I — O ego é primeiramente uma síntese consciente de infinito e de finito, que se relaciona consigo mesma e cujo fim é tornar-se ela mesma, o que só pode fazer relacionando-se com Deus, que a colocou como síntese. Salvar-se é tornar-se si mesmo em suas relações com Deus. Este tornar-se si mesmo é certamente um vir-a-ser concreto, que não se pode cumprir nem só num, nem só noutro dos termos da antítese, senão se estabelece a desarmonia, o desespero, pela negação do finito, ou do infinito. O (…)
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eleito etc
hieros / ἱερός / sacer / sagrado / chrisma / χρῖσμα / unção / ungido / ἐκλεκτός / eklektos / eleito / ἐκλέγω / eklego / eleger / hiereis / sacerdotes / hierophantes / ἱεροφάντης / pontifex / hierofante
Segundo a etimologia, sagrado (latim sacer) vem do radical sak, que se encontra em hitita e, provavelmente, em germânico assim como em latim e em grego. Sacer contém principalmente a ideia de separação.
gr. hiereîs kaì hiérai = sacerdotes e sacerdotisas. ë uma magistratura, com exceção dos sacerdócios hereditários. Os "verificadores" são afetos aos cultos de Apolo e do Sol. Idade mínima de 60 anos, designados por sorteio, submetidos a exames físicos, de nascimento e de pureza, para desempenhar o papel por um ano.
Teognostos
28. Assim como uma moeda que não leva a imagem do rei não pode ser colocada no tesouro real com as outras, também com o conhecimento espiritual e a apatia não se pode receber um sabor da benção divina e partir com coragem e confiança deste mundo para tomar seu lugar entre os eleitos no próximo. Por conhecimento espiritual, não quero dizer sabedoria, mas esta percepção inequívoca de Deus e das realidades divinas através das quais o devoto, não mais levado pelas paixões, é alçado ao estado divino pela graça do Espírito.
62. Devo dizer algo de estranho, mas não se surpreendam por isto. Se falhares em alcançar a apatia por causa das predisposições te dominando, mas na hora de tua morte estiverdes nas profundezas da humildade, serás exaltado acima das nuvens não menos que o homem que é desapaixonado. Pois mesmo se o tesouro daqueles que são desapaixonados consiste em todas as virtudes, a pedra preciosa da humildade é mais valiosa do que todas elas: ela traz não só propiciação com o Criador, mas também entrada com os eleitos na câmara nupcial de Seu Reino.
Roberto Pla
O “eleito de Deus” é o termo com que muitos primeiros cristão designavam o espírito do homem, o Filho do Homem, criado no sexto dia (vide Evangelho de Tomé - Logion 49 e Pedro).
Como diz o apóstolo Pedro, o qual quanto à pedra angular foi um testemunho de descobridor, “vós, quais pedras vivas — eleitas — entrais na construção de um edifício espiritual”. Simão Pedro teve, com efeito, o primeiro sinal da presença, pois isso é o que significava, segundo a vertente oculta, sua exclamação: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Por essa revelação que só vem do Pai, pois está reservada aos limpos de coração que podem receber a Palavra ardente em sua câmara, foi constituído em membro da assembleia dos eleitos sobre o qual não prevalece a morte, pois não há morte para a consciência unificada com o Filho do homem, o morador eterno.
O eleito não aparta seu olhar da presença para que esta cresça e se fortifique nele. Sumido na vaga claridade da intuição primeira, presente, além da névoa, que pouco a pouco se dissipa, o novo caminho, que se revela ao mesmo tempo como a verdade. Ninguém afasta dele as “dores da iluminação”. Como a um novo filho de Jonas, o esperam três dias e três noites no ventre de seu peixe peculiar, quer dizer essa “grande tribulação”, cujos dias se abreviam para o eleito.
Ao final, tudo há de confluir no encontro do Reino. As chaves daquelas portas as tem o morador e este as entrega porque já são de ambos. O psíquico, vindo da terra, e o pneumático, baixado do céu, não são duas consciências separadas, senão que purificado o primeiro e reconhecido o segundo, são uma só consciência. A dualidade que sobreveio pelo dois moradores, terminou. No cosmos de um eleito, céu e terra marcham como par em formosa correspondência sem fronteiras. Por isso diz Jesus ao eleito: “o que ates na terra ficará atado nos céus e o que desates na terra, ficará desatado nos céus” (Mt 16,9).
Os eleitos da parábola das Bodas Reais são os comensais que como último ato de mutação gloriosa preparada por Deus para o homem, descreve Mateus reunidos na sala do festim nupcial. As almas que ali tomam seu lugar são todas virginais pois passaram pela purificação dos dois batismo de batismos de água e de fogo; o primeiro, como lavado da alma e o segundo, em línguas ardentes do conhecimento da unidade, enviadas pelo Espírito Santo (v. Pentecostes). Durante este difícil processo de katharsis, dois terços dos componentes (psíquicos) da alma — ao dizer de Zacarias (13, 8-9) — se perdem, se diluem, graças à ação transformadora (metanoia) da água (psíquica), pois na realidade só resultaram ser palha propícia para ser levada pelo vento da era; e o outro terço, o “Resto” de salvação, é purgado no fogo “como se purga a prata” e provado como “se prova o ouro”. A prata da qual fala o profeta é a alma, o homem psíquico que é sempre constituído em “chamado” desde o momento em que vem ao mundo, e o ouro, é o espírito, que “mora na mesma casa” que a alma, ignorado por esta, mas sempre disposto a enviar desde sua habitação de acima sua ondas de fogo, para que mediante a ação purificadora destas a alma e o espírito se autodescubram mutuamente e iluminem a bem-aventurança do ato nupcial.
Este encontro de que falamos, a união mística entre o esposo (o espírito) e a esposa (a alma), se costuma descobrir como revestimento espiritual acontecido na alma. Assim o explica Hermas, o autor do Pastor de Hermas: “As virgens são (uma vez unidas com o esposo) espíritos santos, e não há outro modo de que entre o homem no reino de Deus, senão revestindo-se (a alma) da vestimenta (do espírito)”.
Estar unidos se explica na alegoria como revestir-se, e esta é a vestimenta nupcial, branca e imaculada que converte a alma, uma dos muitas chamadas, nessa perfeição gloriosa de alma e espírito, tudo um, que é um Eleito, apto para receber o alimento de boda e ter acesso ao tálamo celestial. Por isto está dito: “Em toda estação sejam tuas roupas brancas” (Eclesiastes 9,8).
Nenhuma alma “não revestida” tem acesso à sala de bodas. Os que ali entram são aqueles chamados (almas) que já estavam no Caminho e que contemplaram seu revestimento catártico de imortalidade e remissão de pecados até o ponto de eleição. Há que pensar por isso que se Mateus aponta ali a presença de um comensal sem traje de bodas, é somente para alertar acerca da necessidade de tal cumprimento.
Na linguagem mítica que habitualmente adota o relato testamentário, se diz que estas bodas vêm significadas pela união dos filhos de Deus (espíritos santos), com as filhas dos homens, as almas que tomam vida na terra; mas em um sentido mais pleno poderíamos dizer que este é o encontro dos componentes psíquicos do homem com sua própria essência. De fato, este é um mistério, porque a essência ou núcleo do homem é o homem mesmo, o si mesmo de todo homem, quer dizer, o conhecedor, que por ser isso sempre e precisamente, o conhecedor, não pode ser conhecido, dado que não há outro conhecedor que o possa conhecer. Quem, com efeito, poderia conhecer ao conhecedor?
Quanto ao revestimento que se opera na alma mediante sua katharsis, consiste em que o “Resto” que subsiste nela após a purgação, se faz um — por identidade — com o espírito ou essência. A esta transformação se refere a passagem das Bodas de Caná quando se fala da conversão da água (psíquica) no vinho (pneumático).
Em outros termos, também míticos, se costuma dizer que a alma, contada como feminina por sua índole passiva, se converte em varão por suas bodas com o espírito. Sobre isto há um texto dos Naassenos: “Na Casa de Deus, entram — diz — aqueles que chegam a lançar de si as vestimentas (impuras). Então, se convertem em esposos, feitos varões mediante o espírito virginal”. (Evangelho de Tomé - Logion 64)