Página inicial > Ortega y Gasset, José > Ortega y Gasset (MQ) – sou eu e minha circunstância

Ortega y Gasset (MQ) – sou eu e minha circunstância

sexta-feira 24 de julho de 2020

  

tradução

O homem rende o máximo de sua capacidade quando adquire a plena consciência de suas circunstâncias. Por elas comunica com o universo.

A circunstância! Circum-stantia! As coisas mudas que estão em nosso próximo arredor! Muito perto, muito perto de nós, levantam suas tácitas fisionomias com um gesto de humildade e de anseio, como carentes de que aceitemos sua oferenda e, ao mesmo tempo, envergonhadas pela aparente simplicidade de seu donativo. E andamos entre elas cegos para elas, olhar fixo em remotas empreitadas, projetados para a conquista de longínquas cidades esquemáticas.

[...]

A cultura nos proporciona objetos já purificados, que antes foram vida espontânea e imediata, e hoje, graças ao trabalho reflexivo, parecem livres do espaço e do tempo, da corrupção e do capricho. Formam como uma zona de vida ideal e abstrata, flutuando sobre nossas existências pessoais, sempre azarentas e problemáticas. Vida individual, o imediato, a circunstância, são diversos nomes para uma mesma coisa: aquelas porções da vida de que não se extraiu todavia o espírito que encerram, seu logos.

E, como espírito, logos não são mais que "sentido", conexão, unidade; todo o individual, imediato e circunstante parece casual e desprovido de significação.

[...]

Temos de buscar a nossa circunstância, tal e como ela é, precisamente no que tem de limitação, de peculiaridade, do lugar acertado na imensa perspectiva do mundo. Não nos determos perpetuamente em êxtase ante os valores hieráticos, senão conquistar a nossa vida individual o posto oportuno entre eles. Em resumo: a reabsorção da circunstância é o destino concreto do homem.

[...]

Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo eu. Benefac loco illi quo natus es [Bendize o lugar em que nascestes], lemos na Bíblia. E na escola platônica se nos dá como empreitada de toda cultura, isto: "salvar as aparências", os fenômenos. Quer dizer, buscar o sentido do que nos rodeia.

Original

El hombre rinde el máximum de su capacidad cuando adquiere la plena conciencia de sus circunstancias. Por ellas comunica con el universo.

¡La circunstancia! ¡Circum-stantia! ¡Las cosas mudas que están en nuestro próximo derredor! Muy cerca, muy cerca de nosotros levantan sus tácitas fisonomías con un gesto de humildad y de anhelo, como menesterosas de que aceptemos su ofrenda y a la par avergonzadas por la simplicidad aparente de su donativo. Y marchamos entre ellas ciegos para ellas, fija la mirada en remotas empresas, proyectados hacia la conquista de lejanas ciudades esquemáticas.

[...]

La cultura nos proporciona objetos ya purificados, que alguna vez fueron vida espontánea e inmediata, y hoy, gracias a la labor reflexiva, parecen libres del espacio y del tiempo, de la corrupción y del capricho. Forman como una zona de vida ideal y abstracta, flotando sobre nuestras existencias personales, siempre azarosas y problemáticas. Vida individual, lo inmediato, la circunstancia, son diversos nombres para una misma cosa: aquellas porciones de la vida de que no se ha extraído todavía el espíritu que encierran, su logos.

Y como espíritu, logos no son más que «sentido», conexión, unidad; todo lo individual, inmediato y circunstante parece casual y falto de significación.

[...]

Hemos de buscar a nuestra circunstancia, tal y como ella es, precisamente en lo que tiene de limitación, de peculiaridad, el lugar acertado en la inmensa perspectiva del mundo. No detenernos perpetuamente en éxtasis ante los valores hieráticos, sino conquistar a nuestra vida individual el puesto oportuno entre ellos. En suma: la reabsorción de la circunstancia es el destino concreto del hombre.

[...]

Yo soy yo y mi circunstancia, y si no la salvo a ella no me salvo yo. Benefac loco illi quo natus es, leemos en la Biblia. Y en la escuela platónica se nos da como empresa de toda cultura, esta: «salvar las apariencias», los fenómenos. Es decir, buscar el sentido de lo que nos rodea.

[Excerto de ORTEGA Y GASSET  , José. Meditaciones del Quijote (epub)]


Ver online : Meditaciones del Quijote