Dizer que qualquer coisa que pensemos deve existir: isto pode não soar a mais prática afirmação a fazer. Então, precisamos ver o que realmente significa.
Construímos um muro entre o pensamento e a realidade.
Durante toda a nossa vida, medimos nossos pensamentos contra o que parece ser a realidade do mundo externo. Decidimos chamá-los ineficazes, sem propósito, imaginativos, irreais; ou apropriados, frutíferos, construtivos, realizáveis.
Com Parmênides, todas essas distinções caem.
Para ele, qualquer pensamento é sobre algo que existe: é parte tão real, tão perfeita da realidade, quanto qualquer outra. Seu critério de retidão não jaz em sua relação com um mundo externo sólido, concreto e objetivo – mas em sisi mesmo.
Todo pensamento é sua própria validação. Não precisa de confirmação fora dele. O que seja que somos capazes de pensar é verdade.
E o mais fascinante é ver como as pessoas reagem a isso. Os estudiosos correm tolamente para qualificar o que Parmênides diz. Eles afirmam que, quando ele fala sobre pensar, não está apenas falando sobre qualquer tipo de pensamento, mas sobre o pensamento correto, o bom pensamento, o pensamento verdadeiro – sobre pensamentos que têm um relacionamento genuíno com a realidade.
Mas não é isso que ele está dizendo. Ele não está falando sobre qualquer tipo particular de pensamento: ele está se referindo a todo e qualquer pensamento que tenhamos.
Absolutamente tudo está incluído. E é por isso que a mensagem da deusa é tão difícil de entender. Seria muito confortável para nossas mentes se ela discriminasse; distinguir entre o pensamento certo e o errado, útil e inútil, bom e ruim. Mas não há nada disso.
A própria deusa é totalmente cruel em sua generosidade. O que seja que você pense, existe.
É tão importante ver quanto dependemos da discriminação – quanto precisamos emocionalmente, intelectualmente, espiritualmente – e como Parmênides a destrói. Aqui está o fundador da lógica, o homem a quem alguém poderia esperar buscar distinções claras: processos formais de exclusão e rejeição.
Mas ele não dá. Tudo o que ele rejeita é o que não existe, e nada não existe.
À nossa maneira, muito particular, cada um de nós está sempre procurando orientação; por instruções sobre como pensar e o que não pensar. Mas com Parmênides, somos confrontados com tudo – com direção que nos levará além de qualquer direção. Somos forçados a seguir um caminho que leva a todos os lugares. E não há respostas, nem esclarecimentos.
Ser verdadeiramente guiado pelo que ele diz é descobrir que não há nada, exceto o que é: é segui-lo para o que, para nossas mentes discriminadoras, são oceanos de confusão, ondas de perplexidade. A princípio, podes pensar que, com a sólida ajuda de suas palavras, podes tocar em terra firme. Porém, quanto mais tentas, mais se mantém um pouco além do seu alcance. O deserto do raciocínio se torna uma miragem dentro do oásis de sentido impensável.
E há um truque aqui, uma grande ironia que só pode ser apreciada se realmente tomares a deusa nas palavras dela.
O truque é que, no momento em que aceitas todos os pensamentos como igualmente verdadeiros e também vês a verdade disso, todo o pensamento se desvanece em irrelevância. É simplesmente uma reação de medo tentar fingir que Parmênides está preocupado com o pensamento correto, o pensamento bom ou preciso, porque isso pelo menos nos dá um objetivo de continuar pensando nosso caminho em direção a algo. A ironia é que, ao aceitar todos os pensamentos, ele está realmente nos levando além do pensamento: mostrando-nos que não importa, ajudando-nos a deixar tudo para trás.
Ao dizer que tudo o que podemos pensar é verdade, ao recusar-se a discriminar entre pensamento e pensamento, a deusa indica que, em última análise, ela não está preocupada com os pensamentos.
Não há como entender isso tentando pensar ou resolver o problema, porque o que seja que aconteça, pensar sobre isso será verdade. Não há pensamento sobre pensamento, porque dessa maneira se cai diretamente no mundo do pensamento que se está tentando definir. Não há discussão, porque se está apenas discutindo consigo mesmo.
A única maneira possível de entender é recuar na quietude que está por trás do pensamento e ver as coisas como realmente são. É como assistir a centenas de cores, cada uma tentando convencê-lo de que é a mais importante – depois recuando e vendo que todas formam um único arco-íris. Pensamentos em si mesmos estão sempre levando à divisão e separação. Mas todos os pensamentos, juntos, são um todo.
Nós somos nosso próprio inimigo. Tudo é um. E não há necessidade de lutar por nada, porque tudo o que pensamos já existe: nada a cumprir, nada a temer.
Pensar é o domínio de tudo o que sabemos, ou pensamos que sabemos. E este fim da discriminação é o fim de toda sabedoria, o fim da filosofia – e também o seu começo. É onde tudo para o qual trabalhamos ou tentamos trabalhar por nós mesmos se torna inútil.
E é aí que o profeta entra, trazendo notícias impossíveis de outro mundo.