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Ogigia

quinta-feira 25 de janeiro de 2024

  

Perenialistas
Pierre Gordon  : Gordon Imagem Mundo - A IMAGEM DO MUNDO NA ANTIGUIDADE

A oeste, a Ogigia, de Calipso, onde Ulisses estadia sete anos (parte somente ao longo do oitavo ano) é igualmente uma «ilha de mulheres», mais associada à Ilha de Atlas, o que nada tem de surpreendente, posto que Calipso é a filha de Atlas (Hesíodo   fará dela uma filha de Oceano, o que salientará ainda mais seu caráter). Sua posição pode ser precisada da maneira seguinte: Ulisses nos é apresentado olhando a Ursa Maior - Grande Ursa, que, nestas paragens, jamais desce sob a terra nem toca o horizonte; estamos portanto em país nórdico; Plutarco   indica por outro lado que em Ogigia só é visível vinte-três horas no momento em que os dias são mais longos; o que eleva a altura da estrela polar para 66 graus; estamos portanto nos confins do Círculo Polar. O escritor grego adiciona que é preciso, para aí alcançar, navegar durante cinco dias à vela a partir da Grã-Bretanha; assinala também que a ilha se estende próximo a um vasto golfo, que é nada menos que o Meotis. Este golfo não poderia ser o Mar Branco (o mar de Kronos, ou Kronius Pontus), posto que se encontra bem mais afastado da Grã-Bretanha do que assinala Plutarco. Não seria impossível finalmente que o Báltico fosse o caso, e que Ogigia tivesse sido simplesmente a Ilha Sombrosa, quer dizer a Escandinávia. O que nos faz lembrar que a Suécia se chamava antigamente Atland. O sueco Rudbeck que em uma grande obra publicada em Upsala em 1675 pretendia que a Suécia era a verdadeira Atlântida, que Upsala era a cidade de Poseidon e que os povos jaféticos tinham aí sua origem, não se enganava portanto sem dúvida de muito. A Escandinávia foi pelo menos uma sucursal e uma cópia de Ogigia.

O que cria dificuldade, é que, segundo Plutarco, para alcançar Ogigia partindo da Grã-Bretanha, era preciso navegar para o oeste, e não para o leste; antes de aí chegar, encontra-se três outras ilhas, em das quais vive Kronos. Diodoro de Sicília fala igualmente de uma grande ilha fértil, coberta de florestas, cortada de rios, e situada no Atlântico. A identificação de Ogigia permanece portanto bem difícil.

Não é menos certo que ela se situa a noroeste, que uma mulher divina aí eleva os homens a imortalidade, e que nas mesmas paragens, se encontram territórios habitados por seres com poderes sobre-humanos. Nada é mais misterioso, a princípio, que o sono que cai sobre Ulisses quando deixa estas regiões (Odisseia   XIII 75-92): ele se deita em sua embarcação; o sono desce sobre suas pálpebras, um sono doce, profundo, delicioso, parecendo de muito perto a morte; «e ele, cuja alma tinha experimentado tantos sofrimentos nos combates e sobre marés agitadas, dorme agora sem medo, esqueceu todos seus males». Não nos deixamos de nos surpreender que o herói que se aproxima de sua querida Ítaca e vai enfim rever os seus, testemunha tamanha despreocupação. Em realidade, Ulisses sai do país das iniciações; e seu sono, — que lhe anunciou Alkinoos  , neto de Poseidon e rei dos Feacianos — e um sono extático, uma morte do domínio dos sentidos; é o sono dos Bem-aventurados.