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Cavell (1979) – Se a filosofia é a crítica que uma cultura...

(Cavell1979)

Se a filosofia é a crítica que uma cultura produz dela mesma, e se procede essencialmente criticando os esforços feitos no passado para se chegar a tal crítica, a originalidade de Wittgenstein reside no fato de ele haver desenvolvido modalidades de crítica que não são moralistas, isto é, que não permitem ao crítico imaginar que ele mesmo está isento das falhas que vê a seu redor, e que operam não pela tentativa de estabelecer a falsidade ou o erro de um dado enunciado, mas mostrando que a pessoa que formula uma afirmação não sabe realmente o que quer dizer, não disse realmente o que queria. Entretanto, uma vez que a reflexão atenta a respeito de si mesma, o exame e a defesa tão rigorosos quanto possível da própria posição, sempre fizeram parte do impulso que leva à filosofia, a originalidade de Wittgenstein não consiste na criação do impulso, mas na descoberta de meios que permitem impedi-lo de provocar com igual facilidade seu próprio malogro, de meios de torná-lo metódico. Foi esse o avanço feito por Freud em relação às intuições dos que o haviam precedido na busca do autoconhecimento, a exemplo de Kierkegaard, Nietzsche e os poetas e romancistas que ele disse terem sido seus precursores.

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