TEMA III
ARTIGO 5 – SÍNTESE DA ANALOGIA
Quanto aos modos de significação dos conceitos, temos: analogia, equivocidade e univocidade.
Um termo, ou conceito, é unívoco, quando aplicado a diversos seres com a mesma significação. Animal é unívoco quando aplicado a boi, cavalo, símio, etc. Quando usamos, porém, “que animal”, referindo-nos a um homem, em sentido naturalmente pejorativo, não o usamos univocamente, mas anàlogamente, porque, aí, retiramos o racional, que caracteriza a essência do homem. O mesmo quando empregamos um “águia”, um “leão”, um “urso”, etc.
Escrevemos em “Ontologia e Cosmologia”:
“É equívoco um conceito ou termo quando é aplicado a diversos seres com significação totalmente diferente. Assim “cão”, quanto ao animal e quanto à constelação, etc.
É análogo, quando aplicado a coisas diversas, com acepções que não são nem própriamente idênticas, nem completamente diferentes. Exs.: uma razão forte e uma árvore forte, etc.
Os conceitos aplicados aos objetos, de onde são tirados por abstração, e aplicados ao ser, enquanto ser, ou às realidades que são o objeto da metafísica, são unívocos, equívocos ou análogos?
Não podem ser equívocos, pois não há nenhuma realidade que seja totalmente diferente do mundo de nossa experiência. Deus ultrapassa-nos totalmente, mas não é impermeável a nós, pois é a origem de tudo, em tudo há algo dele.
Não podem ser unívocos, pois as realidades metafísicas, às quais nós os aplicamos, diferem dos fatos da experiência de onde foram abstraídas.
São, portanto, análogos:
A univocidade leva-nos ao monismo, que admite uma única realidade; Deus (monismo panteísta) ou matéria (monismo materialista) ou pensamento (monismo idealista).
A equivocidade supõe o dualismo ou o pluralismo, ou seja, a existência de realidades totalmente diferentes e independentes. Só a analogia pode assegurar a pluralidade na unidade : distinção do Ser absoluto e dos seres relativos, mas unidades, porque os seres relativos obtêm o ser do ser absoluto (criacionismo) ; distinção da alma e do corpo, mas unidade substancial (espiritualismo).
Esta síntese que acabamos de fazer desses antepredicamentos (assim são eles chamados na lógica, por serem preâmbulos e pra-requisitos para a ordenação dos predicamentos ou categorias), não exclui a problemática que surgirá sobre a univocidade e a analogia, que é de magna importância para os estudos ontológicos. Mas, seguindo nosso método, que primeiramente trata sintèticamente os temas, para analisá-los a seguir, e concrecioná-los finalmente, segundo a decadialética, na nossa concepção tensional, seguiremos, aqui, como em outras partes, os mesmos caminhos.
Logicamente considerado, um termo é unívoco quando significa (aponta, como sinal) uma razão simplesmente uma, convenientem multis distributiva (unum in multis), isto é, uma conveniente, distributivamente, a muitos (um em muitos), como o definem os escolásticos. A sabedoria de Salomão e a sabedoria de um homem experiente, enquanto sabedoria, em sua quididade, isto é, em sua formalidade, é unívoca, pois sabedoria é sabedoria, e nada mais. A univocidade, aqui, é puramente formal, porque a sabedoria deste, e neste homem, consta de um saber quantitativa e qualitativamente diferente de outro, pela soma maior ou menor de conhecimento que um tenha em relação a outro. (Estamos aqui numa univocitas secundum nomen ac rationem, que é uma univocidade de quarto grau, a menor para os escotistas.)”
“Quando dizemos que um termo é análogo, reconhecemos que, nele, há algo que se assemelha ao analogado e algo que se diferencia.
Analogia é, portanto síntese do semelhante e do diferente. Todos os entes são análogos. Mas há graus de analogia.
Distingamos a analogia:
- de atribuição extrínsica
- de atribuição intrínsica, ambas:
- quantitativa
- qualitativa
- de proporcionalidade:
Há analogia de atribuição intrínseca, quando o analogo (termo, conceito, conjunto simbólico) convém pròpriamente a todos os objetos que designa, embora adequadamente em certos casos, inadequadamente em outros.
Exs.: o ato existencial é misto de ato e potência, é híbrido. Acto e potência são aplicados a Deus e às criaturas, analògicamente, por atribuição intrínseca.
Há analogia de atribuição intrínseca qualitativa entre dois medicamentos que servem para o mesmo fim. (Também pode confundir-se em certos casos com a função, mas só quando tomado dinâmicamente).
Há analogia de atribuição intrínseca quantitativa entre dois objetos de qualidade e espécies diferentes, quantitativamente iguais, como, por ex., o mesmo peso. Assim 1 quilo de papel e 1 quilo de açúcar.
Há analogia de atribuição extrínseca, quando usada em sentido nem unívoco nem equívoco, mas apenas por transposição em consideração metafórica (substituição de um sentido exterior por outro, que apresente semelhanças meramente exteriores). Um homem risonho, alegre, e um jardim risonho, alegre. Um clima não saudável, e um homem não saudável. As metáforas são verdadeiras analogias, quando não disparatadas. A metáfora pertence mais à estética do que propriamente à Metafísica.
A analogia de proporcionalidade ou de proporção é a que consiste entre coisas totalmente diferentes, mas que apresentam, cada uma, certa similitude de relação (analogia de relação), ou de função (analogia de função).
A ala direita e a ala esquerda de um exército; o pé esquerdo e o pé direito de um edifício, a entre um chefe e a tropa e a entre a cabeça e o corpo, são outros exemplos de analogia.
Há homologia, quando há proporcionalidade entre a função de um todo com a função de um outro todo, como por ex., a existente entre as asas dos pássaros e os membros anteriores dos mamíferos, entre as penas dos pássaros e as folhas da árvore.
COMENTÁRIOS
A analogia extrínseca é uma metáfora (figura de retórica), e nada nos oferece de novo sobre a natureza das coisas, e nada diz a quem não conheça as coisas designadas pelos térmos. Com a analogia de proporção, temos apenas uma idéia vaga dos objetos, mas não aproveitável. Assim, pela analogia dos órgãos, pode o cego ter um conhecimento, em certa medida, do mundo dos videntes.
A analogia de atribuição intrínseca dá-nos uma idéia mais precisa, porque já supõe uma propriedade comum.
Pode a analogia ser considerada um meio vago e impreciso de conhecimento. Mas como penetrar numa realidade que escapa aos nossos sentidos sem a analogia?
Na analogia, há predominância da assimilação e não da acomodação.
O símbolo bem nos explica. Mas não podemos, pela assimilação achada, construir a acomodação (o imitativo) que nos falta?
Como conhecermos Deus se não por analogias! Exclamam muitos.
A analogia (como a “proportio”, que é uma analogia de proporção) é uma síntese da semelhança e da diferença.
O ser, ontologicamente considerado, como também onticamente, não é unívoco, porque diferenças de ser são ainda ser; não é equívoco, porque haveria multiplicidade do
ser, o que não há. Esta afirmação é predominante na filosofia.
O ser é, portanto, análogo; afirmam, entre muitos, os tomistas.
A parte, como ser, é análoga ao Todo.
Para efetuar-se a análise dialética que empregue a analogia, é necessário, prèviamente, efetuar-se a comparação. A analogia é uma relação que se esquematiza através do espírito, mas que corresponde a uma relação em que se encontram os fatos observados, relação que se dá, quer no mundo real-físico (exterior) quer no mundo mental, por meio de comparações entre um fato real e uma idéia, ou entre idéias.
Santos Método Analógico – ANALOGIA E MÉTODO ANALÓGICO
Santos Tema Analogia – ANÁLISE DO TEMA DA ANALOGIA