(gr. proairesis; in. Decision; fr. Decision; al. Entscheidung ou Entschlossenheit; it. Decisione).
1. Esse termo corresponde ao que Aristóteles e os escolásticos chamavam de escolha, ou seja, o momento conclusivo da deliberação no qual se adere a uma das alternativas possíveis. Aristóteles definiu a escolha como “uma apetição deliberada referente a coisas que dependem de nós” (Et. nic, III, 5, 1113 a 10, ‘); em sentido determinista, Spinoza identificou a decisão com o desejo ou “determinação do corpo”, que pode ser deduzida por meio das leis do movimento e do repouso (EL, III, 2, scol.). Mas, livre ou determinada, a decisão é constantemente entendida pelos filósofos como o ato de discriminação dos possíveis ou de adesão a uma das alternativas possíveis. É, portanto, um ato antecipatório e projetante, no qual o futuro é de certo modo determinado. Esses caracteres são elucidados por Heidegger, para quem a decisão é “o projeto e a determinação clara que, cada vez, abrem as possibilidades efetivas”. Mas, para Heidegger, há uma só decisão autêntica: a que orienta, não para as possibilidades da existência cotidiana (que, em última análise, são impossibilidades), mas para a possibilidade própria e certa da existência, isto é, a possibilidade da morte. Essa decisão autêntica não é senão “o tácito e angustiante autoprojetar-se sobre o mais próprio ser culpado”; ou ainda “aquilo de que o cuidado se acusa e, enquanto cuidado, a possível autenticidade de si mesmo” (Sein und Zeit, § 60). Isso significa que a decisão autêntica coincide com a compreensão da existência humana como possibilidade da morte, isto é, como impossibilidade (v. existencialismo; possibilidade).
2. Na lógica contemporânea, um problema de decisão é o problema de encontrar um procedimento efetivo ou algoritmo (isto é, um procedimento de decisão) graças ao qual se possa determinar, para uma fórmula qualquer de dado sistema, se essa fórmula é um teorema ou não, ou seja, se pode ser provada ou não (cf. Church, Introduction to Mathematical Logic, § 15). [Abbagnano]
A influência que o conhecimento, enquanto médium dos motivos, tem não só sobre a vontade mas também sobre o seu aparecimento em ações fundamenta também a diferença capital entre o agir do homem e o do animal, na medida em que o modo de conhecimento de ambos é diverso. De fato, o animal possui apenas representações intuitivas, o homem, devido à [384] razão, ainda possui representações abstratas, conceitos. Embora animal e homem sejam determinados por motivos com igual necessidade, o homem, entretanto, tem a vantagem de uma DECISÃO ELETIVA. Esta amiúde foi vista como uma liberdade da vontade em atos individuais; contudo, é apenas a possibilidade de um conflito duradouro entre vários motivos, até que o mais forte determine com necessidade a vontade. Para isso os motivos têm de ter assumido a forma de pensamentos abstratos, pois só por estes é possível uma deliberação propriamente dita, isto é, uma avaliação de fundamentos opostos para o agir. No caso do animal, a escolha só pode se dar entre motivos presentes intuitivamente; por conta disso, está limitada à esfera estreita de sua apreensão atual e intuitiva. Por conseguinte, a necessidade na determinação da vontade pelo motivo, igual àquela no efeito pela causa, só pode ser exibida intuitiva e imediatamente nos animais, porque aqui o espectador tem os motivos tão imediatamente diante dos olhos quanto o seu efeito, enquanto nos homens os motivos quase sempre são representações abstratas, inacessíveis ao espectador, sendo que até mesmo ao agente é ocultada a necessidade do seu efeito por detrás do conflito delas. Apenas in abstracto podem várias representações se encontrar na consciência uma ao lado da outra, como juízos e séries de conclusão, e, então, fazer efeito reciprocamente, livres de qualquer determinação temporal, até que a mais forte domine as restantes e determine a vontade. Eis aí a perfeita DECISÃO ELETIVA, ou capacidade de deliberação, uma vantagem do homem em face dos animais, devido à qual se lhe atribuiu a liberdade da vontade, na suposição de que seu querer era um mero resultado das operações do intelecto, isento de um impulso determinado a lhe servir de base; quando, em verdade, a motivação só faz efeito se fundamentada, e sob a pressuposição de um impulso determinado, que no seu caso é individual, ou seja, um caráter. Uma exposição detalhada dessa capacidade de deliberação e da diferença entre o arbítrio animal e humano por ela produzidos se encontra no meu Os dois problemas fundamentais da ética (I.ed., p.35 e ss.), ao qual portanto remeto aqui o leitor. Ademais, semelhante capacidade de deliberação no homem também pertence às coisas que tornam a sua existência tão mais atormentada que a do animal; pois em geral nossas grandes dores não se situam no presente, como representações intuitivas [385] ou sentimento imediato, mas na razão, como conceitos abstratos, pensamentos atormentadores, dos quais os animais estão completamente livres, pois vivem apenas no presente, portanto num estado destituído de preocupação e digno de inveja. [SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. Primeiro Tomo. Tr. Jair Barboza. São Paulo: Editora UNESP, 2005, p. 384-386]