Face a tudo isso, não me parece haver alternativa senão considerar o caminho como a própria meta, os meios como fins em si mesmos, as ações que têm em vista um resultado como o próprio resultado, a árvore como o próprio fruto. O que nos deveria interessar não é “o que vem depois”, mas o presente. O que nos deveria mover não é a astúcia, mas a atenção. Isto pode ser paradoxal, mas não vejo outra maneira de compreender o que há de errado com a chamada “Questão das Metodologias”. O que se vem chamando de “método” simplesmente não é real, é uma ilusão. Não há caminho para atingir uma meta, porque não há “caminho-para…”, só há caminho, tout court. Todos os meios são fins em si.
Como já disse, não posso estar atento ao que está separado de mim pela imensa — e normalmente tirânica — distância de um “método”. E muito menos atento estarei ainda se o próprio método, ou caminho, é o que eu penso que tenho que descobrir, ou inventar. Tenho que descobrir as causas, tenho que descobrir o valor da árvore. Mas eu jamais poderei compreender as causas a partir dos efeitos, ou o valor da árvore pelo sabor dos frutos da ação, ou o valor dos meios a partir dos fins, ou o valor dos métodos a partir dos seus resultados, ou qual é o caminho, a partir do lugar para onde imagino que o caminho vai. Vários caminhos levam a Roma? Ou todos? Mas como tornar essa questão algo não trivial?
A chamada “problemática metodológica” trai uma distração sistemática a nos afastar do presente, uma fuga da realidade. O esquema tradicional de racionalidade não nos leva a lugar nenhum. Tente invertê-lo! Em vez de pôr o caminho no lugar da conclusão, considere-o a premissa, e veremos logo que perdemos de vista a noção de “meta”. Na verdade o caminho é a meta, e não “conduz” a ela. Não é o caminho que leva a Roma, Roma é que é o caminho. A philia jamais poderia ser o caminho para a sophia, a amizade, por mais competente, jamais poderia ser o caminho para a Sabedoria, se não fôssemos, desde sempre, essencialmente sábios. Conhecer não é adquirir. Conhecer é despojar-se do que nos torna ignorantes. Se o método é conhecer-nos a nós mesmos, é porque nós mesmos somos o método, nós mesmos somos o caminho. Não podemos caminhar para onde jamais deixamos de estar. O método filosófico não é, nem a dialética, nem a análise, nem a síntese, nem a hermenêutica, nem a “suspensão” fenomenológica, nem qualquer “positivação” do desejo. É a pergunta sustentada, energizada, por quem sou eu, a pergunta que se dissolve por si mesma, porque não tem resposta. O resultado é nulo. Só o vazio produz bons frutos.