste verificada, a poesia tem a verdade da Ideia, não encontrada em fenômeno particular algum e no entanto exprimindo-se a partir de todos. MVR1: Livro III §51
A existência em geral desse objeto e O modo de sua existência, isto é, a Ideia que nele se manifesta, ou, noutros termos, seu caráter, são imediatamente fenômeno da Vontade. MVR1: Livro IV §55
Diante do procriador aparece o procriado, o qual é diferente do primeiro apenas no fenômeno, mas em si mesmo, conforme a Ideia, é idêntico a ele. MVR1: Livro IV §60
A Vontade de vida, embora ainda se afirmando, não adere mais aqui ao fenômeno individual, ao indivíduo, mas abarca a Ideia de homem e quer conservar o fenômeno desta Ideia purificado dessa iniquidade monstruosa e revoltante. MVR1: Livro IV §64