Quando Platão diz da música e da astronomia que são duas ciências irmãs (República, VII, 530 d), fala como alguém para quem a doutrina de Pitágoras não devia guardar muitos segredos. Eis uma passagem de Tião de Esmima que nos permite compreender o que deve entender-se por «harmonia das esferas celestes»; «Relativamente à posição e à ordem das esferas ou dos círculos em que se transportam os planetas, eis a opinião de certos Pitagóricos. O círculo da Lua é o mais próximo da Terra, o de Mercúrio é o segundo acima, depois vem o de Vênus, o do Sol é o quarto, vêm em seguida os de Marte e Júpiter, o de Saturno é o último e o mais próximo das estrelas. Eis o que declara Alexandre da Etólia […] :
As sete esferas dão os sete sons da lira e produzem uma harmonia (isto é, uma oitava) por causa dos intervalos que os separam dois a dois.
Segundo a doutrina de Pitágoras, sendo o mundo ordenado harmoniosamente, os corpos celestes, que estão distanciados dois a dois segundo as proporções dos sons consonantes, produzem, pelo seu movimento e pela velocidade da sua revolução, os sons harmônicos correspondentes.»1 O mundo é como uma lira de sete cordas. Deste modo, para os Pitagóricos, a escala é um problema cósmico e a astronomia uma teoria da música celeste. (Jean Brun, “Pré-Socráticos”)
TIÃO DE ESMIRNA, Exposition des connaissances mathématiques utiles pour la connaissance de Platon, trad. J. Dupuis, Paris, 1892; reed. Brux. 1966, p. 227. ↩