Página inicial > Termos e noções > Theosophos

Theosophos

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Segundo Antoine Faivre, o teósofo parte sempre de um dado revelado, aquele de seu mito — por exemplo, o relato da Criação no início do Gênesis — do qual faz brotar ressonâncias simbólicas pela virtude de sua imaginação ativa (vide Henry Corbin). Pensa assim penetrar os mistérios do universo e relações que unem este mistério com o homem e o mundo divino. Compreendida como via de salvação individual, a gnose implicava já uma ideia de "penetração"; mas tratava-se desta feita de descer não mais somente em si, esta cathabasis ou anabasis devendo se efetuar também nas profundezas do divino mesmo, e da Natureza. Esta aspira a uma libertação a qual o homem detém a chave. Do Corpus Hermeticum   alexandrino (Hermetismo), o esoterismo ocidental conservou o princípio segundo o qual a "mens" do homem sendo de origem divina, a organização divina do universo nela se encontra: nossa "mens" é de natureza idêntica àquela dos governantes estelares do universo que descreve o Poimandres  , logo àquela dos reflexos e projeções destes no mundo mais concreto que nos cerca. E a Deidade, "repousa nela mesma" — como diz Boehme  , quer dizer que habita em sua absoluta transcendência —, ao mesmo tempo sai dela mesma. Deus é um tesouro oculto que aspira ser conhecido; deixa-se revelar parcialmente em se desdobrando no seio de uma esfera ontológica, situada em nosso mundo criado e no "inconhecível", que será o lugar de reencontro entre ele e a criatura. Assim se acham reconciliadas a transcendência e a imanência.

Sob o real, o teósofo busca o sentido oculto dos números ou hieróglifos da natureza, demanda inseparável de um mergulho intuitivo no mito ao qual adere por sua fé, e do qual sua imaginação ativa faz brotar ressonâncias prontas a organizar em buquês de sentido. As vezes parte de uma reflexão sobre as coisas para compreender Deus, as vezes se esforça em apreender o devir do mundo divino — sua questão não é "an sit Deus", mas "quid sit Deus" —, para compreender o mundo de uma mesma pegada e possuir assim a visão íntima do princípio da realidade do universo e de seu devir. Os aspectos do mito sobre os quais ele acentua se encontram naturalmente entre aqueles que as Igrejas constituídas tendem a negligenciar ou ficar em silêncio: natureza das quedas de Lúcifer e de Adão, o Adão andrógeno, Sofiologia  , aritmosofia...
Entende-se por teósofo o indivíduo amigo de Deus e da Sabedoria.

O verdadeiro teósofo não negligencia nenhuma das inspirações que Deus lhe envia, revelando-lhe as maravilhas de suas obras e de seu amor, a fim de que ele inspire esse amor aos seus semelhantes por seu exemplo e por suas instruções. Digo o verdadeiro teósofo: pois todos aqueles que se ocupam somente da teosofia especulativa não são por isso teósofos, mas podem esperar vir a ser, caso desejem verdadeiramente e caso persistam na resolução que tomaram de seguir as virtudes do Reparador, depositando nele toda a sua confiança. Um verdadeiro teósofo é, portanto, um verdadeiro cristão, do mesmo modo como podemos nos convencer por sua doutrina, que é a mesma. Essa doutrina baseia-se nas relações eternas existentes entre Deus, o homem e o universo. E essas bases se encontram em seguida confirmadas pelos livros teogônicos de todos os povos e sobretudo pelas santas escrituras explicadas segundo o espírito e não segundo a letra.

Os teósofos firmes em seus princípios não variam, não debatem contraditoriamente. Esforçam-se para convencer pelo raciocínio e pelos fatos. Se não o conseguem, guardam o mais profundo silêncio e lamentam os erros que ofuscam o espírito de seus semelhantes; pedem a Deus que os ilumine e os disponha a receber a verdade: pois a verdade impõe por si mesma sua evidência, é necessário somente que os espíritos estejam preparados para recebê-la.

Dessa forma, vê-se que os teósofos não formam nenhuma seita; eles não procuram de modo algum formar prosélitos e não se comportam nunca como sectários; advogam abertamente em seus escritos, e quando a oportunidade se dá, a causa da verdade. E, na verdade, pode-se denominar sectários os sábios que, em todos os tempos, têm provado até a evidência, por seus discursos e por suas ações, serem verdadeiramente os amigos de Deus  ?

A unidade e a firmeza de seus princípios deveriam também fazer distinguir os filósofos, cuja diversidade de opiniões inspira naturalmente a desconfiança de seus diferentes sistemas e, pode-se até dizer, da palavra filosofia, da qual se tem tanto abusado até o presente. Pois a filosofia, tomada em geral, encerra em seu seio todas as verdades conhecidas e também contém em si os erros mais perigosos. Lamentemos aqueles que a ela se entregam inconsideradamente, sem terem recebido o resplendor que somente a Sabedoria eterna pode dar, quando recorremos a ela com sinceridade, seja para nos iluminarmos em nossas trevas, seja para iluminar depois nossos semelhantes, caso essa Sabedoria nos julgue dignos. Um dos amigos de M. de Saint-Martin  .

VIDE: Henry Corbin sobre os "theosophos"; Theologia Germanica