Página inicial > Termos e noções > ekousion

ekousion

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  
Caeiro

εκούσιον-ακούσιον são termos traduzidos respectivamente por «voluntário/involuntário». A designação não deixa de ser, contudo, um anacronismo. Aristóteles   não conhece a vontade como os modernos a definem. Ter-se-á, portanto, de ter presente que os termos gregos querem dizer respectivamente de bom grado e de mau grado. E nesse sentido que agimos contra a nossa vontade ou de livre vontade e com gosto. Aristóteles define ainda uma outra categoria de atos congêneres destes. Trata-se de atos não voluntários, isto é, feitos sem querer e perpetrados sem uma plena capacitação das suas consequências. [CaeiroEN  :289 Nota]


Brisson  

« Volontaire » traduit ici le grec ekoúsion. C’est un texte d’Aristote qui sous-tend ce passage : « on admet d’ordinaire qu’un acte n’est pas volontaire (akoúsion) quand il est fait sous la contrainte, ou par ignorance » (Éthique à Nicomaque III 1, 1109b35-1110a1). Plotin   renverse cette proposition pour définir ce qui est fait volontairement : c’est ce qui est fait sans contrainte et avec science (voir aussi la définition de ce qui est fait volontairement en Éthique à Nicomaque V 10, 1135a23-25 ; Éthique à Eudème II 6). Plotino - Tratado 39,1 (VI, 8, 1) — Exposição do objeto da pesquisa


Cet exemple renvoie à l’histoire d’Œdipe, qui a assassiné le roi de Thèbes, Laïos, sans savoir qu’il s’agissait de son père. Plotin reprend ici, encore une fois, Aristote : « il peut se faire que la personne frappée soit par exemple le père de l’agent et que celui-ci tout en sachant qu’il a affaire à un homme ou à l’une des personnes présentes ignore que c’est son père. […] Dès lors, l’acte fait dans l’ignorance ou même fait en connaissance de cause mais ne dépendant pas de nous ou résultant d’une contrainte, un tel acte n’est pas volontaire » (Éthique à Nicomaque V 8, 1135a28-33). Plotino - Tratado 39,1 (VI, 8, 1) — Exposição do objeto da pesquisa
Aristóteles

Involuntárias [akousios] são, assim, aquelas acções [praxis] que se geram sob coacção [bia = violência] ou por ignorância [agnoia]. Um acto perpetrado sob coacção é [1110a] aquele cujo princípio (motivador) lhe é extrínseco. Um princípio [arche] desta natureza é tal que o agente, na verdade, passivo, não contribui em nada para ele. Como se ventos ou homens poderosos o levassem para qualquer sítio. Mas determinar se as acções praticadas por medo de males maiores ou em vista de algo glorioso — por exemplo, se alguém se vê obrigado a praticar um acto vergonhoso por um tirano que ameaça de morte os seus pais e filhos, mantidos reféns, e ao mesmo tempo promete salvá-los, se a ordem for executada — são acções involuntárias ou voluntárias [ekousios] envolve controvérsia. [...] As características do ser «voluntário» e «involuntário» só podem ser determinadas em função do tempo em que [1110a15] a acção é executada. Ora só quem se encontra em determinadas circunstâncias é que age, de facto, voluntariamente. Isto é, quando tem em si próprio o princípio (motivador) da acção, accionando assim os elementos instrumentais da acção. Quando o princípio motivador se encontra no próprio agente, é dele que depende o serem levadas à prática ou não. Acções deste género são, pois, voluntárias, mesmo que resultem da força das circunstâncias. Ainda assim, podem, por outro lado, ser consideradas involuntárias, porque, noutras circunstâncias, ninguém teria decidido levá-las à prática. (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro III, Capítulo I. Tr. António Caeiro)



LÉXICO: voluntarismo